Por que ações de diversidade e inclusão têm que ir além do recrutamento

O objetivo deveria ser incorporar as diferentes perspectivas e ideias trazidas por pessoas de diversas identidades

Créditos: smartboy10/ iStock

Amelia Ransom 4 minutos de leitura

A maioria das empresas tem resumido seus esforços de diversidade, equidade e inclusão (DEI) a uma única etapa da experiência do funcionário: a contratação.

Quando você se concentra apenas em contratar pessoas de diversas origens, mas negligencia a promoção de uma cultura que as apoie, você acaba com uma força de trabalho em que as pessoas até podem pensar, parecer, agir e trabalhar de maneira diferente, mas não conseguem aproveitar suas diferenças para apoiar as iniciativas da empresa. 

Se não forem construídas estruturas de apoio, pessoas talentosas, independentemente de sua formação, vão desistir. Os dados confirmam isso: a taxa de mulheres líderes que estão deixando seus empregos é a mais alta em anos, e a representação de talentos negros em cargos de tecnologia aumentou menos de 1% desde 2018.

Crédito: Eduardo Alexandre/ Andrew Moca/ Unsplash

O objetivo da estratégia DEI de qualquer empresa deveria ser incorporar totalmente diferentes perspectivas e ideias trazidas por pessoas de diversas identidades. Qualquer outra coisa é só maquiagem.

Para fazer progresso real, as equipes precisam de uma abordagem que incorpore a diversidade e a inclusão mais profundamente na estrutura organizacional, no modelo de negócios e na cultura.

a representação de talentos negros em cargos de tecnologia aumentou menos de 1% desde 2018.

Uma boa maneira de visualizar isso é com um modelo de três camadas. Gosto de usar a metáfora do restaurante, do supermercado e da horta para falar disso. Para construir uma força de trabalho diversificada, a contratação é apenas um caminho – é como sair para comer em um restaurante.

Mas, se você deseja sucesso a longo prazo, precisa apoiar e promover talentos dentro do seu negócio – o que seria como cozinhar em casa com ingredientes do supermercado. Também precisa garantir um fluxo saudável de talentos diversos de várias comunidades, o que é como cuidar de uma horta.

Veja como a teoria do restaurante, supermercado e horta pode ajudar você e sua equipe a construir uma cultura melhor no ambiente de trabalho.

O RESTAURANTE

A contratação é onde a maioria das empresas concentra suas iniciativas de DEI – é um pouco como fazer um pedido no cardápio de um restaurante. Você está encontrando as pessoas que deseja e trazendo-as para o time. Normalmente, procura alguém que já chegue totalmente preparado.

O objetivo da estratégia DEI deveria ser incorporar diferentes perspectivas trazidas por pessoas de diversas identidades.

No entanto, as empresas tendem a superestimar essa etapa, porque ela é a mais fácil de medir e os resultados são mais imediatos. Isso pode levar a uma mentalidade de “pontos”, na qual pessoas de diversas origens são valorizadas por sua identidade e não pelo valor que agregam.

Mas contratar pessoas de diversas origens não basta. A estratégia de DEI precisa ajudar a equipe a obter os melhores talentos, se beneficiar de novas perspectivas e impulsionar o crescimento e o sucesso. Todas as empresas precisam examinar outros aspectos do cultivo de talentos – o que gosto de chamar de comparar ao supermercado à horta.

O SUPERMERCADO

A maioria de nós não come em restaurante todos os dias. Compramos ingredientes e cozinhamos em casa. Do ponto de vista da DEI, isso é paralelo ao desenvolvimento, retenção e promoção de talentos internos equitativos.

as empresas tendem a superestimar a etapa de contratação porque os resultados são mais imediatos.

Assim como aprender a cozinhar, o sucesso nessas áreas demanda tempo, dedicação, foco e investimento. Mesmo quando você já sabe fazer, sempre é possível se aprimorar.

Pesquisas mostram que apenas 24% das mulheres e minorias étnicas em cargos técnicos sentem-se pertencentes ao trabalho, apesar de 75% dos executivos de liderança acreditarem no contrário.

Superar essas estatísticas requer uma abordagem multifacetada. Normalmente, inclui a adoção de políticas inclusivas; promoção de práticas justas e equitativas de remuneração, desempenho e promoção, criando uma cultura de aprendizagem que valoriza ouvir, dar feedback e ação corretiva; construir sistemas de apoio aos funcionários, como grupos de recursos e programas de orientação; estabelecer metas de DEI e responsabilizar a liderança por alcançá-las.

A HORTA

Por fim, temos a horta, que representa os esforços para cultivar talentos mais cedo, muitas vezes antes mesmo de suas carreiras começarem. Cultivar uma horta pressupõe fazer investimentos em educação e comunidade, bem como parcerias entre organizações e indústrias.

apenas 24% das mulheres e minorias étnicas em cargos técnicos sentem-se pertencentes ao trabalho.

A comida vinda da horta exige mais tempo e esforço, mas os resultados são superiores aos que se pode obter em um supermercado ou restaurante. Da mesma forma, o talento cultivado desde o início trará os maiores benefícios para a organização.

A horta também representa o mundo para além da empresa. Além de construir um ciclo de talentos, a mentalidade de cultivo local nutre um terreno fértil para o sucesso dos negócios a longo prazo.  Ajudar a resolver os desafios da desigualdade leva a novas oportunidades.

PENSE EM OPORTUNIDADES, NÃO EM CARIDADE

A pesquisa mostra que as empresas mais diversificadas são mais propensas a superar seus concorrentes menos diversos em lucratividade. Em um mundo complexo, precisamos de ideias diversas e de perspectivas para resolver os problemas mais desafiadores.

Para atrair os melhores talentos, é preciso se concentrar na retenção e no cultivo de profissionais, bem como na contratação – oportunidades, bem como salário e benefícios. Uma cultura que se adapta para fazer as pessoas se sentirem bem-vindas em vez de obrigá-las a mudar para se encaixar.

Esses resultados exigem muito trabalho, dedicação e planejamento, assim como uma refeição caseira feita com tomates frescos. Mas, assim como no cultivo da terra e na culinária, a jornada é divertida e recompensadora.


SOBRE A AUTORA

Amelia Ransom é vice-presidente de DEI na Smartsheet. saiba mais