YouTube muda sua política de vídeos sobre distúrbios alimentares

Frequentemente assistidos por adolescentes, os vídeos feitos por influenciadores fitness questionáveis entraram na mira da empresa

Créditos: reestocks.org/, Jamie He /Pexels

Sarah Bregel 3 minutos de leitura

O YouTube tem se esforçado para tornar a plataforma de compartilhamento de vídeos um lugar mais seguro.

O site, de propriedade do Google, anunciou que vai mudar suas políticas em relação a qualquer conteúdo relacionado a distúrbios alimentares. Embora o YouTube já proíba vídeos que induzam ou encorajem transtornos de alimentação – como compulsão alimentar ou uso descontrolado de laxantes –, as novas diretrizes também proíbem conteúdos que explicitem comportamentos potencialmente nocivos que possam ser imitados por espectadores “mais vulneráveis”.

A medida pode se aplicar a vídeos que falem sobre redução de consumo de calorias ou práticas de jejum.  O Youtube também está adotando restrições de idade a todos os vídeos que discutem distúrbios alimentares, inclusive aqueles que abordam tratamento e recuperação. Além disso, vai incluir informações úteis sobre saúde mental em todos os vídeos relacionados a distúrbios alimentares.

as novas diretrizes proíbem conteúdos que explicitem comportamentos nocivos que possam ser imitados por espectadores “mais vulneráveis”.

O YouTube informou que as novas diretrizes foram desenvolvidas em conjunto com a National Eating Disorder Association (Associação Nacional de Distúrbios Alimentares/ NEDA) e com a Asociación de Lucha contra la Bulimia y Anorexia.

A mudança nas regras foi anunciada um mês depois de pesquisadores terem demonstrado que o aumento do tempo online é um fator de risco para o desenvolvimento de distúrbios alimentares.

Em uma postagem feita no blog oficial, Garth Graham, diretor e chefe do YouTube Health, explicou por que políticas de saúde mais rígidas estão sendo adotadas. “Como cada espectador chega à plataforma carregando experiências singulares, um mesmo vídeo pode afetar diferentes pessoas de maneiras diferentes”, explicou.

“Um vídeo com testemunhos de superação de um distúrbio alimentar pode quebrar o gelo e estabelecer uma conversa essencial para alguns, fazendo com que se sintam menos sozinhos. Mas esses vídeos feitos por criadores de conteúdo também podem ser um gatilho para outras pessoas – ainda mais se incluírem detalhes sobre os comportamentos típicos de desordens alimentares.”

O PAPEL DOS INFLUENCIADORES FITNESS

Como existem milhões de vídeos no YouTube sobre dieta, as mudanças provavelmente vão afetar muita gente.  É claro que vários dos vídeos disponíveis fornecem informações úteis, transmitidas por profissionais como nutricionistas ou médicos sérios.

Mas os mais assistidos pelo público suscetível à má informação, como os adolescentes, são aqueles produzidos por profissionais do “mundo fitness”. Geralmente, eles estão promovendo seus próprios negócios e muitos deles não têm qualquer formação em saúde e bem-estar.

Em um estudo da Universidade de Alberta, os pesquisadores analisaram quase 200 influenciadores fitness e descobriram que apenas 16% tinham alguma certificação formal. Ainda assim, o potencial de lucro é enorme. Em 2022, por exemplo, o maior influenciador fitness faturou mais de US$ 17 milhões, de acordo com o Trainerize, um site de negócios desse setor.

Um estudo que analisou 200 influenciadores fitness descobriu que só 16% deles tinha alguma certificação formal.

Isso é ótimo para os influenciadores, mas é um perigo para a saúde mental dos jovenes. Pelo menos 23% dos adolescentes admitem que se informam sobre saúde através de mídias sociais. Mesmo as buscas sobre saúde feitas nos navegadores aciona os algoritmos das redes sociais.

Assim, eles passam a enviar spams com conteúdo relacionado a dietas para crianças e adolescentes. Como os adolescentes passaram muito mais tempo online durante a pandemia, os distúrbios alimentares aumentaram drasticamente em 2020.

Os especialistas não acreditam que os distúrbios alimentares sejam causados diretamente pelas mídias sociais. Mas há uma série de fatores de risco que aparecem diariamente nas nossas timelines, como vídeos que promovem a cultura da dieta, regimes de perda de peso pouco saudáveis e imagens completamente editadas ou filtradas, que dão aos espectadores expectativas irrealistas.

Talvez seja em parte por isso que as pesquisas por conteúdo de saúde mental estão aumentando. Segundo Sarah Chase, vice-presidente de comunicação da NEDA, dados mostram que o YouTube teve mais de 1,4 bilhão de visualizações apenas em conteúdo sobre saúde mental nos EUA em 2021.

"Sabemos que, quanto mais cedo uma pessoa com transtorno alimentar procurar tratamento, maior será a probabilidade de recuperação física e emocional,” disse Chase em um trecho de sua declaração anunciando as novas diretrizes do maior site de vídeos do mundo. “O YouTube está dando mais um passo na direção certa para ajudar a NEDA em nossa missão.”


SOBRE A AUTORA

Sarah Bregel é uma escritora, editora e mãe solteira que mora em Baltimore, Maryland. Ela contribuiu para a nymag, The Washington Post... saiba mais