Conscientização sobre perda de alimentos cresce e incentiva novos negócios
Os consumidores querem que as empresas também assumam a responsabilidade de reduzir o desperdício de alimentos
Um aumento do nível de consciência sobre as perdas e o desperdício de alimentos vem influenciando o comportamento dos consumidores, desde a pré-compra até o pós-consumo.
Por exemplo, boa parte planeja o consumo e faz uma lista de compras para evitar o desperdício. Muitos consumidores também estão abertos a comprar produtos imperfeitos, se o preço for mais baixo. E adotaram a ideia de adquirir sacolas surpresa com alimentos que seriam perdidos em lojas, hotéis e restaurantes.
Pesquisa realizada pela consultoria Capgemini sobre perda e desperdício de alimentos – que chega a 40% da produção global – identificou que os consumidores estão se tornando cada vez mais conscientes dessa situação e ansiosos para mudar. Nos últimos 12 meses, as buscas online por métodos para aumentar a vida útil dos alimentos em casa cresceram 80%.
No contexto do aumento dos preços dos alimentos e das questões da cadeia de suprimentos, 72% se tornaram mais conscientes sobre seu nível de desperdício de alimentos, em comparação com 33% antes da pandemia. O levantamento ouviu 10 mil pessoas e executivos de mais de mil empresas do setor na América do Norte, Europa e Ásia.
RESPONSABILIDADE COMPARTILHADA
Os consumidores querem que as organizações assumam a responsabilidade conjunta de reduzir o desperdício alimentar doméstico. Enquanto eles mesmos se sentem culpados de desperdiçar comida (60%), também expressam descontentamento com varejistas e fabricantes, querendo que adotem iniciativas de contenção.
Hoje, 61% dos consumidores acreditam que marcas, lojas e supermercados devem fazer mais para ajudar a reduzir o desperdício e 57% se sentem desapontados com essas organizações por não se importarem o suficiente com o problema.
Nos últimos 12 meses, 56% das conversas nas mídias sociais sobre o desperdício de alimentos carregavam um sentimento negativo. A raiva era a emoção predominante expressa pelos consumidores.
Embora as empresas acreditem que estão tomando medidas positivas para reduzir o desperdício, o público quer que elas façam mais em áreas como inovação de produtos, embalagens, clareza dos rótulos de data de validade e educação do consumidor.
Por exemplo, as pessoas gostam de ver etiquetas digitais com mais informações úteis em códigos QR, que fornecerão mais informações sobre a jornada e a qualidade do produto. Apenas 33% estão satisfeitos com a rotulagem atual.
BENEFÍCIOS DA REDUÇÃO DO DESPERDÍCIO
A pesquisa encontra uma forte conexão entre iniciativas relacionadas ao desperdício e perda de alimentos e benefícios comerciais, incluindo economia de custos, aumento de receita, novos fluxos de receita, melhores classificações ESG, bem como maior confiança do consumidor. Em média, o custo associado às perdas de alimentos é de cerca de 5,6% do total de vendas.
Mais da metade (56%) das empresas citou a redução de custos como um dos principais benefícios de suas iniciativas relacionadas ao tema.
Além disso, 91% dos consumidores disseram que prefeririam comprar alimentos de organizações que estão tomando medidas para reduzir o desperdício. Mais da metade (58%) afirma ter aumentado os gastos com empresas que se concentram na redução de desperdícios.
COMO COMBATER O PROBLEMA
A consultoria aponta três frentes para combater o desperdício e a perda de alimentos, impulsionadas pela tecnologia:
- Envolver consumidores e funcionários em iniciativas de gerenciamento de resíduos alimentares;
- Colaboração em toda a cadeia de valor, com soluções de tecnologia para previsão de demanda orientada por dados, monitoramento de temperatura, gerenciamento de estoque;
- Definição, monitoramento e métricas relacionadas ao desperdício e perda de alimentos.
Nessa linha de trabalho, a brasileira Food To Save vem crescendo rapidamente, com previsão de faturar R$ 16 milhões em 2023 com sua plataforma online de intermediação de venda de sobras de alimentos de restaurantes.
Apoiada por mais de 1,5 mil estabelecimentos cadastrados, a empresa evitou que mil toneladas de alimentos fossem perdidas até agora. Segundo o CEO Lucas Infante, o engajamento do público parte da consciência social sobre a importância de evitar a perda e o desperdício de alimentos.
“Iniciamos recentemente o trabalho com redes de hotéis que hoje destinam os alimentos de café da manhã e almoço para nossas sacolas surpresa. Em três meses, chegamos a 150 quilos de alimentos aproveitados”, afirma Infante.
No segmento institucional, a Food to Save mantém uma parceria piloto com a Nestlé no Food Market. Ali são disponibilizados, nas sacolas, os produtos que estão próximos da data de vencimento.
O executivo entende que há ainda muito espaço para crescer no Brasil, sinalizando a intenção de expandir a operação opara outros países da América Latina.
CONSCIENTIZAÇÃO TAMBÉM NO FOODSERVICE
A gestão integrada de resíduos, perdas e sobras de alimentos nas operações de refeições coletivas é fator crítico nas iniciativas sustentáveis, ainda mais quando se trabalha com grandes volumes.
A Sodexo On-site, que tem 2,5 mil unidades em 26 países, está implantando no Brasil o WasteWatch, um programa global que promove a gestão integrada de resíduos, perdas e sobras de alimentos em suas operações.
A iniciativa tem por objetivo contribuir com a meta da companhia de reduzir em 50% o volume de sobras e perdas de alimentos nos estabelecimentos onde opera até 2025.
“Com a gestão dos dados fornecidos pelo sistema da Sodexo, podemos implementar mudanças operacionais e comportamentais direcionadas para ajudar a reduzir o desperdício e, principalmente, fazer o melhor uso dos nossos recursos. Uma medida urgente e necessária em toda cadeia do mercado de foodservice”, destaca Marina Prevedello, gerente da plataforma Food da Sodexo On-site Brasil.
Resultados globais apontam que, desde 2019, a iniciativa já evirou a emissão de 48 mil toneladas de emissões de carbono e o desperdício de cerca de sete mil toneladas de alimentos – o equivalente a quase 12,7 milhões de refeições.
Em setembro do ano passado, o WasteWatch passou a ser implementado em todos os restaurantes da companhia no Brasil. A expectativa é que, até final de 2023, todas as mais de duas mil unidades estejam operando com o sistema de mensuração.