Novidades do Google chegam para “tirar o atraso” da sua IA generativa

A estratégia é ir além da pesquisa pura e oferecer produtos de uso diário turbinados por inteligência artificial

Crédito: wildpixel/ iStock

Mark Sullivan 4 minutos de leitura

No ano passado, a OpenAI assombrou o mundo com o ChatGPT, um modelo de inteligência artificial dotado de habilidades nunca antes vistas. O que, segundo várias publicações, teria gerado pânico nos domínios do Google.

A gigante de tecnologia, que já em 2017 de se declarava uma “empresa de IA”, de repente parecia estar cedendo sua liderança nessa área a uma startup que fez uma aposta alta em modelos de um novo tipo de inteligência artificial, a IA generativa.

O Palm 2 foi treinado com dados de 100 idiomas e 20 tipos de  linguagem de programação.

Os pesquisadores do Google não se deram por vencidos e começaram a trabalhar no sentido de incorporar IA nos produtos da empresa – em lugar de se dedicar à publicação de estudos e resultados de pesquisa – e a criar novos usos e produtos.

Nesta quarta-feira (10 de maio), no evento anual Google I/O, foram apresentados os frutos desse esforço. Segundo a empresa, o novo Palm 2 (um motor de aprendizado que serve como base para ferramentas e plataformas de geração de conteúdo) passa a turbinar o desempenho de 25 funcionalidades e produtos.

O Palm (sigla de Pathways Language Model) é o modelo de linguagem desenvolvido pelo próprio Google. A nova versão, Palm 2, é na verdade uma família com quatro modelos de diferentes tamanhos. Eles foram treinados com dados de 100 idiomas e 20 tipos de  linguagem de programação (como Python e Javascript), o que permite que gerem códigos para desenvolvedores que estejam trabalhando nos mais diversos de tipos de projetos.

O BARD FICOU MAIS ESPERTO

Uma coisa importante é que o Palm 2 deve ampliar as habilidades do chatbot de IA Bard – que, até o momento, não conseguiu alcançar seu principal concorrente, o ChatGPT. A boa notícia é que o Google liberou a ferramenta para uso em 180 países a partir da semana que vem. A má notícia é que o Brasil não está nessa lista – por enquanto, o Bard só fala inglês, japonês e coreano.

O Google promete que, em breve, o Bard estará disponível em mais 40 idiomas, incluindo português e espanhol.

O Google promete que, em breve, ele estará disponível em mais 40 idiomas, incluindo português e espanhol. Outra promessa é de que ele será multimodal, ou seja, o usuário poderá usar uma imagem na hora de dar o comando (prompt) e a ferramenta conseguirá gerar respostas contendo imagens.

Como é comum que as pessoas comecem criando ideias com o Bard e depois queiram continuar trabalhando nelas no Google Docs ou no Gmail, a empresa facilitou a exportação do conteúdo do chatbot para esses aplicativos. O plano é oferecer também “extensões” – o equivalente aos “plugins” da OpenAI para o ChatGPT – para apps como Gmail, Docs e Drive.

BUSCA DINAMIZADA POR IA

Parte do que assustou o Google quando o ChatGPT foi lançado é que muita gente logo começou a pensar por que deveria continuar usando a pesquisa do Google quando poderia ser mais fácil pedir a informação desejada ao novo chatbot. Desde então o Google tem estado sob pressão para integrar mais funcionalidades de IA ao seu motor de busca.

A resposta vem agora: um novo tipo de busca conversacional, dinamizada pelo Palm 2. O Google está (sabiamente) apresentando sua IA de busca dentro do ambiente Search Labs, um tipo de sandbox (plataforma de testes) onde os usuários podem testar produtos ou funcionalidades ainda em fase experimental.

Nem o Google nem ninguém descobriu como integrar publicidade em resultados de busca no formato conversacional.

Essa medida foi adotada por dois bons motivos. O primeiro é que a busca com IA generativa ainda está sujeita a cometer erros, atribuir informações de maneira errada ou simplesmente tirar coisas “do nada”. O Google não quer arriscar a confiança de milhões de usuários liberando logo de cara funcionalidades da IA em seu principal mecanismo de busca.

A segunda razão é que o motor de busca do Google é uma máquina multibilionária de distribuição de anúncios e a empresa não quer correr nenhum risco com sua galinha dos ovos de ouro – pelo menos, não até que seja mesmo necessário. Nem o Google nem ninguém descobriu como integrar publicidade em resultados de busca no formato conversacional. Não ainda.

ABORDAGEM MAIS CUIDADOSA

Tudo somado, as novas ferramentas de inteligência artificial do Google parecem estar em linha com aquelas que já foram anunciadas pela OpenAI e pela Microsoft, focadas em públicos distintos como consumidores, desenvolvedores e empreendedores.

O que faltou ao Google foi uma “aplicação matadora” de IA generativa na qual ninguém ainda tivesse pensado – ou que ninguém, a não ser o Google, pudesse entregar. A empresa também parece estar adotando uma abordagem mais metódica e cautelosa no lançamento de ferramentas com IA e na liberação desses recursos ao público em geral.

Ainda assim, um senso de urgência se faz presente dentro do Google. Dois grupos internos, rivais entre si – o DeepMind e o Google Research – resolveram se unir para aproveitar todo o potencial das mentes que os compõem. O objetivo é desenvolver modelos de IA melhores, que consigam fazer frente (de verdade) à OpenAI.

Com a colaboração de Harry McCraken e da redação da Fast Company Brasil.


SOBRE O AUTOR

Mark Sullivan é redator sênior da Fast Company e escreve sobre tecnologia emergente, política, inteligência artificial, grandes empres... saiba mais