Lanterna que não usa bateria é um raio de esperança para crianças refugiadas
Além de útil, ela ensina ciência na prática para as crianças
A fundadora da Ambessa Play, Sara Berkai, procurou a empresa de design Pentagram para desenvolver uma lanterna de corda, sem bateria, que pudesse ser facilmente montada. E já tinha uma boa ideia de como queria que funcionasse.
Berkai concebeu o conceito original enquanto ministrava workshops de STEM (ensino baseado em quatro disciplinas específicas: ciências, tecnologia, engenharia e matemática), para crianças refugiadas na Etiópia e na Eritreia, em 2019.
“As crianças pediram que ela ensinasse a montar coisas que seriam úteis após o workshop – e a lanterna foi o objeto mais pedido”, conta Jon Marshall, sócio do escritório de Londres da Pentagram.
A missão da Ambessa Play é incentivar crianças em todo o mundo, especialmente aquelas em situação precária, a construir objetos. Por morarem em assentamentos sem acesso à energia elétrica, à noite, essas crianças não conseguem ler, escrever ou desenhar. Às vezes, usam a lanterna do celular dos pais, mas isso nem sempre é possível.
Algum tipo de fonte de luz que não usa bateria seria um grande alento para a vida difícil em uma comunidade de refugiados. E, como sabemos, por algum motivo, crianças adoram brincar com lanternas – principalmente debaixo das cobertas.
Feita de um plástico simples e aparentemente durável, a lanterna vem em um kit com peças, que as crianças podem montar elas mesmas. Na frente, há uma lente que emite luz de LED e, abaixo uma manivela. O botão de ligar e desligar fica no canto superior direito.
Também há um pequeno suporte embutido que pode ser usado para deixá-la em pé em uma mesa. Além disso, a lanterna pode ser colocada em volta do pescoço com um cordão. O conceito, além de prático, é bonito, todo em azul-bebê com detalhes em laranja.
Sua simplicidade e elegância lembram vagamente o Braun T3, o rádio de bolso que inspirou o iPod criado pelo designer alemão Dieter Rams. Esta lanterna é uma combinação perfeita de beleza e conveniência.
Mas ela não é apenas uma solução útil. O objetivo principal era ajudar crianças a aprender ciência na prática. “A ideia era dar a elas algo que pudessem construir sozinhas e depois usar. Isso contribui para o aprendizado e ajuda a desenvolver habilidades motoras, com criatividade e foco na solução de problemas”, explica Marshall.
Sua missão era construir uma lanterna que qualquer criança de oito anos pudesse montar sozinha.
“Testamos diferentes designs com crianças, especialmente com refugiadas, para garantir que a gente priorizasse suas opiniões”, ressalta. “Elas nem sempre escolhiam as ideias que preferíamos, o que foi engraçado, mas seus feedbacks eram extremamente perspicazes e, sem dúvida, contribuíram muito para que chegássemos no produto que temos hoje.”
Durante o processo de desenvolvimento, a Ambessa Play fez parcerias com várias organizações e instituições de caridade e testou diferentes versões com crianças na Eritreia, Etiópia, Hungria, França e Reino Unido.
Foi uma tarefa difícil para a Pentagram, pois a empresa não está acostumada a fazer tantos protótipos e testes em uma escala tão grande. Além disso, foi necessário repetir as etapas de construção extensivamente para que as crianças compreendessem o processo de montagem. O manual passo a passo que vem junto com o kit é tão bem pensado e bonito quanto a própria lanterna.
Agora, a empresa está buscando avaliar o interesse de consumidores em todo o mundo no produto. A Ambessa Play criou uma campanha de financiamento coletivo no Kickstarter com duas opções: dar de presente um kit ou comprar um para seu filho. Ao escolher a segunda opção, a empresa presenteia uma criança refugiada com a lanterna.