5 grandes ideias que podem ajudar a salvar o planeta

O prêmio Earthshot, criado pelo príncipe William, concedeu US$ 1,2 milhão a cinco vencedores de todo o mundo

Crédito: Istock

Mark Maslin 5 minutos de leitura

A mudança climática é uma das maiores ameaças já enfrentadas pela humanidade. Mas há muitos trabalhos promissores que buscam saídas. Foi com o intuito de apoiar essas iniciativas e de fazer a diferença que o príncipe William, de Gales, criou o Prêmio Earthshot.

A premiação celebra e investe em soluções para salvar o planeta, concedendo US$ 1,2 milhão ao vencedor de cada uma das cinco categorias, para que eles desenvolvam seus projetos. 

Sou cientista e pesquiso os sistemas que sustentam a vida em nosso planeta. Em 2022, tive o privilégio de participar da cobertura da premiação pela BBC. Depois de ter feito a análise das indicações e a checagem de fatos para os roteiros da transmissão, estou confiante de que cada um dos vencedores vai contribuir muito para a preservação de um futuro habitável. 

Príncipe William na entrega do prêmio, em Boston (Crédito: Alex Bramall/ The Earthshot Prize/ Getty Images)

Conheça as categorias e os vencedores:

LIMPEZA DA ATMOSFERA

Mukuru Clean Stoves (Quênia)

Charlot Magayi cresceu em Mukuru, uma das maiores favelas de Nairóbi, no Quênia. Ela ficou órfã aos 10 anos e se tornou mãe aos 16. Para cozinhar, usava um fogão tradicional movido a lenha – um método que polui o ar em ambientes fechados e mata mais de dois milhões de pessoas por ano em todo o mundo.

Quando sua filha tinha apenas dois anos, o fogão caiu sobre a criança, causando uma queimadura grave. Foi então que Magayi prometeu a si mesma que criaria alguma alternativa mais segura. Ela entrou na faculdade e inventou um fogão mais estável e eficiente, que usa 60% menos combustível e que pode funcionar com combustível sem fumaça, se disponível.

Os fogões limpos da Mukuru Clean Stoves são feitos de resíduos de metal de origem local e podem reduzir a poluição tóxica do ar em até 90%, além de reduzir as emissões de carbono. 

PROTEÇÃO E RECUPERAÇÃO DA NATUREZA

Kheyti/ Greenhouse-in-a-box (Índia)

Quando Sathya Raghu Mokkapati era adolescente, viu um fazendeiro de sua aldeia comendo lama. Anos depois, ele se uniu ao empresário Kaushik Kappagantulu, e os dois passaram seis meses viajando pela Índia, encontrando centenas de agricultores que contavam sempre a mesma história: não importava o quanto eles trabalhassem, a imprevisibilidade do clima decorrente das mudanças climáticas poderia acabar com as colheitas, reduzir a renda a zero e fazer com que passassem fome. 

No mundo todo, existem mais de 600 milhões de agricultores que cuidam de lotes menores que dois hectares. Como parte de uma equipe internacional, Mokkapati e Kappagantulu criaram uma estufa modular acessível e completa, chamada “greenhouse in a box”. Ela é capaz de proteger as colheitas mesmo nas condições meteorológicas mais adversas, e ainda fornece irrigação. Essas estufas portáteis são duráveis e podem evitar a falência e a fome de milhões de agricultores ao redor do mundo.

CONSTRUÇÃO DE UM MUNDO SEM RESÍDUOS

Notpla/ Bioplásticos de algas marinhas (Reino Unido)

As 400 milhões de toneladas de plástico produzidas neste ano acabarão se decompondo em microplásticos que vão parar no oceano, nos alimentos e até no nosso sangue. Em um alojamento para estudantes em Londres, em 2012, Pierre Paslier e Rodrigo Garcia González resolveram desenvolver uma alternativa natural ao plástico, que fosse biodegradável. E foi no oceano que eles encontraram a solução: algas marinhas.

As algas marinhas crescem incrivelmente rápido – em algumas espécies, até 30 centímetros por dia. Conforme crescem, elas absorvem dióxido de carbono da atmosfera. Os plásticos convencionais são feitos de combustíveis fósseis, portanto, substituí-los por bioplástico feito de algas marinhas ajudará a reduzir as mudanças climáticas.

REVIGORAR OS OCEANOS

Mulheres indígenas da Grande Barreira de Corais (Austrália)

Os povos indígenas da Austrália não separam a terra e o mar. Eles veem esses dois elementos como um só corpo, em uma cosmovisão que captura com precisão o quanto os ecossistemas estão interconectados.

A rede de mulheres indígenas que atuam como guardas da natureza em Queensland se baseia em mais de 60 mil anos de conhecimento tradicional para conservar os ecossistemas e treinar outras pessoas a fazer o mesmo. 

As guardas florestais resgatam e reabilitam espécies na Grande Barreira de Corais, como tartarugas marinhas que são capturadas em redes de pesca ou que ingeriram plástico.

Também protegem e restauram florestas marinhas. Essas florestas, compostas de plantas que florescem e são polinizadas como as que existem na terra, podem enterrar carbono no fundo do mar muito mais rápido do que as florestas tropicais.

REPARAR O CLIMA

44.01/ Transformando CO2 em rochas (Omã)

Talal Hasan cresceu em Omã, com suas praias intocadas, seus corais e desertos. Ele ficou chocado ao descobrir, na costa do seu país, uma zona morta do tamanho da Flórida. Lá, há pouco ou nenhum oxigênio. Pior: à medida que as emissões de CO2 aumentam e o oceano aquece, esta zona sem vida cresce. 

Hasan se uniu ao professor Juerg Matter, da Universidade de Southampton, em busca de uma solução. Eles começaram a capturar CO2 da atmosfera, dissolvê-lo em água e injetá-lo em rochas subterrâneas, onde o gás carbônico reage com peridotito – uma rocha grosseira encontrada nas profundezas do manto da Terra – para formar um mineral estável.

Esse processo remove permanentemente o carbono da atmosfera. Hoje, o Omã tem um dos maiores depósitos de peridotito do mundo. Além disso, a técnica da startup 44.01 é muito mais segura e barata do que as abordagens tradicionais de armazenamento de carbono, que incluem bombeá-lo para poços de petróleo abandonados.

Todas essas cinco inovações mereciam a vitória. Embora o prêmio apoie os vencedores no desenvolvimento inicial de suas soluções, sinto que poderia haver um financiamento ainda maior, para ajudar suas ideias a irem ainda mais longe.


SOBRE O AUTOR

Mark Maslin é professor de ciência do sistema terrestre na University College de Londres. saiba mais