Verbas secretas estão financiando o movimento anti-ESG

Leonard Leo e a Heritage Foundation estão por trás de grande parte das doações para políticos que apoiam leis anti-ESG

Crédito: Istock

Adele Peters 4 minutos de leitura

Em julho, o governador da Flórida, Ron DeSantis, anunciou planos para combater o que ele chama de CEOs “woke”, gíria em inglês usada para descrever pessoas que estão atentas a questões sociais. Esta foi apenas mais uma ofensiva de uma série de ataques coordenados contra os indicadores ESG – fatores ambientais, sociais e de governança que os principais investidores agora consideram ao avaliar os riscos que empresas enfrentam.

DeSantis prometeu que impediria os gestores de fundos estaduais de considerar indicadores ESG ao investir o dinheiro do estado. Este mês, ele retirou US$ 2 bilhões da BlackRock, a maior empresa de investimentos do mundo, por causa de suas políticas sociais e climáticas. Além da Flórida, outros estados norte-americanos também estão retirando investimentos da empresa.

Em 2021, o Texas aprovou uma lei que proíbe as agências governamentais de fazer negócios com empresas que o governo do estado afirma estarem boicotando os combustíveis fósseis.

a maioria dos especialistas defende que considerar questões como o clima é prudente para os investidores.

Em agosto, o estado da Virgínia Ocidental anunciou que grandes bancos, como o Wells Fargo e o Goldman Sachs, seriam impedidos de fechar contratos com o governo porque estavam investindo menos em carvão. E, no ano passado, pelo menos 17 estados propuseram ou adotaram leis anti-ESG.

Este não é um movimento popular, tampouco do setor financeiro, já que a maioria dos especialistas defende que considerar questões como o clima é prudente para os investidores. “Acredito que há motivação política”, diz Witold Henisz, professor da Wharton School e diretor da Iniciativa ESG da Universidade da Pensilvânia.

“Podemos ver alguns dos mesmos métodos utilizados para se opor à ciência ao negar a crise climática, como doações a políticos contrários à pauta. E alguns deles têm motivação econômica – são investidores em setores altamente poluentes ou que violam os padrões de segurança e saúde no local de trabalho”, completa.

NEGACIONISMO CLIMÁTICO

Leonard Leo, o ativista conhecido por pressionar o Partido Republicano a se concentrar na nomeação de juízes conservadores, é uma das principais figuras que orquestram os ataques ao ESG por meio de uma rede de grupos financiados por fontes anônimas.

O financiamento vem de grandes doadores como Barre Seid, um bilionário que doou sua empresa para uma organização sem fins lucrativos controlada por Leo no final de 2020. Um fundo vendeu a empresa por mais de US$ 1,6 bilhão e, em seguida, outra organização sem fins lucrativos aconselhada pelo ativista, a Consumers’ Research, lançou uma campanha anti-ESG.

Podemos ver alguns dos mesmos métodos utilizados para se opor à ciência ao negar a crise climática.

A Consumers’ Research, por sua vez, doou dinheiro para outra organização, a State Financial Officers Foundation, que começou a coordenar o movimento anti-ESG com tesoureiros estaduais republicanos no Kansas. Um gráfico do Documented, um projeto de jornalismo investigativo, mapeia as conexões entre os grupos envolvidos.

A Heritage Foundation, conhecida por seu trabalho – financiado pela Exxon – em prol do negacionismo climático, também faz parte do movimento e publicou uma série de pontos de discussão para os legisladores, incluindo uma comparação com os sistemas de pontuação “usados pelo Partido Comunista Chinês”.

Muitos gestores de ativos, entretanto, continuam reafirmando a importância de considerar fatores como o clima. E os investidores continuam a apoiar fundos mútuos ESG, especialmente os mais jovens. Cerca de 82% dos investidores da geração Z e quase dois terços dos millennials têm fundos ESG em seus portfólios

“O movimento ESG é composto por trilhões de dólares de proprietários de ativos que acreditam que o risco climático é real e querem descobrir como isso afeta seus portfólios e suas decisões de investimento”, explica Henisz. “CEOs e executivos estão tentando descobrir como valorizar os fatores ESG, porque eles são reais.”

RISCO PALPÁVEL

Mas isso não quer dizer que o ESG funcione perfeitamente.

CEOs e executivos estão tentando descobrir como valorizar os fatores ESG, porque eles são reais.

Muitas vezes é difícil medir o desempenho das empresas em questões como clima e os sistemas de pontuação podem não conseguir identificar alguns riscos. “A lógica, no entanto, é muito clara. O risco climático é palpável. Devemos trabalhar para obter melhores dados e fazer análises melhores”, diz Henisz.

O que ainda não está claro é como as empresas responderão a estes persistentes ataques. A Vanguard recentemente deixou a iniciativa Net Zero Asset Managers, uma rede que visa ajudar empresas a atingir metas de carbono zero, de acordo com as metas climáticas globais. Mas a BlackRock anunciou que planeja permanecer no grupo.

Segundo Jacey Bingler, da organização sem fins lucrativos Sunrise Project, há pouco apoio político para a campanha anti-ESG, 

As ações do estado já estão onerando mais os contribuintes: um estudo descobriu que seis meses depois que o Texas promulgou suas políticas anti-ESG, os contribuintes passaram a pagar até US$ 500 milhões a mais de juros porque o estado tinha menos opções de instituições financeiras com quem negociar.


SOBRE A AUTORA

Adele Peters é redatora da Fast Company. Ela se concentra em fazer reportagens para solucionar alguns dos maiores problemas do mundo, ... saiba mais