Versão especial de Counter Strike alerta para a brutalidade da guerra real
Um novo mapa pode revelar a verdade sobre a invasão da Ucrânia a jogadores russos
Os jogos da série Counter-Strike estão entre os mais populares do mundo, especialmente na Rússia. Agora, jogadores de lá que baixarem o novo mapa chamado “de_voyna” serão confrontados com a realidade do que o exército de seu país está fazendo na Ucrânia.
O mapa foi desenvolvido por uma iniciativa do jornal finlandês “Helsingin Sanomat” e traz informações verificadas sobre as atrocidades da guerra e as verdadeiras razões por trás da invasão. Jornalistas do periódico coletaram imagens e áudios que retratam a realidade no campo de batalha e os danos causados pelas tropas russas, com os quais os jogadores poderão interagir.
A propaganda do Kremlin sugere – sem provas – que a invasão se deu para deter a disseminação da ideologia nazista no país. O objetivo do mapa é oferecer uma versão não filtrada da guerra, que está em curso desde fevereiro de 2022.
O jornal lançou a iniciativa no Dia Mundial da Liberdade de Imprensa (3 de maio), com o intuito de alcançar os quatro milhões de jogadores russos do Counter-Strike: Global Offensive. Segundo dados da Leetify, uma plataforma de estatísticas de jogos, o título é jogado por mais pessoas na Rússia do que em qualquer outro país.
“Descobrimos que jogos online ainda não foram banidos ou bloqueados”, afirma Antero Mukka, editor-chefe do jornal.
BURLANDO O FIREWALL
A criação dos mapas foi fruto de uma colaboração de meses com a agência criativa Miltton. As duas organizações se reuniram no início de 2023 para avaliar como poderiam levar informações sobre a violência da guerra para os cidadãos, uma vez que o jornal – assim como mais de 100 outros – foi banido do país desde a invasão.
Os criadores mantiveram contato com cidadãos contrários à guerra para incorporar detalhes que os jogadores reconheceriam.
“Depois da sessão de planejamento, estava voltando para casa e, a caminho do ponto de ônibus, pensei em criar um mapa para o Counter-Strike e esconder jornalismo independente nele”, conta Roope Sandberg, diretor criativo e de arte da Miltton. Sandberg teve a ideia de usar o título porque ele próprio joga.
“Desde o início da guerra, tenho me perguntado por que os desenvolvedores não o bloquearam para jogadores russos, mesmo com constantes pedidos da comunidade gamer”, diz ele. “Então, por que não usar essa brecha a nosso favor levando informações independentes para jogadores russos do Counter-Strike?”
A estratégia de enviar informações precisas e não filtradas para a população, apesar da censura à imprensa no país, é semelhante a tentativas anteriores de burlar o firewall e alertar os russos sobre as ações do governo: no ano passado, por exemplo, ativistas compraram anúncios em redes sociais na Rússia.
DETALHES MINUCIOSOS
A Miltton terceirizou a criação do mapa para dois criadores especializados da Austrália e Dinamarca, que pediram para não serem identificados por medo de represálias.
Eles receberam a tarefa de projetar uma cidade eslava que parecesse com algumas das regiões que os soldados russos destruíram durante a invasão. A Valve Corp., desenvolvedora da série Counter-Strike, não foi consultada antes que o mapa criado pela comunidade fosse lançado no jogo.
Os criadores mantiveram contato com cidadãos contrários à guerra para incorporar detalhes minuciosos que os jogadores reconheceriam, incluindo marcas locais e lixo com logotipos semelhantes ao que se encontraria em uma rua do país.
Aqueles que caminharem por "de voyna" terão fortes lembranças da cidade de Kherson, ocupada por tropas russas por meses e onde operaram um centro de tortura, de acordo com a Human Rights Watch.
“Temos mais de 1,3 mil quilômetros de fronteira com a Rússia. Estamos profundamente interessados e temos acompanhado o que está acontecendo”, afirma Mukka.
Ele espera que o lançamento receba muita atenção. “Queremos que os jovens russos saibam que há uma realidade diferente da que o Estado está apresentando.”
“Se conseguirmos alcançar mesmo uma pequena fração dos quatro milhões de jogadores russos do Counter-Strike, o projeto poderá fazer a diferença entre a vida e a morte de alguém”, acrescenta Sandberg.
O diretor criativo argumenta que a maioria desses jogadores provavelmente são homens em idade militar e, portanto, os mais propensos a serem recrutados para o conflito. “Se os conscientizarmos sobre a verdade objetiva na Ucrânia, talvez possamos mudar algumas de suas atitudes em relação à guerra.”