Em um mundo cada vez mais rápido, você precisa ser mais lento
Somos dominados pela mente que decide rápido, ou seja, vivemos no automático. Não tem nada de errado, a não ser que isso é apenas sobreviver
Você conhece a sensação. Acorda de manhã, pega seu carro, dirige dois ou três quilômetros, mas não se recorda de nenhum detalhe do caminho. Tenta lembrar o que jantou quinta-feira da semana passada. Sem sucesso. Está vivendo a vida no automático e não percebe.
Dizem os cientistas que essa característica vem da pré-história. Naquele tempo, não dava tempo para pensar quando se ouvia algum ruído estranho. Ou o homem das cavernas saia correndo, ou virava comida de algum animal selvagem. Se você está aqui hoje lendo este texto, agradeça a algum ancestral seu que fugiu nas horas certas, para só depois pensar o porquê de estar correndo.
Vem a vida moderna e essa correria só vai aumentando. Primeiro chegaram os carros, que nos aceleraram de pouco mais de cinco quilômetros por hora, andando a pé, para uma velocidade média, no mínimo, cinco vezes maior, em potentes automóveis. A internet tratou de consolidar esse fenômeno, pois acelerou não o físico, mas a velocidade de divulgação de ideias e informações.
INTUITIVO X RACIONAL
Cada vez mais, somos seres intelectuais. Duzentos anos atrás, 75% da população vivia do campo, levantando-se com o sol e passando o dia no meio das plantações. Hoje, a maioria vive em cidades e a informação e o pensamento passaram a ser matéria-prima do dia a dia. Então, não podemos nos deixar controlar pelo pensamento da época das cavernas.
Somos seres racionais, mas o instinto e a pressa nos levam a decisões impensadas.
Nossas decisões deveriam ser sempre calculadas. Por isso somos chamados de seres racionais. Mas o instinto e a pressa nos levam a decisões impensadas. Ao analisar esse fenômeno, Daniel Khaneman, psicólogo e economista ganhador do Prêmio Nobel, dividiu a mente humana em duas. Uma, que é rápida em tomar as decisões, sem pensar, na emoção. Intuitiva. A outra, que para, julga e justifica. Racional. A primeira é automática. A segunda, não. Cada uma tem seu papel e as duas fazem sua vida mais fácil.
Tenho visto que uma das consequências da vida apressada que temos é sermos dominados pela mente que decide rápido. Como já disse, chamo isso de viver no automático. Não tem nada de errado nesse comportamento. A não ser que isso é somente sobreviver.
Até entendo que alguém no limite da pobreza precise passar por isso. Mas, a partir de um certo nível, e principalmente, em certos tipos de emprego, ter um comportamento menos mecânico é uma obrigação.
TREINE SEU PENSAMENTO
Se você, como eu, vive de entender o ser humano e vender
As melhores ideias são lentas e vivem se escondendo pelos cantos da sua mente.
algum tipo de produto ou serviço, precisa compreender que não é permitido agir sem pensar. Sua empresa é refém das consequências que seus atos geram. Se suas decisões não saírem do automático, elas podem ter consequências negativas.
Mas como evitar essa situação? Vou dizer o que faço. Diariamente, acordo e procuro escrever sobre alguma empresa que me parece ter rompido um comportamento repetitivo. É minha forma de treinar minha percepção e evitar que fique preso nessa armadilha. Desses textos diários surgiu meu livro, com um título que reflete essa visão: "Fora do Automático".
Mas essa é a minha receita. Você pode achar o seu jeito de segurar seu lado instintivo e permitir que o racional o ajude a ver coisas que passam despercebidas para a maior parte dos seus colegas de trabalho. E dos seus concorrentes.
Como diz um criativo amigo meu e colecionador de diversos prêmios, “se você teve uma ideia boa rapidamente, é melhor colocá-la de lado e procurar mais fundo. As primeiras percepções que a gente tem são aquelas que estão na superfície e que impedem de ver algo realmente criativo.”
Treine seu pensamento. As melhores ideias são lentas e vivem se escondendo pelos cantos da sua mente...