Novo sensor consegue rastrear movimentos sem invadir sua privacidade
Os sensores térmicos da Butlr rastreiam o movimento das pessoas sem observá-las
Ter acesso a informações em tempo real sobre onde cada pessoa está dentro de um edifício pode ser muito útil. Hoje em dia, já existe uma variedade de tecnologias capazes de transformar sua casa, escritório ou instituição em um pequeno “estado de vigilância”.
Usando câmeras de vídeo ou sensores simples de rastreamento de movimento, essas tecnologias conseguem indicar, por exemplo, quando a energia está sendo desperdiçada em salas vazias, ou se as empresas estão ocupando muitos metros quadrada locáveis com mesas que ninguém usa. No caso de instituições que prestam atendimento a idosos, elas podem até salvar vidas, alertando a equipe se alguém cair ou desmaiar.
De acordo com a startup de tecnologia de construção Butlr, a vigilância não significa necessariamente invadir a privacidade das pessoas, com câmeras de vídeo em todos os cômodos. Usando apenas a tecnologia de sensores térmicos (que detecta o calor dentro dos ambientes), a Butlr consegue rastrear a ocupação do edifício, a utilização do espaço e o movimento de pacientes em instalações médicas.
“À noite, conseguimos até ver quando alguém entra na cozinha e abre a geladeira”, diz Honghao Deng, cofundador e CEO da Butlr. “Você consegue ver até o ar frio na sala.”
CASAS INTELIGENTES
Deng e a cofundadora Jiani Zeng lançaram a Butlr quando estudavam no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). Os primeiros experimentos com a tecnologia de detecção de temperatura previam casas inteligentes, que poderiam acender as luzes quando um cachorro subia as escadas ou escurecer uma sala quando um morador se deitava para tirar uma soneca.
Mas as situações de uso logo evoluíram para algo um pouco mais simples: um sistema de sensores de baixa resolução que poderia dar aos operadores de escritórios e de outras instalações uma ideia precisa, mas não invasiva, de como seus espaços estão sendo utilizados.
A pandemia ampliou a aplicabilidade dessa tecnologia, principalmente em imóveis comerciais. De uma hora para a outra, as empresas se viram com milhões de metros quadrados de escritórios vazios. Foi aí que começaram a usar os sensores da Butlr, para entender melhor a situação, mapeando desde quando podiam desligar luzes e ar-condicionado em andares vazios até quando os espaços mais caros podiam ser sublocados ou eliminados.
Embora a Butlr não seja a única empresa a explorar o potencial do rastreamento de ocupação – outros players incluem a Cisco e a Sightcorp –, sua abordagem de detecção térmica de baixa resolução oferece algumas vantagens sobre outras tecnologias, mais complicadas e intrusivas.
As implicações para os inquilinos e proprietários são significativas. A empresa recentemente levantou US$ 20 milhões em uma rodada de financiamento da série A, inclusive da gigante de aquecimento e refrigeração Carrier. Zeng afirma que o setor imobiliário comercial está especialmente interessado em coletar informações sobre como os espaços estão sendo usados.
“Com base nesses dados, eles conseguem tomar decisões mais conscientes”, diz ela, exemplificando: “se no próximo ano quero expandir o espaço de trabalho, vou precisar renovar os contratos de aluguel ou construir mais escritórios’”.
CUIDADOS COM IDOSOS
Essa tecnologia não serve apenas para grandes empresas imobiliárias que tentam otimizar gastos. Os sensores da Butlr estão sendo cada vez mais usados por operadores de atendimento a idosos e em instalações hospitalares, por exemplo, para alertar os cuidadores quando uma pessoa parou de se mover em um local inesperado, indicando que pode ter caído.
A Dele Health utiliza tecnologia para prevenir quedas em residências e casas de repouso. Recentemente, começou a usar os sensores da Butlr em algumas de suas instalações.
“O que gostamos é que não é uma tecnologia invasiva”, diz a CEO da Dele Health, Susan Hagerty Bonsak, que estima que os sensores estejam em instalações que atendem cerca de 10 mil pessoas. “Estamos falando de gente que não queria estar nesses lugares nem querem câmeras, que são muito invasivas.”
Os dados fornecidos pelos sensores também podem ajudar os cuidadores a entender como as pessoas estão se locomovendo dentro de seus quartos durante os períodos entre as rondas das equipes de enfermagem e até detectar condições que podem levar a quedas ou outros problemas.
“Podemos criar padrões para que os médicos comecem a ver o histórico do que está acontecendo”, diz Bonsak. “Dá para ver se um residente parece estar levantando de repente no meio da noite, ou se vai ao banheiro quatro vezes à noite. O deslocamento do quarto para o banheiro é uma situação típica de queda.”
A ideia é que os cuidadores possam ajustar o atendimento ou até aumentar a frequência das rondas nos quartos daqueles mais propensos a quedas. “Podemos até implementar medidas para impedir que a primeira queda aconteça”, diz Bonsak.