Questionar suas certezas pode ser uma coisa boa antes de tomar decisões
Nem sempre percebemos que estamos confiando em informações incompletas ou equivocadas na hora de tomar decisões
Você já se equivocou? Embora nem sempre seja muito fácil admitir, todos nós cometemos erros ou somos enganados por informações falsas. Nossos cérebros têm uma tendência ao excesso de confiança em crenças estabelecidas, o que às vezes pode ser problemático.
“Duvidar um pouco das certezas nos leva mais longe”, defende Nika Kabiri, diretora sênior de ciência da decisão na empresa de tecnologia jurídica Clio. “O que estou dizendo não é para duvidarmos da nossa capacidade ou da nossa capacidade de tomar boas decisões. É mais no sentido de que precisamos duvidar daquilo que já sabemos e das informações que recebemos.”
Kabiri explica que a razão pela qual é importante duvidar das informações que nos chegam é porque nossos cérebros são programados para serem hipereficientes. “Eles ocupam cerca de 2% de nossa massa corporal e gastam 20% de nossa energia”, diz ela. “Se eles não fossem eficientes, não conseguiríamos funcionar.”
Para economizar energia, o cérebro tira conclusões precipitadas e se utiliza de previsões e simulações.
Para economizar energia, o cérebro tira conclusões precipitadas e se utiliza de previsões e simulações. Como essa é a nossa inclinação natural, não percebemos que estamos contando com informações erradas quando tomamos decisões, diz Kabiri.
“Temos tendância a acreditar que sabemos mais do que realmente sabemos”, diz ela. “Também somos criaturas sociais e influenciados por aqueles que estão ao nosso redor. Muitas vezes, tomamos decisões com base no que as outras pessoas estão pensando ou fazendo.”
Em eras pré-industrializadas e pré-modernas, tomar decisões com base nos outros era útil, porque vivíamos em clãs e grupos familiares muito unidos, com interesses e necessidades semelhantes. “Mas no mundo moderno, somos tão heterogêneos... E, ainda assim, é comum nos deixarmos levar por pessoas ao redor que são diferentes e que não partilham dos mesmos interesses.”
COMO ESTIMULAR O AUTOQUESTIONAMENTO
Se você incorporar uma mentalidade de crescimento, colocando-se na posição de eterno aprendiz, será mais fácil levantar dúvidas quando necessário. O cérebro é dependente das informação mais fáceis de obter, que geralmente são aquelas que já estão na nossa mente ou que aparecem primeiro na nossa frente. Em vez disso, esforce-se para ter a mente mais aberta, se perguntando constantemente: “eu realmente sei tudo? Não há mais nada para aprender?” sugere Kabiri.
“A curiosidade deve fazer parte do seu DNA. Ela proporciona o que os neurocientistas chamam de ‘plasticidade cerebral’, permitindo que o cérebro reformule ou recalibre o que sabe para enxergar o mundo real como ele é e obter as informações de que realmente precisa”, diz ela.
PENSE OBJETIVAMENTE
Pode ser desconfortável nos questionarmos, mas Kabiri sugere que tentar olhar para uma situação do ponto de vista de outra pessoa pode ajudar.
Muitas vezes, tomamos decisões com base no que as outras pessoas estão pensando ou fazendo.
“Pergunte a si mesmo: 'o que alguém nessa situação precisa saber para tomar essa decisão?'. Devido ao excesso de confiança, achamos que não precisamos pesquisar mais. Quando nos perguntamos o que outra pessoa precisaria saber, estamos despersonalizando a dúvida, tirando o ego da frente e abrindo espaço para novas informações.”
Comece listando o que é necessário saber. Em seguida, alinhe essas informações com o que você já sabe, procurando lacunas onde é necessário estudar mais.
Todos queremos sentir confiança em nossas decisões, acreditando que fizemos a escolha certa. Mas a verdade é que a confiança é um sentimento, e não um estado real. Por isso, a dúvida pode ser uma boa ferramenta.
NÃO TOME DECISÕES APRESSADAS
Em nossa cultura, precisamos começar a nos sentir mais confortáveis em contrariar as normas em torno das tomadas de decisão. Por exemplo, nos Estados Unidos, o líder de uma empresa costuma ser considerado seguro se segue a linha “É isso que meu instinto está me dizendo. Isto é o que eu sei. E é isso que vamos fazer”, diz Kabiri.
a verdade é que a confiança é um sentimento, e não um estado real.
Mas nem todas as culturas se comportam dessa maneira. No Japão, por exemplo, as tomadas de decisão são muito mais demoradas. O líder confia muito mais no consenso entre sua equipe. Ou seja, nem sempre a rapidez nas decisões é um requisito para alguém se tornar um bom líder, explica a executiva.
Ter confiança e estar seguro de si são sensações muito frágeis, sujeitas a qualquer tipo de intercorrência. O que importa é quão bem você está executando cada uma das etapas do processo e certificando-se de preencher as lacunas.
“A dúvida sobre aprender, crescer e permanecer aberto requer coragem e ajuda você a admitir que ainda tem muito a aprender”, diz ela.