Marcas buscam vencer o “medo” do preço dos ovos de Páscoa

Tendência de crescimento dos lançamentos continua, com mais de 440 novos produtos para a data

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Rafael Farias Teixeira 4 minutos de leitura

"Viu o preço dos ovos de chocolate?"

Como driblar essa frase que virou tradição cultural durante a Páscoa brasileira? Depois de dois anos de Covid-19, que levaram a uma desaceleração no consumo desses produtos, 2023 parece ser um ano de retomada e inovação para conquistar novamente os consumidores — apesar dos preços.

Segundo a Kantar, empresa de pesquisa e insights, 36,2% dos lares brasileiros consumiram ovos de chocolate em 2022, um acréscimo de 12,5% em relação a 2020. A tendência deve se manter neste ano.

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Para Ubiracy Fonsêca, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas (Abicab), a Páscoa é uma celebração de grande relevância no Brasil, onde é comum que as pessoas se reúnam com seus familiares e amigos para comemorar a data e compartilhar os chocolates. Essa conexão afetiva faz com que consumidores vençam a aversão aos preços e movimentem a economia desse setor.

Para 2023, segundo mapeamento realizado pela consultoria KPMG encomendado pela Abicab junto aos associados a data gerou 7,9 mil vagas de trabalho temporário.

"Esse período é significativo para a economia também por conta do número de vagas temporárias, que dão a oportunidade para muitas pessoas terem sua primeira experiência profissional e abrem portas para o mercado de trabalho", diz Fonsêca.  

Em relação a 2022, as indústrias já registravam mais de 10 mil toneladas de ovos e produtos de Páscoa, um crescimento de 13% na produção quando comparado com 2021.

BRASILEIRO CHOCÓLATRA

A Páscoa é também a primeira grande data comemorativa do ano e a mais importante para o setor de chocolates. Soma-se a isso o fato de que o país é um dos mais chocólatras do mundo: de acordo com dados da Euromonitor International, o Brasil é o quinto mercado em volume de vendas, atrás de Estados Unidos, Alemanha, Rússia e Reino Unido.

Ovos de chocolate artesanais já representam quase a metade do volume consumido durante a Páscoa pelos brasileiros.

Em pesquisa encomendada pela Hershey e realizada pela Mindminers em 2022, 69% dos consumidores que declararam intenção de compra de chocolate durante a Páscoa alegaram que comprariam para si mesmos, reforçando o alto nível de consumo por indulgência. Um número ligeiramente maior do que o dos que disseram que comprariam para presentear (abaixo de 67%).

"A Páscoa é o grande evento do ano, uma data com grande simbolismo e altamente indulgente, gerando uma oportunidade única de nos conectarmos com nossos consumidores", afirma Larissa Diniz, gerente geral da Hershey para a América Latina.

INOVAÇÃO COMO DIFERENCIAL

Para manter as vendas e conquistar consumidores, empresas recorrem cada vez mais a novos lançamentos e inovação nos serviços.

"As indústrias estão sempre visando a criação de novos produtos focados nas tendências, conduzindo pesquisas de marketing para compreender as preferências dos consumidores e atender às suas expectativas", afirma Fonsêca.

Dados da Abicab mostram um recorde de lançamentos, com 440 produtos para a data, incluindo 163 lançamentos exclusivos. As empresas têm buscado oferecer produtos de chocolate com diferentes intensidades, diferentes percentuais de cacau, de chocolate branco, mesclado e, claro, apostam em embalagens diferenciadas para presente.

Para a Hershey, ter um portfólio com diversas opções que caibam no bolso do consumidor é fundamental, unindo novidade com custo-benefício. Por isso a marca investe em suas barras de chocolate de edições limitadas durante a Páscoa.

"Dessa forma, atendemos a todos os tipos de intenção de compra, desde quem quer presentear alguém até aqueles que aproveitam o momento para comprar um chocolate para si mesmos", afirma Larissa. Para este ano, a marca investe no sabor merengue de morango e em suas linhas de chocolates amargos e combinados com café.

Crédito: Hershey

Mas inovação apenas nos produtos não é suficiente. Desde a pandemia, tornou-se urgente que as empresas se reestruturassem rapidamente e investissem mais nos canais de vendas online. Assim, as marcas estão fazendo parcerias com marketplaces e aplicativos de entrega, apesar de o varejo tradicional e as lojas ainda serem os canais mais relevantes para a indústria.

Além disso, segundo a Abicab, o novo perfil do consumidor valoriza algumas vantagens da compra online, como facilidade da pesquisa, conforto, rapidez na entrega e cuidado no recebimento do produto.

"Os consumidores têm se mostrado mais independentes e decididos, muito pela mudança de comportamento que ocorreu na pandemia. Eles hoje sabem utilizar muito bem o ponto de venda físico junto com o e-commerce e os serviços de delivery", diz Fonsêca.

Crédito: Nestlé

OVOS ARTESANAIS

Buscando o melhor custo-benefício, os itens artesanais (caseiros e feitos sob encomenda) devem se destacar, já que o preço médio por quilo é de R$ 132, contra R$ 183 dos industrializados.

Ovos de chocolate artesanais já representam quase a metade do volume consumido durante a Páscoa pelos brasileiros. A média de compra dos artesanais (500 gramas) é bem maior do que a dos industrializados (390 gramas).

A própria Hershey passou a investir na linha Hershey's Professional, com produtos dedicados aos empreendedores – de pequenos produtores informais que buscam uma renda extra até confeiteiros profissionais que utilizam o chocolate em seus produtos.

Segundo a Nubimetrics, plataforma de dados e insights para e-commerce, muitos empreendedores aproveitam a data para investir nos produtos artesanais. Pelo segundo ano consecutivo, foi registrado crescimento de 70% na demanda por produtos caseiros para a Páscoa nos meses de janeiro, fevereiro e março.


SOBRE O AUTOR

Rafael Teixeira Farias tem mais de 14 anos de carreira em jornalismo e marketing digital, além de sete livros de ficção já publicados. saiba mais