Prepare a torcida: vem aí a primeira multinacional de futebol feminino
A dona do Washington Spirit assumirá um dos principais times da Europa, criando uma organização global de clubes femininos
No último sábado (13 de maio), durante a vitória do Olympique Lyonnais Féminin (OL) na Copa da França – um dos melhores clubes de futebol feminino do mundo –, a empresária Michele Kang estava presente, torcendo pela equipe e, inclusive, erguendo o troféu ao lado das atletas.
Dois dias depois, o clube anunciou oficialmente que Kang, dona do Washington Spirit, da National Women's Soccer League (NWSL), a liga de futebol feminino dos EUA, se tornará a principal proprietária do Lyon.
Conforme comunicado de imprensa, o acordo, que deve ser concluído em junho, visa “criar a primeira organização global de futebol feminino com múltiplas equipes”. Kang será a proprietária majoritária e CEO da nova empresa, “tornando-se a primeira mulher a liderar e comandar uma organização multiclubes”.
“Este acordo representa um grande avanço na história do futebol profissional feminino”, declarou Kang no comunicado. “Ele une a tradição inigualável do OL Féminin, oito vezes campeão da Champions League, com o dinamismo do Spirit, campeão da NWSL em 2021, para conduzir nosso esporte a uma nova era.”
Nascida e criada na Coreia do Sul, Kang é fundadora e CEO da Cognosante, uma empresa de consultoria em TI para saúde. Em março do ano passado, ela se tornou a proprietária majoritária do Washington Spirit após um processo que se estendeu por vários meses.
A ação teve início quando a empresária pediu ao então coproprietário Steve Baldwin que cedesse o controle do time, devido a uma série de alegações de abuso e má gestão. Kang acabou comprando as ações de Baldwin e do ex-coproprietário Bill Lynch por um valor recorde de cerca de US$ 35 milhões, tornando-se a primeira mulher não-branca a ser dona de um time da NWSL.
NEGÓCIO BILIONÁRIO
O Lyon é considerado o clube mais bem-sucedido na liga francesa Division 1 Féminine, que é um dos melhores campeonato de futebol feminino do mundo. Ainda assim, enfrentou desafios.
Em abril, foi noticiado que Kang pagou quase 12 milhões de libras para cobrir o déficit anual da equipe. Além disso, em 2022, o time foi condenado a pagar mais de US$ 89 mil à jogadora islandesa Sara Bjork Gunnarsdottir em uma ação judicial de licença-maternidade contra o clube.
As equipes masculina e feminina do Lyon eram mantidas sob uma única empresa, a OL Groupe. No entanto, em dezembro de 2022, a Eagle Football Group, controlada pelo bilionário norte-americano John Textor, se tornou sua principal proprietária. Estima-se que o valor do Lyon seja de US$ 939,4 milhões.
A Eagle Football detém participações importantes em times de futebol no mundo, incluindo o Crystal Palace, da Premier League britânica; o Botafogo, da Série A do Campeonato Brasileiro; o RWD Molenbeek, da Challenger Pro League (segunda divisão do Campeonato Belga); e o OL Reign, da NWSL.
Segundo o “Financial Times”, o grupo planeja abrir capital por meio de uma empresa de aquisição de propósito específico (SPAC) ainda este ano, com uma meta de avaliação de US$ 1,2 bilhão. Essa estratégia é uma novidade na indústria do futebol.
As avaliações dos times da NWSL têm aumentado nos últimos anos. Mesmo assim, muitos ainda não são lucrativos. Uma fonte afirma que os times da NWSL perdem, em média, entre US$ 3 milhões e US$ 4 milhões por ano. Enquanto isso, os clubes masculinos podem alcançar avaliações que chegam a centenas de milhões ou até bilhões de dólares.
Mesmo assim, os grupos de proprietários mais recentes dos times da NWSL, que são muitas vezes liderados por mulheres, estão confiantes em seus investimentos, e ter presença na Europa pode abrir ainda mais oportunidades.
O esporte tem uma base de fãs apaixonada no continente e os jogos profissionais de futebol feminino costumam quebrar recordes de público. No ano passado, por exemplo, 91 mil torcedores compareceram à semifinal da Liga dos Campeões Feminina da UEFA, entre Barcelona e Wolfsburg.
Kang já sinalizou que a nova empresa buscará adquirir outros clubes pelo mundo. “Isso representa esperança, determinação e um passo importante e necessário no mundo dos negócios para moldar o futuro do futebol feminino”, declarou.