O carro do futuro será plant-based (pelo menos parte dele)
Novo pneu 90% sustentável leva derivados de casca de arroz, soja e resina de pinheiros em sua composição
Os brasileiros já convivem há décadas com combustíveis alternativos, à base de cana-de-açúcar para produzir o álcool etanol, e com o biodiesel, produzido a partir de óleos vegetais e gordura de animais – não é um puro plant-based, mas também não tem derivados de petróleo. Ou seja, já somos plant-based no quesito combustíveis.
Mais recentemente, arroz, girassol, soja e madeira viraram matérias-primas a serem utilizadas na fabricação de novos itens que entrarão na estrutura dos carros. Inovações apresentadas ao mercado apontam que produtos vegetais podem ser aproveitados na produção de peças automotivas, sem a necessidade de uso de derivados de petróleo. E não afetam a oferta de alimentos para consumo humano.
A inovação mais próxima de se tornar um produto de mercado é um pneu produzido pela Goodyear. Conta com 17 ingredientes, sendo que 90% dos materiais são sustentáveis. Inclui derivados produzidos a partir de casca de arroz, soja e resina de pinheiros.
Além dessa pegada sustentável, a empresa prevê que o pneu rodará 500 mil quilômetros – bem mais dos que 60 ou 70 mil dos atuais. Lembrando que pneus são itens de grande impacto ambiental, por conta da dificuldade de reciclagem, coleta e destinação do resíduo.
Segundo comunicado da empresa durante a CES 2023, essas tecnologias visam ajudar na redução de emissões de poluentes, na circularidade de matérias-primas e no uso de carbonos de base biológica. A novidade já passou por todos os testes de rodagem e deve estar disponível para venda ainda este ano.
MELHOR APROVEITAMENTO DE SUBPRODUTOS
Muitas vezes os subprodutos do agro são mal aproveitados. No caso da cultura do arroz, com milhões de toneladas produzidas, quando não ia direto para os aterros sanitários, a casca já tinha alguma expressão. Agora, pode gerar um ótimo valor agregado.
A casca de arroz é, em grande parte, destinada à queima e cogeração de energia, por seu alto poder calorífico e regularidade térmica. Adicionalmente, a sílica presente na casca há anos teve seu uso ampliado em estruturas de concreto, devido ao aumento da resistência da estrutura e à redução de sua espessura.
A sílica já é usada na fabricação de pneus para melhorar a aderência e reduzir o consumo de combustível. Agora, chegou a vez de adotar o material produzido a partir da casca de arroz.
Além desse, outros componentes inovadores compõem o pneu, como óleo de soja (ajuda a manter a flexibilidade sob altas temperaturas), resina biorrenovável de pinheiros, óleo de girassol, borracha natural e poliéster reciclado a partir de garrafas plásticas.
A Goodyear diz que, no momento, conseguiu chegar a este produto com 70% de componentes sustentáveis, mas trabalha com a meta de 100% até 2030.
ESPUMA PARA BANCOS VERSÃO PLANT-BASED
As espumas de poliuretano são um dos plásticos mais produzidos e com um dos menores índices de reciclagem no mundo. Podem ser encontradas nos assentos de automóveis, como isolamento térmico, entre outros usos.
O professor de engenharia Srikanth Pilla e o professor assistente de pesquisa de engenharia automotiva James Sternberg, ambos da Clemson University, estão conseguindo um substituto a base de plantas para a espuma de poliuretano, ajudando a resolver os riscos à saúde e a questão da sustentabilidade.
A proposta dos pesquisadores é chegar a espumas criadas a partir de ingredientes biológicos, sem a necessidade de petróleo. O produto que inventaram usa a lignina – um subproduto da indústria de papel – e um óleo de base vegetal como agente de cura, que dá flexibilidade e resistência ao material final.
A espuma também pode ser reciclada pois tem ligações que podem descompactar a rede química depois de ter se formado. Os principais componentes usados para produzir a espuma podem, então, ser extraídos e usados novamente.
“A origem de base totalmente biológica de nossas espumas aborda a questão da neutralidade de carbono e a capacidade de reciclagem química garante que os resíduos de plástico tenham um valor associado a ele. Por isso, é menos provável que sejam jogados fora”, destacam os professores em artigo publicado em fevereiro do ano passado.
“Garantir que o desperdício tenha valor é uma característica da abordagem circular da manufatura – anexar um valor monetário às coisas tende a diminuir a quantidade que é descartada.