Os impactos na saúde da combinação aquecimento global e poluição

O calor intenso e a poluição do ar prejudicam a saúde. Mas, quando ocorrem juntos, os efeitos são extremos

Crédito: Pixabay/ Ccottonbro/ Pexels

Erika Garcia, Mostafijur Rahman e Rob McConnell 3 minutos de leitura

As previsões indicam calor elevado, com tendência de se agravar no final de semana. A expectativa era de que o clima esfriasse, mas uma nova onda de calor se aproxima, trazendo consigo ameaças à saúde da população e aumentando a possibilidade de incêndios florestais. Além de dias mais quentes, dados de qualidade do ar têm apontado níveis altos de poluição.

Soa familiar? Esse cenário é cada vez mais frequente em diversas partes do mundo. O calor intenso e a poluição do ar prejudicam a saúde, sobretudo, de populações vulneráveis, como idosos. Mas o que acontece quando ocorrem ao mesmo tempo?

Para descobrir, examinamos mais de 1,5 milhão de mortes entre 2014 e 2020 registradas na Califórnia – um estado sujeito a ondas de calor no verão e poluição do ar, devido a incêndios florestais.

AUMENTO DO NÚMERO DE MORTES

O número de mortes foi maior tanto em dias quentes quanto naqueles que registraram altos níveis de poluição atmosférica por partículas finas, conhecidas como PM2,5. Mas nos dias em que a região apresentou ambos, os efeitos foram muito mais graves.

O risco de morte em dias extremamente quentes e poluídos foi cerca de três vezes maior do que quando esses eventos ocorriam separadamente.

Quanto maior a temperatura e a poluição, maior o risco. Entre os dias que registraram níveis mais elevados de calor combinado à poluição, o risco de morte aumentou 4% em comparação com dias sem extremos. E, durante aqueles que registraram índices ainda maiores, o risco era de 21%; entre idosos com mais de 75 anos, houve um aumento de mais de um terço no mesmo período.

POR QUE O RISCOS SÃO MAIORES QUANDO OCORREM JUNTOS

A exposição ao calor extremo e à poluição do ar por partículas podem prejudicar a saúde humana de diversas maneiras.

O estresse oxidativo é a via biológica mais comumente associada à poluição do ar e à exposição ao calor. O estresse oxidativo é um desequilíbrio entre a geração de compostos oxidantes, conhecidos como espécies reativas de oxigênio, ou ROS, e a atuação dos sistemas de defesa antioxidante, e pode causar doenças pulmonares.

Os antioxidantes ajudam a limpar essas moléculas, mas a poluição do ar e o calor interrompem o equilíbrio por meio da produção metabólica excessiva de ROS e da atividade antioxidante reduzida.

Nossa pesquisa demonstra que, à noite, os efeitos da poluição do ar e do calor intenso também são maiores quando ocorrem juntos. Podem interferir no sono e potencialmente contribuir para condições crônicas, como doenças cardíacas e obesidade, além de diminuir a capacidade do corpo de regular a temperatura.

Até o final do século, estima-se que a temperatura global será 2,7ºC maior. Ondas de calor extremo se tornarão mais comuns.

Idosos são ainda mais vulneráveis a esses efeitos, em parte, porque esse estresse se soma a condições de saúde relacionadas à idade, como problemas cardíacos, pressão alta, diabetes ou doenças pulmonares crônicas.

As mudanças climáticas aumentarão a exposição ao calor e à poluição do ar em muitas partes do mundo. As temperaturas médias anuais nos EUA já estão 1 grau Celsius mais quentes do que no início dos anos 1900. Até o final deste século, estima-se que a temperatura global será 2,7ºC maior. Ondas de calor extremo se tornarão mais comuns.

COMO SE PROTEGER

Serão necessárias mais pesquisas para entender melhor esses efeitos, como o impacto total da exposição à fumaça de incêndios florestais. No entanto, já sabemos o suficiente para tomar medidas de redução de danos durante períodos de calor extremo ou poluição do ar, como manter-se hidratado e se refrescar.

Shopping centers e outros espaços públicos com sistemas de refrigeração de ar podem oferecer abrigo em dias quentes. Estar em um ambiente com ar-condicionado, especialmente durante a noite, pode reduzir a mortalidade. Ter um filtro de ar portátil no quarto pode diminuir significativamente os níveis de poluição por partículas.

Pessoas com sintomas de estresse térmico, como dor de cabeça, náusea, tontura ou confusão mental, especialmente idosos, devem procurar atendimento médico.

Os governos precisam tomar medidas para combater as mudanças climáticas o quanto antes, se quiserem evitar piores cenários no futuro. Algumas recomendações para as cidades incluem a criação de áreas cobertas, para servir de abrigo em dias quentes, e espaços verdes, que ajudam a reduzir a poluição por partículas.


SOBRE O AUTOR

Erika Garcia é professora assistente de população e ciências da saúde pública na Universidade do Sul da Califórnia; Mostafijur Rahman ... saiba mais