A reinvenção do hospital pode estar à distância de US$ 750 milhões
Com três hospitais projetados por Renzo Piano em construção, há esperança de voltar a humanizar o sistema de saúde da Grécia
Quando surge a necessidade de cuidados de saúde especializados, como uma cirurgia cerebral complicada ou tratamento de câncer pediátrico, a única opção para a maioria das pessoas que vivem na Grécia é ir para Atenas. A infraestrutura de saúde nas cidades menores e áreas rurais não consegue lidar com esses casos.
Mas há um novo projeto de US$ 750 milhões em andamento que pretende transformar o sistema de saúde grego, construindo hospitais de ponta em regiões fora da capital.
“Na Grécia, há a necessidade de melhorar o acesso e a qualidade do atendimento em regiões carentes”, conta Elianna Konialis, líder da Iniciativa de Saúde da Fundação Stavros Niarchos (SNF), que está financiando o projeto.
O colapso econômico que o país enfrentou em meados dos anos 2000 fez com que seu já precário sistema de saúde piorasse ainda mais. A pandemia só fez agravar o problema.
À frente do projeto está o arquiteto Renzo Piano, vencedor do Prêmio Pritzker, famoso por coprojetar o Centro Pompidou, em Paris. A expectativa é inaugurar três novos hospitais até 2025. Eles estarão localizados nas cidades de Comotini e Salônica, no norte, e em Esparta, no sul.
Todos os três são bem parecidos em forma e design, com longos edifícios retangulares cobertos com painéis fotovoltaicos suspensos. O projeto oferece as principais especialidades clínicas, além de laboratórios e espaços técnicos.
O maior dos três hospitais – a segunda unidade infantil do país – ficará na cidade de Salônica.
Projetados com uma planta baixa flexível e modular, os hospitais são capazes de acompanhar a tecnologia e atender as demandas de saúde modernas, movendo paredes para criar espaços clínicos maiores ou instalar equipamentos novos.
Terão ainda jardins, pátios nos andares superiores e áreas de recreação – sugestões que a equipe da SNF recebeu diretamente dos moradores das cidades onde os hospitais estão sendo construídos.
“Pode parecer algo secundário, mas temos recebido muitas ideias das comunidades locais sobre a importância de introduzir arte nos hospitais, ou áreas para brincar para crianças, para as famílias descansarem ou ficarem ao ar livre”, diz Konialis. “Acho que isso tem a ver com uma abordagem mais holística da saúde pública.”
Os prédios também estão integrados à paisagem ao redor. Centenas de árvores estão sendo plantadas para criar vistas exuberantes e oásis verdes, em vez de estacionamentos.
Mark Carroll, sócio do escritório de arquitetura Renzo Piano Building Workshop, explica que a paisagem foi projetada para que os pacientes possam ver as árvores de seus quartos. “Você olha pela janela e vê o céu ou a copa das árvores.”
A luz natural foi priorizada em todo o projeto, e não apenas nos quartos. Carroll ressalta que as janelas também levarão luz natural às unidades de terapia intensiva e salas de cirurgia. “As operações duram várias horas e achamos apropriado que os médicos e enfermeiros que trabalham lá tenham luz natural”, observa.
Há também uma ênfase na definição de um novo padrão ambiental com o projeto. Além de buscar a classificação Platinum do padrão de construção verde LEED e ser 100% elétrico (com painéis solares no telhado e poços geotérmicos gerando energia no local), a maioria das estruturas e fachadas dos hospitais são feitas de madeira.
Eles foram projetados para serem o que Carroll chama de “prontos para zero carbono”, ou capazes de operar sem fontes de energia produtoras de CO2 quando a rede da Grécia fizer a transição.
É um conceito admirável. “Os hospitais consomem muita energia e não podem parar. Operam 24 horas por dia, 365 dias por ano. Estão sempre funcionando”, explica Carroll.
Apesar das aspirações de sustentabilidade do projeto, tanto a fundação quanto os arquitetos enfatizam que se trata de tornar a saúde realmente acessível no país. “A ideia é trazer de volta um senso de humanidade para cuidar das pessoas”, diz Carroll, argumentando que o design dos hospitais tem relevância para além da Grécia.
Ele cita elementos como melhor iluminação natural, espaços para as famílias dos pacientes e ambientes de trabalho mais humanos para os profissionais de saúde. “O objetivo é construir um hospital moderno na Grécia, mas, no fim das contas, pode ser replicado em toda a Europa e no mundo”, acredita Carroll.
Panos Papoulia, COO da Fundação Stavros Niarchos, concorda. “Nossa esperança é que sirva de inspiração para que mais pessoas se juntem a essa ideia e busquem projetos [semelhantes].”