As incríveis imagens do telescópio James Webb ao alcance de deficientes visuais

Uma pequena equipe de escritores, astrônomos e curadores está produzindo textos alternativos com descrições vívidas e detalhadas das imagens

Crédito: NASA/ ESA/ CSA/ STScI

Nate Berg 6 minutos de leitura

Quando as primeiras imagens do telescópio espacial James Webb foram divulgadas, pessoas do mundo todo puderam ver as maravilhas do espaço profundo. Suas galáxias cintilantes, a poeira cósmica emanada da Nebulosa do Anel Sul e os chamados penhascos cósmicos.

As imagens são deslumbrantes. E através do esforço e dedicação de uma equipe de escritores e cientistas, elas também poderão ser apreciadas por deficientes visuais.

Todas estão recebendo descrições detalhadas em texto alternativo – versão textual de uma imagem reproduzida por um software de leitura de tela usado por pessoas com deficiência visual.

O texto alternativo é uma peça-chave do design inclusivo e da acessibilidade na internet, permitindo que as pessoas consumam conteúdo de várias maneiras. E o projeto para tornar as imagens do telescópio Webb acessíveis vêm recebendo elogios.

A imagem é dividida horizontalmente por uma linha ondulada. Apresenta uma paisagem de nuvens formando uma nebulosa ao longo da parte inferior, com a superior comparativamente mais clara. Em ambas, há um campo estelar, mostrando inúmeras estrelas de vários tamanhos. A menor delas são pontos de luz pequenos, distantes e fracos. A maior parece mais próxima e mais brilhante com picos de difração em oito pontos. A parte superior da imagem é azulada e tem listras finas e translúcidas em forma de nuvem emergindo da nebulosa abaixo. A formação turva alaranjada na metade inferior varia em densidade, indo de translúcida à opaca. As estrelas variam em cor, a maioria delas com uma tonalidade azul ou laranja. A estrutura em forma de nuvem da nebulosa se assemelha a cumes, picos e vales, como uma cadeia de montanhas. Três longos picos de difração na borda superior direita sugerem a presença de uma grande estrela fora do campo de visão (Crédito: NASA/ ESA /CSA/ STScI]

O texto alternativo está sendo escrito no Space Telescope Science Institute (STScI), em Baltimore, no estado norte-americano de Maryland, responsável pelas operações do telescópio Webb em parceria com a NASA.

Uma equipe de cerca de 15 escritores, editores, astrônomos e curadores estão engajados em um processo editorial de análise detalhada das imagens capturadas pelo telescópio. Essa iniciativa visa transformar as informações em texto para torná-las acessíveis a deficientes visuais.

O processo de transformar as imagens em texto é um esforço de design. “Vemos essa escrita como uma solução de engenharia”, diz Margaret Carruthers, vice-gerente de redação e design do Space Telescope Science Institute (STScI). Segundo ela, há vários gráficos extremamente importantes e com muitas informações, mas que ainda são inacessíveis para algumas pessoas.

Veja, por exemplo, esta imagem do Quinteto de Stephan, uma composição de imagens de infravermelho próximo e médio de um aglomerado de cinco galáxias – quatro das quais estão próximas e presas ao campo gravitacional umas das outras. O texto alternativo a descreve assim:

Imagem de um grupo de cinco galáxias que aparecem próximas umas das outras no céu: duas no meio, uma na parte superior, uma na parte superior esquerda e uma na parte inferior. Quatro das cinco parecem se tocar. Uma está um pouco mais distante. Na imagem, as galáxias são grandes quando comparadas às centenas de galáxias muito menores (mais distantes) no fundo. Todas as cinco galáxias têm núcleos brancos brilhantes. Cada uma tem tamanho, forma, estrutura e coloração ligeiramente diferentes. Espalhadas pela imagem, na frente das galáxias estão várias estrelas em primeiro plano com picos de difração: pontos brancos brilhantes, cada uma com oito linhas brilhantes irradiando do centro (Crédito: NASA/ ESA/ CSA/ STScI)

Mas o texto alternativo é apenas uma parte. Quem estiver usando um leitor de tela também terá acesso ao título da imagem, bem como à legenda explicativa que a acompanha e, em alguns casos, até a um comunicado de imprensa.

O objetivo é incluir essas outras formas de texto. Isso envolve criar o que Margaret Carruthers chama de mapa conceitual da imagem.

“Tentamos dar o panorama geral primeiro, depois entramos nos detalhes. Mas constantemente voltamos a esse mapa conceitual para que fique claro sobre o que está sendo falado”, explica.

Duas imagens do mesmo objeto, a Nebulosa do Anel Sul, são mostradas lado a lado. Ambas apresentam fundo preto com pequenas estrelas brilhantes e galáxias distantes. Ambas mostram a nebulosa planetária, que tem um formato oval levemente deformado e uma ligeira inclinação do canto superior esquerdo para o canto inferior direito. À esquerda, a imagem do infravermelho próximo mostra uma estrela branca brilhante com oito longos picos de difração no centro. Uma grande nuvem oval verde-azulada transparente circunda a estrela central. Várias conchas vermelhas cercam a nuvem oval, estendendo-se quase até as bordas da imagem. As camadas vermelhas, que são onduladas no geral, parecem ter linhas retas muito finas que as atravessam. À direita, a imagem no infravermelho médio mostra duas estrelas no centro muito próximas uma da outra. A da esquerda é vermelha, a da direita é azul claro. A estrela azul tem pequenos picos de difração ao seu redor. Uma grande nuvem oval vermelha translúcida envolve as estrelas centrais. Conchas se estendem em uma mistura de cores a partir dela (Crédito: NASA/ ESA/ CSA/ STScI)

Originalmente, o sistema permitia somente descrições curtas das imagens, limitadas a 60 caracteres, o equivalente às últimas dez palavras do texto alternativo acima. Uma atualização aumentou o número para 125 caracteres, mas Carruthers compara essa limitação a um tuíte. “Não é suficiente”, diz ela.

Hoje, o texto alternativo pode ter até 1.024 caracteres, ou cerca de 350 palavras. Escrever uma descrição tão curta já é um grande desafio. Mas criar uma descrição que reflita com precisão o que está na imagem e fazer com que os usuários consigam visualizá-la mentalmente é outro ainda maior.

Nesta imagem, há milhares de pequenas galáxias. Suas cores variam. Algumas têm tons de laranja, enquanto outras são brancas. A maioria possui formato oval difuso, mas algumas têm braços espirais distintos. Na frente das galáxias estão várias estrelas em primeiro plano. A maioria de cor azul. As estrelas brilhantes têm picos de difração, formando uma estrela de oito pontas. Há também muitos arcos finos, longos e alaranjados que se curvam no centro da imagem (Crédito: NASA/ ESA/ CSA/ STScI]

À medida que mais imagens chegam do telescópio espacial durante sua tão aguardada missão, a equipe de escritores, editores e astrônomos continuará esse processo de tradução e interpretação de cada imagem publicada no site do STScI.

É um processo com várias etapas: as imagens capturadas pelo telescópio Webb estão, em grande parte, na seção infravermelha do espectro eletromagnético e, portanto, invisíveis ao olho humano. Elas precisam ser processadas para que possamos vê-las. Em seguida, são processadas novamente para torná-las acessíveis a quem tem deficiência visual.

Carruthers afirma que todo esse processo é para explicar o universo às pessoas. “No mínimo, devemos ser precisos”, diz ela. “Mas acredito que também podemos transmitir a beleza e o encanto do cosmos.”


SOBRE O AUTOR

Nate Berg é jornalista e cobre cidades, planejamento urbano e arquitetura. saiba mais