Hollywood finalmente se rende à comédia romântica gay
“Mais que Amigos” é o primeiro filme do gênero produzido por um grande estúdio e a reunir um elenco quase todo de pessoas LGBTQIA+
“Mais que Amigos” (Bros) é a primeira comédia romântica gay produzida por um grande estúdio de Hollywood (Universal Studios), além de ser a primeira a reunir um elenco quase todo de pessoas LGBTQIA+.
O protagonista, Bobby, é interpretado por Billy Eichner, ator e comediante famoso por seu programa “Billy on the Street” e por seus papéis em “Pessoas Difíceis”, na versão live-action de “O Rei Leão” e em “Impeachment: American Crime Story”.
O filme marca a estreia do ator como corroteirista de longa-metragem, ao lado do diretor Nick Stoller. A seguir, Billy Eichner fala um pouco mais sobre a pressão de representar a comunidade LGBTQIA+ para o grande público e de abrir ainda mais as portas para que outros contem histórias de pessoas gays e queer – tudo isso enquanto administrava o caos logístico do set de filmagem.
“Mais que Amigos” é a primeira comédia romântica gay produzida por um grande estúdio. Quando caiu a ficha para você e como foi a experiência?
A maioria [dos roteiristas], quando senta para escrever um roteiro, só tem que se preocupar [se] “É engraçado? A história faz sentido? O público vai se identificar?” Além de ter que me preocupar com tudo isso, tive o desafio extra de retratar minha vida de forma que pessoas heterossexuais também entendessem e se interessassem por ela.
Tenho muitas lembranças [de pessoas] me dizendo que as coisas que escrevo são gays demais. Então, uma parte de mim queria se rebelar e dizer: “eu não me importo. São todas ignorantes.” Mas a outra parte dizia: “este filme precisa ser um sucesso de bilheteria”, tanto para o futuro do cinema quanto para o futuro de conteúdos LGBTQ+. Eu vivia um conflito interno constante.
Judd Apatow é um dos produtores do filme. Como foi produzir uma comédia romântica gay ao lado de dois homens heterossexuais?
O único contato que pessoas heterossexuais têm com a comunidade gay é através do que veem na TV ou ouvem falar. Elas não sabem como é o dia a dia de um relacionamento gay. A comunidade LGBTQ+, lutando por direitos, passou a última década dizendo às pessoas que amor é amor. Mas isso é simplificar demais a realidade. Abordamos isso no filme.
Na primeira reunião, disse a Nick [Stoller] que o filme precisava ser fiel à experiência de um homem gay de meia-idade [que está] em busca de amor e relacionamento em 2022. Tive que esclarecer algumas coisas para Nick e Judd, e para o estúdio, em determinados momentos. [Mas] Nick nunca falou “isso é gay demais”. Ele sempre dizia “seja o mais fiel possível. Contanto que seja engraçado, não importa”.
Pode dar um exemplo de algo que teve que esclarecer para eles?
Posso dizer, com base nas minhas próprias experiências e dos meus amigos, [que] homens gays às vezes criam regras diferentes em relação à monogamia. Por muito tempo, as pessoas ignoraram a comunidade LGBTQ+, não queriam falar sobre nossa realidade. E isso é uma faca de dois gumes.
tive o desafio extra de retratar minha vida de forma que pessoas heterossexuais também entendessem e se interessassem por ela.
Por um lado, é humilhante, revoltante e perigoso. Por outro, isso nos possibilitou criar nossas próprias regras. Não sofremos a pressão de “casar aos 35 anos e ter dois filhos”.
Dois dos meus melhores amigos são um casal de longa data. Eles estão juntos há 20 anos e se casaram há mais de 10. E há seis ou sete anos, têm um relacionamento a três, com o mesmo cara. Eu sempre brinquei com eles: “uau, vocês conseguiram encontrar dois. Eu não consigo encontrar um.”
Isso é algo cada vez mais aceito e comum na nossa comunidade. E eu acho ótimo. Por que devemos seguir regras antiquadas? Sobretudo, quando não funcionam na maioria das vezes. Basta olhar os índices de divórcio e como as pessoas se tornam infelizes e amargas.
O que você acha do fato de que a oportunidade de produzir a primeira comédia romântica gay em um grande estúdio foi dada a um homem branco cis?
Como roteirista de primeira viagem, senti que tinha o direito de contar minha própria história e [usar] experiências que vivi. Eu sou um homem gay branco cis, não posso fazer nada para mudar isso. Mas, ao mesmo tempo, minha prioridade era reunir o elenco mais diverso, inclusivo e abrangente possível. Todos os atores e atrizes com mais de uma ou duas falas são abertamente gays, lésbicas, bi, trans ou gênero fluido. Exceto aqueles que interpretaram personagens heterossexuais.
Além de ator principal e corroteirista, você é o produtor executivo do filme. O que aprendeu sobre como gerenciar pessoas criativas?
Não importaria o quanto eu trabalhasse ou quão bem atuasse, o filme não teria sucesso a menos que cada ator se sentisse confiante, confortável e inspirado. Você tem que criar um ambiente onde, mesmo no caos das filmagens – quando a equipe está preocupada em terminar a tempo, quando o produtor está preocupado com o orçamento, todo aquele caos logístico –, todos se sintam respeitados e possam brilhar fazendo o seu melhor.