Não também é resposta


Cristina Naumovs 2 minutos de leitura

Desde que comecei a trabalhar com marcas, em 2018, talvez a coisa mais universal que todo mundo reclama das marcas e agências é: “mandei o orçamento/ projeto/ conversa e não recebi nunca mais uma resposta”. 

Qual a dificuldade de dizer não que existe no mundo corporativo? Porque é preciso pensar que há algo difícil e não simplesmente falta de educação.

Quem vive de projetos ou ideias, para, pensa, perde tempo, faz keynote, organiza a cabeça para mandar projeto. Aí não dá para achar que quem está nas marcas tem menos tempo e, logo, pode simplesmente fazer ghosting corporativo.

O não é motor para muita gente. Ele ajuda a ir atrás de outro sim.

Não também é resposta. O não ajuda a ir atrás de outro sim. O não é motor para muita gente. Não existe não responder. Pode demorar, mas não responder te coloca na ala café com leite da sala.

Outro dia, recebi uma resposta em três minutos de uma executiva (das maiores do Brasil) para um convite. Então, até podia pensar em grandes argumentos para dar uma grande explicação teórica, mas realmente é inacreditável que a gente ainda não tenha entendido que a Lusitana roda e uma hora você pode precisar daquela pessoa que você nunca respondeu.

Não te dá um arrepio na alma quando você vai procurar o email de alguém que você precisa de uma resposta e vê que nunca respondeu quando aquela pessoa te procurou ? Eu tenho. 

Pode demorar, mas não responder te coloca na ala café com leite da sala.

E, olha, eu falho miseravelmente muitos dias. Tenho, nesse momento, 470 conversas sem resposta no WhatsApp, entre mensagens de “oi, tudo bem?” de desconhecidos (não sejam essas pessoas, pelo amor de qualquer coisa) e grupos que falam mais que o homem da cobra.

Devo ter perdido alguma conversa? Provavelmente. Se você estiver lendo esse texto, me cobra. 

Eu funciono bem com cobranças. Mas estou falando de coisas diferentes aqui: é fazer reunião, ouvir, mandar invite, pensar, criar ideias, mandar keynote e nunca mais obter uma resposta, mesmo cobrando, pedindo.

Se a gente não valorizar o trabalho intelectual de quem pensou ideias para nós, depois não adianta chorar com medo da inteligência artificial se você só criou "intimidades artificiais" – como diria Esther Perel – com seus fornecedores e colaboradores.


SOBRE A AUTORA

Cristina Naumovs é consultora de criatividade e inovação para marcas como Ambev, Doritos e Havaianas, entre outras. Tem passagens pela... saiba mais