Entenda quando não se deve confiar no instinto – e o que fazer nessa hora

Algumas situações exigem tomadas de decisão conscientes, que não são guiadas por impulsos ou emoções de momento

bola de cristal sobre mesa coberta com toalha branca
Créditos: DNY59/ iStock

Constance Dierickx 4 minutos de leitura

A maioria das pessoas acha que a experiência é o melhor farol que temos para iluminar nossas escolhas. Muitas vezes, isso é verdade. Mas o conhecimento também pode nos atrapalhar se não percebermos que aquilo que funcionou no passado não se aplica à situação atual.

Até mesmo as pessoas mais brilhantes e experientes podem cair em armadilhas difíceis de prever na hora de tomar decisões. Isso vale principalmente para situações cotidianas, porque é quando costumamos andar mais distraídos. 

Existem três cenários muito comuns que exigem decisões conscientes em vez de instintivas. São momentos nos quais é melhor ignorar o instinto e a experiência e confiar no pensamento consciente e estratégico.

1. Quando o contexto mudou

Muitas vezes, incorremos em dois extremos: minimizamos a probabilidade de que uma mudança nos afete ou imaginamos consequências muito piores do que as prováveis. Fusões, aquisições e reestruturações são um bom exemplo.

Mesmo quando os líderes prometem que “nada vai mudar”, é prudente tomar nota da mudança e evitar agir com base em otimismo cego ou no medo exagerado.

Até mesmo as pessoas mais brilhantes e experientes podem cair em armadilhas difíceis de prever na hora de tomar decisões.

Em vez disso, é mais útil tentar imaginar de que formas o futuro da empresa provavelmente será diferente e analisar como você pode desempenhar um papel em seu sucesso. Existem três perguntas a ser feitas nesses casos. Elas ajudam a orientar sua carreira, não importa onde você trabalhe.

- No que eu sou bom? (citar três habilidades é mais útil do que se apegar apenas ao que você considera ser o seu “superpoder”.)

- Das coisas em que sou ótimo, o que realmente amo fazer?

- Como as coisas em que sou bom e amo fazer me tornam valioso no trabalho?

Manter essas questões em mente pode ajudá-lo a permanecer no “modo de tomada de decisões conscientes” e evitar as reações instintivas, que muitas vezes tomam conta da gente e nos levam a fazer besteira por impulso. 

2. Quando os riscos são altos, mas a visibilidade é baixa

Para cada decisão pessoal, há consequências. Por exemplo: com quem vamos manter relações mais próximas; quanto estamos dispostos a pagar por uma casa; onde vamos trabalhar. No entanto, essas escolhas também vêm com uma onda inicial de energia e otimismo que podem trazer uma alegria genuína. Isso nos permite embarcar na fase de ideias de uma decisão importante, mesmo que o risco seja muito alto.

Por mais forte que seja o impulso de agir, o coração pode nos levar a decisões que apenas agravam a crise.

Infelizmente, esse entusiasmo – que costuma durar pouco – pode nublar a nossa visão e distorcer o nosso pensamento. Assim, somos levados a tomar decisões que, mais tarde, percebemos que poderiam ter sido mais bem ponderadas.

Em vez de se precipitar e tomar atitudes com consequências de longo prazo, devemos usar a emoção trazida por uma ideia empolgante como uma oportunidade de observação, um convite para sonhar e desconstruir.

No começo, pode parecer um pensamento estraga-prazeres. Mas a desconstrução – ou engenharia reversa – de uma ideia pode ser um processo altamente criativo, que leva a uma compreensão mais profunda do que realmente queremos e do que estamos dispostos a fazer para alcançá-lo.

3. Durante uma crise

Quando eclode uma crise, até mesmo o líder mais experiente fica com medo. O instinto grita para abortar a missão, fugir ou descarregar o problema sobre outra pessoa e nunca olhar para trás.

O instinto também pode nos levar a descontar nossas emoções nos outros. Quando estressados, exaustos e com medo, uma alternativa é buscar a simpatia dos outros, contando como a situação está sendo difícil para nós.

Desenvolver o pensamento estratégico é uma forma de evitar que confiemos demais na experiência.

O instinto, por si só, pode não ser confiável para guiar nossas ações. Por mais forte que seja o impulso de agir, o coração pode nos levar a decisões que apenas agravam a crise. Mas é claro que podemos usar nossos impulsos como uma pista.

No modo de tomada de decisão consciente, os impulsos servem como informações. A consciência intensificada permite decidir se devemos agir ou nos mover mais lenta e cautelosamente. Uma maneira de avaliar as opções é se perguntar: “o que você aconselharia alguém a fazer na sua situação?”.

ESCOLHA UM CONSELHEIRO DE CONFIANÇA

Escolher a pessoa certa para pedir conselhos é extremamente importante. Mas mesmo seus conselheiros mais confiáveis podem desviá-lo se não estiverem cientes dos limites de seus conhecimentos. Confiando demais, podemos involuntariamente abrir mão de alguma autonomia, e pode ser difícil recuperá-la quando outra pessoa assume a autoridade.

Acreditamos que quanto mais experiência, melhor. No entanto, quando o contexto muda, os riscos são altos e a visibilidade é baixa, ou quando ocorre uma crise, nossa experiência e instintos podem nos colocar em ciladas. Nessas situações, não é preciso ignorar o instinto completamente.

Em vez disso, devemos considerar até emoções fortes como pistas importantes e utilizá-las no processo de tomada de decisão. Desenvolver o pensamento estratégico é uma forma de evitar que confiemos demais na experiência, permitindo-nos ver o que os outros não veem e tomar decisões acertadas, mesmo quando as apostas são altas.


SOBRE A AUTORA

Constance Dierickx é psicóloga licenciada, cientista de decisão e especialista em liderança. saiba mais