Vai uma porção de grilo para acompanhar o seu lanche?

Processo seletivo escolhe 18 startups que terão apoio da AgTech Garage – inclusive uma que produz proteína a partir de insetos

Crédito: Nadia_Bormotova/ GettyImages 

Fábio Cardo 5 minutos de leitura

Hoje pode parecer estranha a pergunta, aplicada na frase que ficou tão popular (e desgastada) nas redes de fast food. Ou ainda, que tal um snack saudável de grilo torrado para acompanhar os jogos da Copa do Mundo?

Nos últimos dias, tivemos um verdadeiro boom de iniciativas de inovação envolvendo e promovendo foodtechs, com soluções que ampliam as perspectivas de bons alimentos – incluindo os (ainda) exóticos grilos.

A velocidade das inovações que surgem pelas mãos e pela criatividade dessas startups brasileiras pode tornar alguns ingredientes, tais como os grilos, parte de nossa alimentação. O suporte de empresas bem estruturadas tem sido o grande motor para o processo de evolução das foodtechs.

A Nestlé acaba de ganhar o prêmio Valor Econômico de empresa mais inovadora do país, à frente de renomadas companhias com longas heranças em investimentos em inovação. Possivelmente, um fato inédito no mercado para uma indústria de alimentos.

O que vem motivando os processos de inovação é o Panela Nestlé, que acaba de inaugurar seu espaço de open innovation, integrado ao mesmo ambiente da sede da empresa, em São Paulo. O local prevê acolher startups, universidades e empreendedores que buscam colaboração e troca de conhecimento.

Segundo Marcelo Melchior, CEO da Nestlé no Brasil, a empresa passa por um processo de renovação para se manter relevante. O Panela, sob a direção de Carolina Sevciuc, busca cocriar o ecossistema alimentar regenerativo do futuro.

PROCESSO SELETIVO

Bunge, ICL, Nitro, PwC e Ultragaz somaram com a AgTech Garage – maior hub de inovação do agronegócio na América Latina – que anunciou as 18 startups selecionadas para o Pitch Day.

as soluções apresentadas demonstram o alto potencial inovativo dos empreendedores na transformação do agronegócio.

Essas empresas buscam soluções inovadoras em seis verticais da cadeia de alimentos e bebidas: embalagens; segurança alimentar; combate ao desperdício; varejo e food marketplace; produção atrelada à sustentabilidade; e alimentos para o futuro.

O filtro foi apertado: de 244 que passaram pela triagem, ficaram as 18 finalistas, que terão acesso a mentorias e oportunidades de negócios por parte das parceiras.

Para José Tomé, CEO do AgTech Garage, as soluções apresentadas neste primeiro circuito demonstram o alto potencial inovativo dos empreendedores brasileiros e estrangeiros na transformação do agronegócio, para que seja mais sustentável, competitivo e inclusivo.

José Tomé, CEO do AgTech Garage

Estas são as startups que se destacaram e que podem ser bons parâmetros sobre o que nos aguarda no futuro da alimentação:

Combate ao desperdício de alimentos

 – Colmeia Inteligente: sua solução é uma colmeia para abelhas produzida com plástico reciclado e tecnologia embarcada para monitorar remotamente parâmetros de relevância produtiva, permitindo ainda realizar ações preventivas e curativas nos apiários.

 – Eloverde: software para redução de custos com automação de processos ambientais e localização de soluções sustentáveis para empresas (consultorias, indústrias, transporte e destinação de resíduos, por exemplo). Faz o controle de documentos ambientais e de segurança do trabalho, otimiza processos para logística de reciclagem e elabora relatórios de sustentabilidade.

 – Fibervita: produz ingredientes multifuncionais à base de compostos vegetais fibrosos não-transgênicos e de carboidratos complexos de baixo índice glicêmico, que agregam desempenho e saudabilidade aos produtos da indústria alimentícia e de nutrição animal.

Segurança alimentar

 – Algatec Bioinsumos: processa macroalgas Kappaphycus alvarezii para uso na suplementação animal, alimentação humana, produção de bioestimulantes e de biofertilizantes.

 – Zeit: desenvolve soluções de inteligência artificial aplicada para grandes empresas nas áreas de qualidade do leite, silagem, grãos, bioinsumos e carnes, entre outras.

 – Ecotrace Solutions: plataforma baseada em blockchain para rastreabilidade de commodities de ponta a ponta. Oferece garantia de origem e abre caminho para tornar os processos 100% auditáveis, evitando que os clientes tenham sua marca associada a problemas socioambientais.

Alimentos para o futuro

 – Maltivor: reaproveita um subproduto da produção da cerveja para obter farinha de cevada, que pode ser usada na fabricação de biscoitos, bolos, pães e tortas.

 – Noviga: oferece um ingrediente microencapsulado de base vegetal para substituir a gordura trans e adicionar textura, estabilidade, maciez e suculência a diversos alimentos.

 – Hakkuna: biotech e foodtech que domina a tecnologia produção de um ingrediente proteico de alta qualidade a partir de insetos, para uso na alimentação humana e animal. A empresa, que está inserida no Panela Nestlé, apresentou algumas opções de consumo dos grilos assados, puros ou temperados. Estão longe de ser uma iguaria gastronômica, mas são crocantes e podem compor uma alimentação proteica.

Embalagens

 – Protect Mais: desenvolveu um aditivo nanotecnológico que melhora as propriedades mecânicas e de barreira de polímeros ou bases poliméricas. É capaz de criar embalagens mais sustentáveis, quimicamente mais simples e de fácil reciclagem.

 – Nexplas: produz embalagens e filmes plásticos sustentáveis e biodegradáveis usando a nanotecnologia. As embalagens aumentam a vida útil dos alimentos em até três vezes na comparação com as tradicionais, auxiliando na redução do desperdício.

 – Befer Agroindustrial: entrega produtos biodegradáveis, atóxicos e isentos de materiais fósseis, além de recicláveis, rastreáveis, certificados e economicamente viáveis.

Varejo e food marketplace

 – Food to Save: marketplace que atua contra o desperdício de alimentos conectando estabelecimentos que tenham excedentes de produto a usuários dispostos a adquiri-los.

 – Facily: primeiro social commerce da América Latina, é um marketplace de compras coletivas que trabalha, entre outros itens, com produtos de hortifrúti.

 – Restin: faz a ponte entre indústrias de alimentos que tenham produtos próximos do prazo de validade com canais de food service (cozinhas industriais e restaurantes) visando evitar o desperdício de alimentos, gerar economia e maior rentabilidade aos clientes.

Produção atrelada à sustentabilidade

 – S³nano: produz insumos industriais inteligentes, com tecnologia brasileira, atendendo demandas específicas. Consegue suprir a demanda de indústrias que operam com nanomateriais inorgânicos e nanoencapsulados orgânicos.

 – Protin Biotech: produz proteína de inseto para nutrição animal a partir do reaproveitamento de resíduos, que são homogeneizados e utilizados na alimentação de larvas. Ao final do ciclo, elas geram proteínas de alto valor biológico para nutrição animal, além de fertilizante orgânico.

 – Gerônimo Foods: produz alimentos à base de plantas livres de conservantes e com sabor original, utilizando um processo de ultracongelamento que preserva os nutrientes e garante maior tempo de prateleira.


SOBRE O AUTOR

Fábio Cardo é economista de formação, atua em comunicação empresarial e empreendedorismo e é co-publisher do canal FoodTech da Fast Co... saiba mais