Designers podem parar de temer a IA e começar tratá-la como aliada

Como deixamos de nos preocupar e aprendemos a amar a IA

Créditos: Prototype-Drop/ Envato Elements/ victoria_pineapple/ iStock

Yujune Park e Caspar Lam 3 minutos de leitura

A inteligência artificial parece estar mais presente do que nunca. Neste ponto, já está claro que o ChatGPT e o DALL-E vieram para ficar – e vão se tornar cada vez mais poderosos. Mas isso não significa que os designers devam entrar em desespero e pensar em se requalificar ou se preparar para serem substituídos. É hora de dar um passo atrás e refletir com calma sobre o que tudo isso realmente significa.

Se definirmos o trabalho de designer de forma simplista, então plataformas como Midjourney certamente seriam uma ameaça. No entanto, a função do profissional de design vai além de simplesmente criar. Envolve comunicar e conectar ideias de maneira profunda e relevante. E é aí que a IA se torna apenas mais uma ferramenta para a expressão criativa.

MEDOS LEGÍTIMOS

Muitas das preocupações em torno da IA são centradas em como ela pode substituir algumas das funções dos designers e engenheiros de software, especialmente para aqueles que estão apenas começando na indústria.

O mais importante é que os designers sejam capazes de entender como a tecnologia funciona para possibilitar uma comunicação efetiva.

E é compreensível. Por que pedir a um designer júnior para criar 20 variações de uma marca ou desenhar manualmente toda a estrutura de um site ou aplicativo, quando um computador pode fazer isso quase instantaneamente? Para aqueles que trabalham em empresas que não valorizam o design, os desafios são ainda maiores.

Também existem preocupações morais evidentes. A inteligência artificial é muito boa em produzir resultados, sejam eles verdadeiros ou falsos, feios ou bonitos, funcionais ou inúteis. No entanto, há uma falta de transparência e responsabilidade em relação às informações usadas para treinar os modelos e como as respostas são geradas.

Isso precisa ser abordado para que a IA seja integrada de forma responsável na sociedade. Os designers estão em uma posição melhor do que a maioria para fazer isso.

Em cinco anos, tarefas básicas de programação e design serão quase totalmente automatizadas. O mais importante é que os designers sejam capazes de enxergar além disso e entendam como a tecnologia funciona, para possibilitar uma comunicação efetiva.

Fonte da imagem: Andriy Onufriyenko /Getty Images

REPENSANDO O PAPEL DOS DESIGNERS...

É importante destacar que a tecnologia, ou o conjunto de técnicas e linguagens que compõem a IA, está presente há bastante tempo. A maioria das novas ferramentas de inteligência artificial se baseia no poder do reconhecimento e geração de padrões – funções que estão enraizadas no machine learning e no treinamento de computadores para realizar determinadas tarefas.

É preciso encarar a evolução da IA e o papel da profissão de forma mais abstrata.

Muitas das preocupações em torno dessas tecnolo- gias estão relacionadas à forma como elas são treinadas: quais imagens são utilizadas, quem detém os direitos sobre elas, quais vieses são incorporados, entre outros aspectos.

Os designers devem aproveitar essa oportunidade para se manter à frente e assumir um papel central no desenvolvimento de futuras ferramentas. Devem ser os principais interessados na curadoria e na definição de como continuarão a criar, projetar e se expressar em diversas mídias, plataformas e contextos culturais.

... E COMO ELES PROJETAM

Não há regras, habilidades ou áreas de expertise que garantam a importância (ou o emprego) de um designer. É preciso encarar a evolução da IA e o papel da profissão de forma mais abstrata.

Os designers devem pensar de forma sistemática para descobrir como se comunicar em diversos canais ao mesmo

a função do profissional de design envolve comunicar e conectar ideias de maneira profunda e relevante.

tempo e como as pessoas interagem com a tecnologia. Desenvolver uma compreensão profunda das plataformas de comunicação atuais e futuras será fundamental.

Afinal, esses profissionais desempenham três papéis principais: criar (estruturar conhecimento e representar percepções); traduzir (transitar entre contextos, plataformas e culturas); e articular (dar clareza aos pensamentos e sentimentos).

O ato de criar nos convida a enxergar as coisas de maneira diferente e nos conecta de novas formas com o mundo e com os outros.

O design é, em última análise, uma atividade profundamente humana. O papel do designer é facilitar a comunicação de ideias e experiências de uma forma que toque as pessoas.

No fim das contas, somos nós, seres humanos, que decidimos se algo gerado por IA é “bom” ou “ruim” e o quanto nos conectamos com ele. Como definimos isso é algo que a inteligência artificial jamais poderá responder.


SOBRE O AUTOR

Yujune Park e Caspar Lam são co-fundadores da consultoria de design Synoptic Office. saiba mais