Esta garrafa biodegradável é feita com restos de alimentos
A estimativa é que a nova garrafa de água da startup Cove se degrade em menos de cinco anos no meio ambiente
Uma startup chamada Cove criou uma garrafinha de água que parece ser feita de plástico comum. Só que ela é a primeira embalagem desse tipo a ser produzida a partir de uma mistura de PHA, um tipo de polímero de base biológica projetado para se decompor quando compostado – ou, na pior das hipóteses, se for parar no oceano.
“Usar garrafas descartáveis para vender e beber água é o cúmulo da poluição plástica”, assinala Alex Totterman, fundador e CEO da Cove. “Acreditamos que, se criarmos uma boa solução para o destino de um milhão de garrafas descartadas a cada minuto, provaremos que é possível resolver o problema global dos plásticos.”
O novo material é feito a partir de fermentação: os micróbios são alimentados com óleo vegetal, açúcar, resíduos de alimentos ou CO2 capturado. Suas células então produzem naturalmente um polímero que pode ser extraído e transformado em plástico. Se esse tipo de plástico for jogado no meio ambiente, outros micróbios podem decompô-lo.
Hoje em dia, os fragmentos de cada uma das mais de 500 bilhões de garrafas plásticas fabricadas por ano podem durar décadas ou até séculos nos lagos ou oceanos. Mas Totterman espera que a garrafa de PHA da Cove se degrade totalmente em menos de cinco anos no meio ambiente.
Ainda não se sabe o tempo exato que essas garrafas vão levar para se decompor, pois isso dependerá do ecossistema. “A biodegradabilidade não é mágica. Não é só jogar fora e pronto.”, diz Ramani Narayan, professor da Michigan State University que estuda plásticos biodegradáveis.
“Nenhum ambiente é igual ao outro... Geralmente, o máximo o que conseguimos é obter uma estimativa que fornece um limite máximo e um limite mínimo de quanto tempo levará”, explica Ben Kogan, chefe de sustentabilidade e política da Cove. Com base em um estudo anterior, a empresa espera que a garrafa leve entre 1,5 e 4,5 anos para se decompor.
Com o equipamento certo, o material também poderia ser reciclado. No entanto, até que existam mais embalagens de PHA no mercado, os recicladores não têm motivos para investir em toda uma nova infraestrutura. “Daria para reciclar esse PHA até mesmo oferecendo-o como alimento às próprias bactérias que os produziram”, diz Totterman.
As novas garrafas ainda são caras, embora a empresa contra-argumente que os custos de fabricação diminuirão com a escala e que os insumos usados (como restos de alimentos) são baratos. Eles também foram ousados na hora de projetar o design. Como ninguém mais usa PHA, a empresa não podia simplesmente encomendar garrafas de um fornecedor e teve que construir uma fábrica própria.
A Cove foi inicialmente programada para ser lançada em 2019, mas ainda havia obstáculos a serem superados, que iam desde problemas na cadeia de suprimentos (por causa da pandemia) até problemas com o material. O design final usa uma mistura de diferentes tipos de PHA. Devido aos desafios de tornar esse tipo de plástico transparente, essas garrafas são brancas, em vez das típicas embalagens translúcidas.
Por serem mais caras – US$ 2,99 por garrafa – o mercado para o produto da Cove pode ser mais limitado por enquanto. A esperança é ampliar o público consumidor e começar a substituir as águas engarrafadas convencionais.
A primeira fábrica tem capacidade para produzir 20 milhões de garrafas por ano. A startup, que arrecadou US$ 20 milhões desde 2018, planeja construir uma unidade ainda maior no ano que vem.
“O que estamos tentando fazer é inspirar e esperar que sigam nosso exemplo, conforme os consumidores forem dando mais sinais de demanda por plástico degradável – como aconteceu com os veículos elétricos”, explica Totterman. “Realmente, só precisa haver um caso pioneiro convincente e os outros seguirão pelo mesmo caminho”