É hora de as empresas pagarem pelos danos causados pela mudança climática

Muitas agora têm metas de emissão líquida zero, mas poucas falam em assumir a responsabilidade pelos impactos de suas emissões passadas

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Adele Peters 4 minutos de leitura

Quatro anos atrás, milhares de empregados da Amazon assinaram uma carta aberta a Jeff Bezos pedindo que tomasse medidas mais firmes para combater as mudanças climáticas e se comprometesse com um plano para reduzir as emissões da empresa. Meses depois – pouco antes de os trabalhadores planejarem uma greve climática – a Amazon anunciou que pretendia zerar suas emissões líquidas até 2040.

Agora, além de continuar a pressionar a empresa para que tome mais medidas para atingir essa meta, os funcionários também estão pedindo ela que repare os danos já causados por suas emissões. Os defensores do clima argumentam que outras organizações deveriam fazer o mesmo, especialmente as empresas de combustíveis fósseis, que são responsáveis pela maior parte das emissões de gases de efeito estufa.

Só no ano passado, a Amazon foi responsável pela emissão de mais de 70 milhões de toneladas de CO2.

Em uma petição interna, centenas de trabalhadores de tecnologia da Amazon estão pedindo à empresa que iguale as doações de funcionários para ajudar a reconstruir o Paquistão, após as enchentes históricas do ano passado (a Amazon atualmente não iguala as doações de caridade de funcionários, ao contrário de muitas grandes empresas).

Também querem que seja criado um fundo para dar suporte contínuo a países que vêm sofrendo com os impactos cada vez mais devastadores das mudanças climáticas.

Os trabalhadores argumentam que esta é uma maneira de a empresa “começar a assumir a responsabilidade pelos danos já causados por sua grande e constante contribuição para as emissões históricas de carbono”. Somente no ano passado, a Amazon foi responsável pela emissão de mais de 70 milhões de toneladas de CO2.

DESINFORMAÇÃO E DESCASO

Centenas das maiores empresas do mundo agora têm metas líquidas zero carbono, mas poucas estão falando em assumir a responsabilidade pelos impactos de suas emissões passadas.

Em 2020, a Microsoft anunciou que planejava se tornar negativa em carbono até o final da década e, em seguida, compensar todas as suas emissões históricas até 2050. Mas não se comprometeu a dar suporte em caso de desastres relacionados às suas emissões.

Há anos, os defensores do clima argumentam que as empresas de combustíveis fósseis, responsáveis pela maior parte das emissões, deveriam pagar pelos danos causados pela mudança climática.

o Paquistão é um exemplo de país com pegada de baixo carbono, mas que está sob risco de impactos climáticos.

“Agora sabemos, olhando para décadas atrás, que essas empresas estavam cientes dos danos associados à queima de seus produtos”, afirma Kathy Mulvey, diretora de campanha de responsabilidade da Union of Concerned Scientists.

“Eles não apenas não direcionaram seus negócios para um sistema de energia limpa, mas também produziram ativa e deliberadamente diferentes campanhas de desinformação para enganar o público e os legisladores e impedir qualquer ação contrária.”

Na cúpula global do clima da ONU do ano passado, os Estados-membros chegaram a um acordo histórico para oferecer financiamento de “perdas e danos” para os países mais vulneráveis – como o Paquistão, que tem uma pegada de baixo carbono, mas que está particularmente sob risco de impactos climáticos. As inundações de 2022 no país mataram mais de 1,7 mil pessoas e causaram prejuízos de US$ 14,9 bilhões.

Os países que mais emitiram no passado têm o dever de ajudar, de acordo com Mulvey, e as empresas também podem assumir esta responsabilidade. Elas têm condições de ajudar.

LUCRO DE SOBRA

Um relatório da Oxfam do ano passado descobriu que os lucros obtidos por seis empresas petrolíferas, somente no primeiro semestre de 2022, poderiam cobrir todos os danos causados por desastres climáticos em países de baixa renda no mesmo período, e ainda sobrariam bilhões de dólares.

Nas últimas duas décadas, as empresas de petróleo poderiam facilmente ter arcado com o valor estimado de US$ 500 bilhões em danos causados pelas mudanças climáticas nos países mais vulneráveis, segundo o relatório.

O clima é um problema complexo e precisamos de muito mais do que a filantropia de algumas poucas empresas.

É improvável que essas empresas, voluntariamente, paguem pelas reparações. Mas é possível que outras possam dar esse passo. Os funcionários que pressionam a Amazon a assumir um papel mais ativo no clima disseram que “ainda não receberam uma resposta concreta”.

Quando contatado, um porta-voz da Amazon observou que a empresa já tem um programa em vigor que usa sua infraestrutura para prestar socorro em desastres. No Paquistão, onde tem pouca presença, a empresa doou US$ 200 mil em dinheiro para ajudar nas enchentes.

O financiamento da reparação climática pode fazer a diferença, defende Bill Weihl, fundador da ClimateVoice, organização que mobiliza funcionários para pressionar seus empregadores a agir sobre o clima. Mas é apenas parte da solução. “O clima é um problema complexo, e precisamos de muito mais do que a filantropia de algumas poucas empresas.”

É fundamental que elas ajudem a aprovar leis climáticas mais rígidas para reduzir as emissões, argumenta Weihl, apontando para o fato de empresas como a Amazon pertencerem a associações comerciais que fazem lobby contra a política climática. Além disso, ainda precisam fazer muito mais para atingir seus próprios objetivos climáticos.


SOBRE A AUTORA

Adele Peters é redatora da Fast Company. Ela se concentra em fazer reportagens para solucionar alguns dos maiores problemas do mundo, ... saiba mais