Este engenheiro está criando uma bateria para durar quase mil quilômetros
A startup ONE surgiu com uma maneira inteligente de fabricar uma bateria de longa duração para veículos elétricos
Os veículos elétricos estão alcançando um ponto de virada nos EUA. Mas, mesmo com os aumentos nas vendas, as baterias ainda podem precisar mudar significativamente antes que eles consigam substituir totalmente os carros e caminhões movidos a combustíveis fósseis. Esse é o argumento de Mujeeb Ijaz, um empresário que já trabalhou no projeto secreto de carros elétricos da Apple.
“Concluí que, para satisfazer o mercado, realmente precisamos dobrar a quantidade de energia a bordo de um veículo elétrico”, diz Ijaz, que deixou a Apple em meados de 2020 para lançar uma startup de bateria chamada ONE, acrônimo para Our Next Energy. “Ninguém estava contando com isso.”
A autonomia dos carros elétricos de hoje é suficiente para a maioria dos usos diários. Para ir e voltar do trabalho ou fazer trajetos curtos, não há problema, basta recarregar o carro à noite. Mas viagens mais longas podem ser complicadas. Ijaz, que dirige esse tipo de veículo há 15 anos, lembrou uma recente viagem com a sua família, da região de São Francisco, na Califórnia, até o lago Tahoe, na divisa com o estado de Nevada.
A bateria descarregou ao subir uma montanha no caminho. Era preciso encontrar um lugar para carregar, mas, como era feriado, a fila para usar o carregador era longa. Depois, houve também o tempo de espera enquanto a bateria carregava. “Foi simplesmente um transtorno”, diz Ijaz.
À medida que a ONE trabalhava para aumentar o alcance da bateria, também se empenhava em se achar um jeito de descartar o uso de dois materiais-chave nas baterias atuais: níquel e cobalto. Essas matérias-primas são quase todas extraídas fora dos EUA. A restrição de oferta eleva os preços, e os materiais podem se autooxidar, o que significa maior risco de incêndio.
A equipe da ONE analisou diferentes materiais, mas a maioria não fornecia potência suficiente. Então, precisaram ser criativos. “Até agora, a maioria das pessoas na indústria automobilística e de baterias diria que o caminho para alcançar mais potência é apenas mais densidade de material e mais capacidade. E cada evolução química é geralmente uma mudança incremental.”
Em vez disso, a ONE criou algo completamente diferente: uma bateria “híbrida”, que reúne duas tecnologias em uma caixa. Em trajetos curtos, dentro da cidade, o veículo usa um lado da bateria. Para viagens mais longas, muda automaticamente para o outro lado.
“Seu veículo só precisa percorrer uma distância muito longa em cerca de 1% do tempo de uso. Concluímos que poderíamos oferecer duas químicas diferentes, uma para direção diária e outra para trajetos longos. Essa premissa, por si só, abre uma forma totalmente nova de resolver a questão de como fazer veículos elétricos com baixo custo e cobertura robusta”, diz Ijaz.
A bateria, chamada Gemini, tem um alcance de 980 quilômetros. Em comparação, o Chevrolet Bolt consegue percorrer cerca de 420 quilômetros antes de recarregar. O design da Gemini também reduz o custo pela metade, devido à mudança de materiais.
O lado da bateria usado para a condução diária eliminou completamente o níquel e o cobalto, usando o ferro. O lado para viagens longas atualmente usa química de níquel-cobalto, mas a equipe da ONE está desenvolvendo uma versão que substitui o cobalto por manganês – material abundante e de baixo custo.
Caso a bateria do Gemini substituísse a de um Tesla ou GM Hummer, por exemplo, ela teria 20% menos lítio, 60% menos grafite, 75% menos níquel e zero cobalto, segundo Ijaz. “Estamos caminhando em uma direção na qual conseguimos o dobro do alcance com muitas reduções de materiais.”
Em outubro, a empresa anunciou que está construindo uma nova fábrica de baterias em Michigan, onde treinará novamente os trabalhadores para mais de duas mil vagas. Quando as baterias forem testadas na fábrica, servirão ao duplo propósito de armazenar eletricidade renovável para a rede, para que a ONE possa ser paga pela concessionária por esse serviço.
“Usamos isso para garantia de qualidade e para redução de custos, tornando a fábrica uma bateria gigante que devolve energia à rede e usando as baterias em serviço dessa rede por 30 dias”, diz Ijaz. “Só depois as enviamos para clientes da indústria automotiva.”
A BMW, uma das parceiras, ajudará a testar a bateria em veículos no início de 2023. A tecnologia passará por mais pesquisas no ano que vem até alcançar o ponto em que as montadoras poderão assinar contratos de produção. Nas estradas, as baterias só devem chegar em 2026 ou 2027.