Stefan Sagmeister: “a beleza é uma estratégia fantástica”

Otimista, o designer que criou a série Beautiful Numbers lembra que as coisas hoje são bem melhores do que no passado

Crédito: Fast Company Brasil

Claudia Penteado 5 minutos de leitura

Stefan Sagmeister nasceu na Áustria, formou-se em design gráfico na Universidade de Artes Aplicadas de Viena e, como bolsista da Fundação Fulbright, foi para os Estados Unidos, onde completou o mestrado no Pratt Institute, em Nova York. Em sua trajetória, chegou a trabalhar em agência de publicidade e, em 1993, fundou a Sagmeister Inc.

Crédito: James Braund

Apaixonado por música, mergulhou neste universo realizando trabalhos de design gráfico (muitos deles premiados) icônicos para Rolling Stones, Talking Heads, Lou Reed, Aerosmith e David Byrne, entre outros grandes nomes. Seu trabalho está nas coleções do MoMA, do Museu de Arte da Filadélfia, do Instituto de Arte de Chicago, do SFMoMA.

Sempre transitando entre o design e a arte, hoje ele afirma não mais trabalhar em projetos comerciais, aterrissando definitivamente no território artístico. Seu projeto mais recente é a série Beautiful Numbers, na qual usou dados para pintar uma imagem mais otimista do mundo. Ele traduzur 100 anos de dados em gráficos simples, inserindo-os em contextos inesperados, procurando focar em onde se avançou, no lugar de focar onde ainda é preciso avançar. 

Nesta conversa com a Fast Company Brasil, Sagmeister fala sobre inovação em design, novas tecnologias e sustentabilidade. 

FC Brasil – Qual projeto mais o interessa no momento? 

Stefan Sagmeister – A série Beautiful Numbers trata do pensamento de longo prazo. Se eu olhar para os desenvolvimentos relativos ao mundo a partir de uma perspectiva de longo prazo – a única maneira de fazer sentido – quase todos os aspectos relativos à humanidade parecem melhorar. Menos pessoas passam fome, menos pessoas morrem em guerras e desastres naturais, mais pessoas vivem em democracias – e vivem vidas muito mais longas – do que nunca.

Duzentos anos atrás, nove em cada 10 pessoas não sabiam ler nem escrever. Agora, apenas uma em cada 10. O objetivo por trás dessas visualizações é que os espectadores podem querer colocá-las em suas salas de estar, como lembretes de que os últimos tuítes são apenas minúsculos blips em um ambiente geral bastante saudável.

FC Brasil – O que faz você sair da cama todos os dias?

Sagmeister – Olhar para um assunto muito grande e enxergar como torná-lo comunicável. A série Beautiful Numbers está em uma galeria de arte porque quero que as pessoas vejam as peças, comprem, pendurem acima de seus sofás, como lembretes. Eu julgarei o projeto um fracasso se ninguém fizer isso.

FC Brasil – Você está otimista com nosso mundo hoje? Por quê?

Sagmeister – Sou otimista. O otimismo indica o pensamento racional. Se o resultado final de uma situação pode ser excepcional ou terrível – quando as chances são exatamente 50/50 – então minhas perspectivas de sucesso são claramente melhores se abordá-las de uma posição brilhante e não sombria. E se as coisas estão melhores agora do que eram no passado – o argumento central de Beautiful Numbers –, assumir que continuará melhorando no futuro constitui bom senso.

FC Brasil – O maior problema da humanidade é uma questão ética?

Sagmeister – Obviamente, há muitas coisas erradas com este mundo que precisam ser tratadas com urgência: mudança climática, perda de biodiversidade, armas atômicas, desigualdade. Também acredito que temos uma chance maior de corrigir esses problemas, reconhecendo que já conquistamos muito. Quando estou deprimido, sou de pouca utilidade para o meu entorno, para meus amigos e minha família. Sou muito mais útil, produtivo e eficaz quando estou bem.

FC Brasil – O que significa inovação em design, na sua opinião e na sua perspectiva?

Sagmeister – Historicamente, a inovação no design foi impulsionada pela inovação na tecnologia, seja pela tipografia informada por um cinzel durante os tempos romanos, pela invenção da imprensa ou pela revolução digital.

As fronteiras atuais para a inovação em design são certamente realidade virtual (RV), realidade aumentada (RA) e inteligência artificial (IA). Portanto, espero que a inovação em design aconteça onde os maiores passos nessas áreas estão sendo dados. Embora os avanços em RV e IA tenham sido significativos ultimamente, não espero que movimentos gigantes aconteçam rapidamente.

FC Brasil – Falando sobre design sustentável, como você vê o trabalho do design dentro de um ecossistema? Até onde vai sua responsabilidade e como isso impacta o design do negócio?

se as coisas estão melhores agora do que eram no passado, assumir que continuará melhorando no futuro constitui bom senso.

Sagmeister – A beleza é uma estratégia fantástica quando o assunto é preservação e sustentabilidade. Basta olhar para o Panteão de Roma, com dois mil anos e ainda está lá, em uso, porque é tão incrivelmente lindo que nenhuma geração teve coragem de derrubá-lo. O mesmo vale para uma linda bolsa de couro que ganhei há 25 anos. Prefiro consertar que comprar uma nova.

FC Brasil – O designer que tem sensibilidade para a beleza, a estética, a funcionalidade, está cada vez mais carregado de conhecimentos técnicos sobre KPIs, roadmaps, análise de impacto... Como unir as duas coisas?

Sagmeister – Eu mesmo não trabalho mais em projetos comerciais ou publicitários, então, felizmente, os KPIs não entram no meu dia a dia. Dentro de um contexto no qual tudo se tornou uma mercadoria em nossa sociedade (e com isso estamos destruindo o planeta – e de certa forma o design tem estado a serviço disso também), qual é o papel do design e dos designers na proposição de modos alternativos de produção e de relação com coisas/ objetos/ etc. onde as leis da natureza (circularidade) são fundamentais?

Não tenho certeza se os designers têm um dever especial de se comportar eticamente, mas acho que todos nós temos esse dever como pessoas. Posso ver que a quantidade média de coisas que uma pessoa usa foi reduzida de 15 toneladas por ano para 10 toneladas (os números são do Reino Unido). Ainda é muito, mas é um movimento na direção certa. Temos que evoluir do mais rápido/ mais barato para o mais lento/ melhor.


SOBRE A AUTORA

Claudia Penteado é editora chefe da Fast Company Brasil. saiba mais