Jornalistas banidos, Spaces fora do ar, contas suspensas: um dia de caos no Twitter
Para completar, uma enquete sobre se Musk deveria continuar como CEO. O povo disse não
Na semana passada, os usuários do Twitter presenciaram o que talvez tenha sido o dia mais caótico na rede social desde que Elon Musk assumiu o controle da plataforma, em outubro passado – e olha que desde então a coisa já andava bem conturbada. Em um intervalo de apenas algumas horas na quinta-feira, dia 15, aconteceu tudo isso:
- A conta Mastodon (rede rival em expansão) no Twitter, foi suspensa.
- Jornalistas da CNN, The Washington Post, The New York Times, Mashable e de outros veículos tiveram seus perfis suspensos (supostamente por terem criticado Musk).
- O Spaces saiu do ar depois que alguns dos jornalistas suspensos se juntaram a um bate-papo aberto via áudio – do qual, aliás, o próprio Musk participou brevemente.
O drama começou logo no início do dia, quando diversos jornalistas começaram a relatar que a conta @ElonJet (que publicava dados sobre os voos do jato particular do empresário) tinha sido banida. O caso é que o próprio Musk havia dado a palavra de que não suspenderia a conta, devido ao seu “compromisso com a liberdade de expressão”.
Só que ele voltou atrás, alegando que o compartilhamento de informações sobre seu jato era uma forma de doxxing (divulgação de informações pessoais sem consentimento) e que colocava sua família em perigo.
Resumindo: a conta do Mastodon (sim, a rede concorrente mantinha um perfil no Twitter) foi suspensa por ter divulgado um link para o conteúdo da conta @ElonJet, agora hospedada no próprio Mastodon. Em seguida, jornalistas que denunciaram o ocorrido se viram também suspensos da plataforma.
Alguns deles se juntaram a uma conversa no Twitter Spaces, hospedada pela repórter Katie Notopoulos, do BuzzFeed News – da qual o próprio Musk participou durante um tempo, mas depois saiu sem se despedir. Logo depois, o Spaces ficou offline para todos os usuários, sob a justificativa de que a empresa estava “consertando um bug”.
Em resposta às retaliações de Musk contra jornalistas, Věra Jourová, vice-presidente de valores e transparência da Comissão Europeia, classificou as ações da plataforma como "preocupantes" e pediu que a CE considere sanções contra o Twitter "em breve".
A CNN respondeu às suspensões de jornalistas com uma declaração dizendo que “a crescente instabilidade e volatilidade do Twitter preocupa todos que usam a plataforma”.
A editora executiva do The Washington Post, Sally Buzbee, declarou: “A suspensão da conta de Drew Harwell no Twitter contradiz diretamente a afirmação de Elon Musk de que ele pretendia administrar o Twitter como uma plataforma dedicada à liberdade de expressão”.
E, é claro, diversos usuários não deixaram de tuitar uma avalanche de memes e críticas em referência a esses eventos caóticos. Uma piada, em particular, viralizou: trata-se de se referir a Musk como "Space Karen", zombando de sua intenção de colonizar Marte.
A palavra Space, que remete à sua empresa aeroespacial Space X, forma um nome composto com “Karen”, gíria pejorativa usada nos EUA (e em algumas partes do Brasil) para descrever mulheres brancas de meia-idade que reclamam de coisas insignificantes e se sentem superiores a outras pessoas.
O INÍCIO DO IMBROGLIO
A coisa começou quando, na manhã da última quarta-feira (14/12), o jovem Jack Sweeney acordou com uma enxurrada de recados, telefonemas e mensagens no Telegram avisando-o para checar seu Twitter.
Além de sua conta pessoal, ele é conhecido por manter o perfil @elonjet, informando sobre os pousos e decolagens do jato particular de Musk. Não só essa conta foi suspensa como outras que o jovem administra para acompanhar o movimento dos jatinhos de diversas celebridades, como Donald Trump, Kylie Jenner e Taylor Swift.
Era um projeto despretensioso, criado para matar o tédio do então estudante do ensino médio em 2020, quando o mundo entrou em quarentena por conta da Covid-19. Sweeney criou bots que identificam quando os aviões particulares desses famosos partem ou chegam em algum aeroporto, com base em dados públicos da ADS-B Exchange.
Um ano depois, as contas haviam atraído milhares de seguidores e trazido à tona uma discussão sobre as emissões de carbono gerada por essas viagens, principalmente as de curta distância.
Até então, as regras sobre doxxing do Twitter tratavam da exposição de dados pessoais como endereço ou número de telefone, a menos que essas informações já fossem públicas.
Mas, de repente, a regra foi “atualizada” para incluir a proibição de divulgar dados sobre rotas de viagem, independentemente de eles serem públicos. A alegação é de que compartilhar a localização em tempo real pode colocar em risco a segurança da pessoa em questão.
A reação da “twittosfera” foi rápida e virulenta, como costuma acontecer na plataforma. Especialmente porque o bilionário havia garantido que não deletaria a conta. Diante da repercussão, ele voltou atrás e liberou o perfil. Mas depois mudou de ideia e voltou atrás de novo, suspendendo tudo de novo.
No fim, Sweeney levou a conta para o concorrente Mastodon e garante que a confusão só fez encorajá-lo a continuar trabalhando em seu novo projeto: um site onde pretende rastrear os jatinhos de celebridades em tempo real, incluindo o cálculo da quantidade de carbono emitido no deslocamento. Ou seja, a história está longe de terminar.