Uma casa desenhada para viver em Marte, só que na Inglaterra
Esqueça as interpretações fantasiosas de colônias em Marte. Esta pequena casa é tão real que até tem seu próprio “banheiro marciano”
“Como você acha que deveriam ser as casas em Marte?” Essa pergunta (bastante aberta) foi feita recentemente a mais de 200 pessoas na Inglaterra. A resposta pode ser vista em uma praça na cidade de Bristol, no Reino Unido – uma residência de dois andares, movida a energia solar, com cozinha compacta, jardim hidropônico e um “banheiro marciano”.
Apelidada de “Casa Marciana”, a estrutura será aberta ao público na próxima semana e receberá uma série de palestras e workshops sobre vida sustentável.
Ao contrário das inúmeras representações fantasiosas de como seriam as colônias em Marte que tomam conta da internet, a Casa Marciana é um projeto realista, que faz com que as pessoas pensem menos em colonizar o espaço e mais em viver com recursos escassos e dentro de suas possibilidades, em um ambiente que não é movido pelo consumismo.
A ideia foi concebida pelos artistas Ella Good e Nicki Kent, que queriam usar o planeta vermelho como ponto de partida para focar no que realmente precisamos e como queremos viver na Terra.
A casa foi projetada por duas empresas britânicas de arquitetura e design: Pearce+ e Hugh Broughton Architects, que desenvolveu várias estações de pesquisa científica na Antártida. Os arquitetos consultaram cientistas espaciais sobre as condições climáticas em Marte e como deveriam incorporá-las no projeto.
Também realizaram uma série de workshops em Bristol, onde o público podia sugerir os recursos ideais para a casa no espaço, como uma cozinha aberta ou uma vista da paisagem marciana. O pedido mais comum, no entanto, eram plantas.
“Elas são criaturas vivas – precisam de cuidados, e podemos nos alimentar delas”, diz Hugh Broughton, diretor da empresa de arquitetura. “Mas o cuidado é a parte fundamental, já que é muito terapêutico, especialmente em um ambiente alienígena”.
Na Estação Polo Sul dos EUA, na Antártida, Broughton conta que os pesquisadores podem reservar um horário de meia hora para se sentar no jardim hidropônico, cuidar das plantas ou até mesmo ler um livro na estufa.
Naturalmente, as plantas ocupam um lugar especial no segundo andar da Casa Marciana. Juntamente com uma cozinha compacta, a “sala de estar hidropônica” tem uma estrutura inflável pressurizada forrada com folhas de ouro.
Ela conta com uma janela e uma claraboia, e seu revestimento dourado ajuda a refletir o sol e reduzir o calor na superfície. A temperatura em Marte é baixa, mas Broughton explica que a iluminação e a ventilação acumulam calor suficiente no interior.
O projeto indica que as paredes internas seriam preenchidas com regolito marciano, uma rocha vulcânica semelhante a lodo. No entanto, a versão criada em Bristol é de ar.
No térreo, há quartos compactos e um banheiro Duravit, com assento aquecido, pia iluminada e um exaustor, já que não dá para simplesmente abrir a janela em um planeta com tão pouco oxigênio. Em Marte, esse andar da casa seria construído no subsolo, em túneis formados por lava. No protótipo, fica em um contêiner fechado.
A Casa Marciana foi projetada para resistir ao clima hostil do planeta vermelho, cuja temperatura média é de -55ºC e onde os níveis de radiação cósmica são bastante elevados. Mas a ideia não era criar uma moradia que atendesse aos padrões da NASA.
“Tenho certeza de que há falhas técnicas, ou que alguém certamente diria ‘as dimensões do foguete são essas e sua casa não seria assim’, mas esse não é o objetivo”, conta Broughton. “O objetivo é, o máximo possível, imaginar como seria uma casa em Marte, e refletir sobre nossas vidas na Terra.