Empresa de cannabis lança produtos para apoiar comunidade Apirinã, no Xingu
Parceria envolve desenvolvimento da população e doação de 10% do valor para ONGs e instituições que protegem a floresta e seus povos
Muitas companhias começam a pensar em como alinhar seus objetivos com a missão de preservar o planeta. Gonen Keren, CEO da Pangaia CBD, empresa de medicamentos à base de cannabis que atua no mercado brasileiro há quatro anos, sempre quis trabalhar em prol do mundo que queria construir e deixar para seu filho.
"Para mim, isso não é possível sem a ajuda dos povos originários. São eles os guardiões da floresta, ninguém conhece esse território melhor que eles. A consciência do cuidado deles vai muito além da nossa. Então, se quisermos preservar a Amazônia, precisamos fortalecer os povos indígenas e usar nossas ferramentas para somar na luta deles, que é a nossa também", diz Keren.
Para tornar esse sonho realidade, a Pangaia está se unindo à comunidade Apirinã (que engloba duas famílias de etnias diferentes, os Xipaya e os Juruna), da região do Médio Xingu, no estado do Pará, para lançar dois novos medicamentos à base de cannabis.
Eles misturam maconha com arnica, andiroba e copaíba, plantas medicinais usadas pelos povos originários e pela medicina popular há centenas de anos.
Tanto os Xipaya quanto os Juruna são vítimas do processo de deslocamento compulsório no Médio Xingu. Desde 1975, esses e outros povos originários sofreram e ainda sofrem com os danos irreparáveis causados pela construção da hidrelétrica de Belo Monte.
Autonomia financeira, retomada de terras, êxodo dos mais jovens para cidades em busca de fonte de renda, preservação de florestas e igarapés e a falta de suporte para necessidades básicas (como saúde e educação) são algumas das principais dificuldades enfrentadas por essas populações.
PROPRIEDADES MEDICINAIS
O projeto, chamado de Pangaia Amazônia, tem duas vertentes de ação direta. A primeira é a doação de 10% do valor dos novos medicamentos a ONGs e instituições que protegem a floresta e seus povos. A segunda é o trabalho desenvolvido diretamente com a comunidade Apirinã.
"Neste momento, estamos terminando o processo de formalização da primeira associação dessas famílias, assim como apoiando a construção da sede física dentro do território. Nós não compramos os insumos dos medicamentos deles ainda, porque estão em processo de produção", explica Keren.
Os produtos lançados pela parceria entre a Pangaia e a comunidade Apirinã são o óleo de CBD Full Spectrum com Copaíba e o creme/ pomada de CBD Full Spectrum com Andiroba, Arnica e Copaíba.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) certificou que os produtos possuem propriedades anti-inflamatórias, analgésicas, cicatrizantes, ansiolíticas, antidepressivas, antimicrobianas e antioxidantes.
"Temos muito trabalho pela frente. Estamos fazendo conexões, descobrindo caminhos, ousando novas perspectivas, fortalecendo causas que acreditamos, cumprindo nossa responsabilidade e sendo referência para que outras empresas também invistam em tecnologias sociais", afirma Keren.
MERCADO DE CANNABIS NO BRASIL
O mercado de produtos com cannabis tem se ampliado e se estruturado no país, com novos players surgindo e diversos posicionamentos a favor da diminuição das restrições legais em relação à substância.
"Percebemos o crescimento do número de pacientes, de novas empresas, do preconceito diminuindo, a mídia
Produtos são feitos com plantas medicinais usadas pelos povos originários e pela medicina popular há centenas de anos.
trazendo a informação. Sabemos do potencial de nossas terras para produção, o quanto economizaríamos em gastos com a guerra às drogas, quanto nossa economia seria beneficiada", diz o CEO da Pangaia.
Keren vê com entusiasmo o potencial revolucionário desse setor, mesmo com todos os desafios e com o crescimento confuso e desordenado.
"Falta envolvimento político e social, falta legislação, falta cooperativismo, acesso às minorias, mais médicos prescritores, incentivo em pesquisas, e muito mais", diz.
A Pangaia CBD foi criada por Keren, israelense que vive no Brasil há 12 anos, com a ajuda de Raphael Mechoulam, cientista conhecido por suas descobertas sobre a cannabis em Israel. Atualmente, vende produtos, que variam entre óleos, flores, pomadas, gummies e cápsulas, todos fabricados nos EUA. No ano passado, as vendas da empresa aumentaram em 50 vezes.
