Dessalinização: solução para a escassez de água?

A tecnologia pode ser a chave para evitar uma crise hídrica global, mas ainda existem algumas grandes questões

Crédito: Timo Volz/ Jan Antonin Kolar/ Jeremy Bishop/ Jason Tuinstra/ Unsplash

Kiran Tota Maharaj 4 minutos de leitura

Água doce e limpa é fundamental para sustentar a vida humana. No entanto, 1,1 bilhão de pessoas ao redor do mundo não têm acesso a este recurso natural. A dessalinização – processo de extração de sal da água do mar para torná-la potável – vem cada vez mais ganhando destaque como uma solução para o problema.

Existem dois tipos principais de dessalinização. A térmica usa o calor para transformar a água em vapor, separando-a dos sais minerais. Esse processo continua dominante em todo o Oriente Médio, onde quase metade da água dessalinizada do mundo é produzida. 

O segundo é a dessalinização por membrana, comumente chamada de osmose reversa. Este processo é utilizado em 60% das usinas em todo o mundo. Sob alta pressão, a água salgada passa por uma membrana semipermeável, cujos poros são pequenos demais para a passagem das moléculas de sal.

Diagrama ilustra o processo de osmose reversa (Crédito: Designua/ Shutterstock)

ONDE A DESSALINIZAÇÃO É USADA?

A dessalinização é usada para levar água potável a lugares onde não há uma fonte natural disponível. Portanto, regiões com escassez de água são bastante dependentes da tecnologia. Nos Emirados Árabes Unidos, a dessalinização é responsável por atender 42% da demanda.

Devido ao baixo custo de bombeamento, esse processo é mais econômico em regiões costeiras. No entanto, as mudanças climáticas estão agravando a escassez de água em áreas tipicamente amenas, exigindo a expansão de usinas de dessalinização para o interior. A China, os EUA e a América do Sul estão investindo para aumentar sua capacidade de dessalinização.

Usina de dessalinização em Carlsbad, na Califórnia (Crédito: Allen J. Schaben / Los Angeles Times/ GettyImages)

POR QUE ELA CONTINUA TÃO CARA?

Grandes quantidades de energia são necessárias para conduzir o processo. Em especial para a dessalinização térmica, cujos custos de energia representam até metade do custo total de produção de uma usina.

O processo de osmose reversa, em geral, utiliza menos energia. No entanto, isso não ocorre quando a água é altamente salina, já que requer mais pressão para fazer com que ela passe através da membrana.

Além disso, fontes de água com níveis altos de poluição precisam ser tratadas antes da dessalinização, o que exige uma infraestrutura cara, como tanques de sedimentação e sistemas de filtragem. O tratamento evita o acúmulo de detritos nas superfícies da membrana, que podem atrapalhar o processo de osmose reversa.

Cerca de 1,1 bilhão de pessoas em todo o mundo não têm acesso a água potável.

Os custos serão ainda maiores com o aumento da dependência da dessalinização e com a aplicação do processo em fontes de água poluída. O estado da Califórnia, que enfrenta um clima mais seco, agora tem 23 usinas.

A produção de um litro de água potável gera 1,6 litros de salmoura, um resíduo altamente salino. Os depósitos de salmoura no fundo do mar podem levar à destruição dos ecossistemas marinhos, já que o material reduz o teor de oxigênio da água.

O descarte seguro de salmoura é caro. A maior parte é bombeada de volta ao mar e está sujeita a padrões de qualidade ambiental. Caso eles não sejam alcançados atenda, é necessário tratamento adicional.

A salmoura pode ser tratada em lagoas de evaporação ou diluída antes de ser descartada. Mas o custo elevado continua sendo um enorme obstáculo para uma aplicação mais ampla da dessalinização.

Tanques de evaporação em Newark, Califórnia (Crédito: Jane Tyska/ Digital First Media/ East Bay Times/ GettyImages)

O PROCESSO PODE FICAR MAIS BARATO?

Diminuir a quantidade de energia no processo pode resultar em consideráveis ​​reduções de custos. Atualmente, estão sendo desenvolvidas tecnologias como osmose direta, que permitem que a dessalinização ocorra em temperatura e pressão mais baixas.

Embora promissoras, essas tecnologias ainda estão em estágio inicial. O mercado é pequeno e existem poucas instalações comerciais. Serão necessários mais desenvolvimentos para garantir que esses processos possam produzir água potável em escala comercial.

Apesar da crescente insegurança hídrica, a dessalinização continua sendo um processo caro demais para uso generalizado.

Membranas mais duráveis ​​também podem ajudar a reduzir o custo da dessalinização. Usando diferentes materiais, fabricantes japoneses construíram membranas que retém com sucesso partículas de sal em baixas pressões operacionais. Isso reduz o custo de substituição de membranas e a quantidade de energia do processo.

A dessalinização também poderia ser feita com fontes mais baratas de energia renovável. A energia solar térmica gera calor direto e pode ser usada para evaporar a água do mar. Ainda em construção na Arábia Saudita, a usina solar Metito terá inicialmente capacidade para produzir 30 mil metros cúbicos de água potável por dia.

No entanto, esta é uma tecnologia repleta de complexidades. O fornecimento de energia é inconsistente e o armazenamento é caro, o que dificulta uma aplicação mais ampla. Isso torna os projetos de dessalinização solar incapazes de produzir água potável para uso comercial.

Apesar da crescente insegurança hídrica em todo o mundo, a dessalinização continua sendo um processo caro demais para uso generalizado. Vários esforços foram feitos para reduzir seu custo, e muitos se mostraram promissores. Mas a evolução tecnológica demora e levará décadas até que seja viável uma adoção mais ampla da dessalinização.


SOBRE O AUTOR

Kiran Tota-Maharaj é professor associado de Engenharia Civil e Ambiental na Aston University. saiba mais