SXSW 2023: Aposto na comunidade

Crédito: Fast Company Brasil

Laura Chiavone 3 minutos de leitura

Cogumelos vão salvar o mundo. AI vai salvar o mundo. Elefantes vão salvar o mundo. Nesses primeiros dias de SXSW, assisti e participei de muitas discussões sobre grandes questões que a humanidade está enfrentando. Discussões sobre o meio ambiente, sobre a economia, produção de conteúdo e grandes questões sociais e culturais, que o emprego da tecnologia e inovação podem estar a serviço de resolver ou de complicar bastante. Mas tem uma lente que permeia uma grande parte das conversas, que é a lente de nós mesmos, humanos e nossas interações, como os grandes responsáveis pela perpetuação ou cura de tantos desafios. Taí uma lente que me interessa. Aquela variante constante em meio a tantas novas xyz tecnologias que vão impactar o mundo. As comunidades – essas sim – vão salvar o mundo.

Durante o painel Dignidade Menstrual: Tabus e Inequidade, em que participaram a deputada federal Tabata Amaral e as empreendedoras Emily Ewell e Adriana Farhat, ficou muito claro como soluções ligadas à regulamentação e empreendedorismo social passam necessariamente pelo diálogo comunitário para fomentar conhecimento, educação e organização para prover suporte para meninas e mulheres no seu período menstrual. Mais do que isso, ressaltam as panelistas, a saúde da mulher é um tema diário e diz respeito à toda infraestrutura e hábitos de higiene e limpeza, o que mais uma vez é um tema latente de importante impacto do diálogo comunitário e comunicação de temáticas que historicamente são temas invisibilizados por uma cultura de vergonha e silêncio. A tecnologia participa com bastante ênfase na arquitetura de soluções como um instrumento de desenvolvimento de produtos acessíveis e sustentáveis, além de possibilitar a facilitação de comunicação entre as comunidades e alcance de mensagens fundamentais de saúde pública.

Um outro momento em que o papel das comunidades ficou bastante em evidência para resolver questões críticas da sociedade atual foi durante o painel Desenhando Equidade Pela Lente Afrofuturista, em que a moderadora Christina Harrington conduziu de forma muito competente uma discussão inspiradora a respeito de equidade por meio de um “movimento que combina elementos de ficção científica, história africana e tecnologia para imaginar futuros inovadores”. A inclusão de estéticas e dados relativos à comunidade de ancestralidade africana no contexto de tecnologia para construir tecnologias antirracistas, representativas e acessíveis que auxiliem na transformação cultural daquilo que hoje é considerado a cultura dominante.

O mesmo vale para o papel ativo da tecnologia como facilitadora do desenvolvimento próspero de comunidades. Um ótimo exemplo disso é o papel que a AI já está tendo como provedora de equidade para mulheres de grupos sub-representados realizarem suas pesquisas acadêmicas, ampliando suas referências de linguagem para que aumentem suas chances de bolsas de estudo e aportes da iniciativa privada.

Em todas as discussões sobre o que estamos a resolver como sociedade, a tecnologia tem um papel fundamental no diálogo entre as pessoas. Não acho que são os cogumelos e nem a AI. Estes podem ser interessantes facilitadores eventuais de cenários, mas a potência das interações humanas será sempre determinante para realizar o futuro que for. A resposta nos quatro cantos de Austin tem a ver com qual utilidade escolheremos empregar para as maravilhas que criamos em benefício das pessoas, e como as comunidades são as catalisadoras por onde se iniciam e se finalizam muitos dos nossos grandes desafios.


SOBRE A AUTORA

Laura Chiavone é Diretora de Agências da Meta no Brasil. saiba mais