Como tornar a Amazônia referência em produção de alimentos com sustentabilidade

Projeto Infloresta pode elevar as exportações da região a US$ 2,3 bilhões sem prejuízos ao meio ambiente

Crédito: Istock

Fábio Cardo 4 minutos de leitura

Cerca de 60% do território brasileiro (o equivalente a cinco milhões de quilômetros quadrados) é a área da Amazônia Legal. Segundo dados do Imazon, se fosse um país, seria o sexto maior do mundo em extensão territorial. Um terço das árvores do mundo estão na região, além de 20% da água doce disponível no planeta.

É grande demais a relevância da região para o país e o mundo quanto a recursos naturais. Já quanto à presença no mercado internacional, a Amazônia tem apenas 0,2% de participação, ao passo que o Brasil tem cerca de 1,3%.

Entre as diversas iniciativas que buscam melhorar o uso e ocupação ordenada da região está o projeto Amazônia 2030. A iniciativa reúne um pool de pesquisadores brasileiros que está traçando um plano de desenvolvimento sustentável para a região.

Os estudos para soluções de negócios, que estão em andamento agora, fazem parte do Infloresta, projeto derivado do Amazônia 2030 (iniciativa conjunta dos três maiores bancos privados do Brasil – Bradesco, Itaú Unibanco e Santander)

Coordenado por Salo Coslosvky, o Infloresta conta com o apoio do Instituto Arapyaú, Instituto Humanize e Kawa Capital Management. Se sair do ponto mínimo em que se encontra, adotando as recomendações apontados pelo Infloresta, a Amazônia chegará a US$ 2,3 bilhões em receita de exportações.

“Por meio de uma abordagem científica, o Infloresta tem potencial para gerar novas oportunidades de investimento e negócios que tenham ESG em sua essência”, afirma Cristina Baldim, vice-presidente da Kawa Capital Management.

CONCORRÊNCIA INTERNACIONAL

Um levantamento conduzido pela equipe de Coslovsky no ano passado sugere que há muitas oportunidades para melhorar o desempenho dos produtos compatíveis com a floresta no comércio internacional. Atualmente, os maiores exportadores de produtos sustentáveis são países que enfrentam condições sociais, políticas e econômicas parecidas ou mais desafiadoras do que as do Brasil.

O Vietnã, por exemplo, detém 42% do comércio global de pimenta do reino – é hoje o principal fornecedor do produto para os Estados Unidos. Exporta de quatro a cinco vezes mais do que o Brasil, mesmo considerando a grande vantagem logística que temos em relação do Oriente.

A Bolívia tem participação de 52% das vendas de castanha-do-brasil descascada no mercado internacional. Já a Amazônia tem, respectivamente, 7% e menos de 5% desses mercados.

 Muitas outras oportunidades de produção e exportação de frutas apareceram na região Amazônica ao longo dos anos, muito bem aproveitadas pelo Chile, Peru e Colômbia, que organizaram suas estruturas de produção e exportação e hoje representam US$ 1 bilhão em receitas.

O Infloresta mapeou as atividades que são compatíveis e têm afinidade com conservação da mata nativa. Entre elas estão extração florestal não-madeireira, sistemas agroflorestais, pesca, piscicultura e hortifruticultura.

Dentro desses grupos, estão inseridas a produção e processamento de açaí, dendê, castanhas, pimenta do reino, frutas como manga, abacaxi, melão, extratos vegetais e outros. Peixes e piscicultura (criados em tanques), e manejada (redes e gaiolas), também compõem o rol de produtos viáveis. Tudo organizado, mas misturado. Um ecossistema simbiótico próprio da Amazônia.

Fonte: Oportunidades para Exportação de
Produtos Compatíveis com a Floresta
na Amazônia Brasileira/ Amazônia 2030

Produtos originados na floresta são entendidos como matéria-prima bruta e não conseguem agregar valor na comercialização. A padronização e a adoção de práticas sanitárias resultam em produtos com consistência na qualidade – requisitos para acesso ao mercado global.

Mudar esse posicionamento na produção exige tecnologia e investimentos empresariais, o que é mais um desafio: há grande receio de entrada empresarial, seja do exterior ou de outras regiões Brasil, porque a região oferece riscos diferenciados.

As exportações são o teste de fogo para os exportadores, devido à necessidade de atender diversos requisitos mínimos para que os produtos sejam aceitos no mercado internacional quanto a qualidade e garantia de sustentabilidade.

Salo destaca que a preocupação com o uso da Amazônia é legitima, com custos para população local e meio ambiente, e que a condição essencial é o bom controle e monitoramento para garantir o zero desmatamento.

“Desta forma, criamos a fundação sólida e expressiva para o desenvolvimento da região. O desmatamento estraga a reputação e inibe o interesse em investimentos”, afirma.

Entre as opções de melhor uso da região, o estudo foca em áreas que foram desmatadas e abandonada, ou que abrigam pecuária com baixa produtividade. “Não há necessidade de desmatar e usar novas áreas para o cultivo e produção de alimentos”, defende Salo.


SOBRE O AUTOR

Fábio Cardo é economista de formação, atua em comunicação empresarial e empreendedorismo e é co-publisher do canal FoodTech da Fast Co... saiba mais