O líder do futuro é humano e empático

Salário e benefícios são importantes, mas os temas que mais motivam e engajam as pessoas têm a ver com o comportamento do líder

Crédito: Olena Koliesnik / iStock

Renata Rivetti 5 minutos de leitura

Segundo novo relatório da Gallup (State of the Global Workplace 2023 Report), o custo do para a economia global do baixo engajamento dos colaboradores é de aproximadamente US$ 8,8 trilhões. Isso impacta diretamente a vida de todos nós, em diferentes aspectos.

Qual a solução para esse significativo problema, que já não é novo? Segundo a própria Gallup, a principal resposta é: mude a maneira como seu pessoal é gerenciado.

Por muito tempo acreditamos na gestão do medo, no micro gerenciamento, comando e controle para gerar resultados. E, de alguma forma, esse modelo deu certo por um tempo.

Cultura e liderança deveriam andar de mãos dadas para a construção de um ambiente mais saudável.

Há ainda aqueles que tentam manter o status quo e não percebem ou não querem perceber as evoluções que vem ocorrendo globalmente. Mas será que não está na hora de encararmos que não estamos prosperando ou florescendo como sociedade?

A verdade é que os resultados desse modelo de gestão não têm tido um saldo positivo. Há anos que sabemos disso, mas as reflexões no pós-pandemia e com as novas gerações no mercado de trabalho nos provocam à mudanças, pois os dados são críticos.

Segundo o relatório da Gallup, somente 23% das pessoas estão engajadas no trabalho, enquanto 59% estão fazendo o mínimo possível (o tal quiet quitting) e 18% agem de forma a prejudicar a organização. O mesmo relatório reporta recorde de stress (44% das pessoas se sentiram muito estressadas no dia anterior). Mais da metade diz estar procurando outro emprego. 

O custo dessa gestão autoritária, pouco humana e pouco empática tem sido alto, tanto em gastos com turnover, baixa produtividade e absenteísmo quanto em termos de saúde mental (estamos adoecendo!).

AMBIENTES TÓXICOS

Precisamos entender o impacto dos líderes, tanto no engajamento quanto na saúde mental dos colaboradores, e nos preparar para os desafios de liderar em 2023, em um mundo BANI (sigla em inglês para frágil, ansioso, não-linear e incompreensível), híbrido, globalizado e desafiador.

Não fomos preparados para a liderança nesse cenário, mas devemos assumir essa responsabilidade e entender que nós, líderes, temos uma grande influência sobre nossos times e podemos ajudá-los a alcançar seu máximo potencial e florescer – ou a adoecer.

Uma cultura não deveria ser algo teórico no website da empresa. Ela precisa ser praticada.

A verdade é que a mudança não acontece de uma hora para outra. A maioria das empresas ainda têm um ambiente tóxico. Mas, segundo o relatório da Gallup, os quiet quitters sabem o que a empresa deveria fazer para mudar essa situação: 41% dizem que é preciso trabalhar a cultura; 28%, salário e benefícios; e 16%, bem-estar e harmonia entre a vida pessoal e profissional.

Ou seja, salário e benefícios são importantes, mas os temas que mais motivam e engajam as pessoas têm a ver com o comportamento do líder.

Uma cultura não deveria ser algo teórico no website da empresa. Ela precisa ser praticada. E a cultura molda e é moldada por nossas atitudes. Cultura e liderança deveriam andar de mãos dadas para a construção de um ambiente mais saudável.

Para construir essa cultura mais saudável, há características e atitudes fundamentais para um líder praticar.

MEDIDAS PRÁTICAS

O primeiro passo é organizar melhor as demandas versus os recursos do time. O líder é corresponsável em entender se o colaborador está sobrecarregado não somente em atividades, mas se tem os recursos necessários para realizar as demandas, sejam eles recursos técnicos ou comportamentais.

Precisamos entender o impacto dos líderes, tanto no engajamento quanto na saúde mental dos colaboradores.

Para isso, é preciso olhar para o indivíduo e não apenas para o profissional. Entender a vida pessoal, a fase em que está, suas ambições, sua história, como se sente no momento e até se tem conhecimento ou ferramentas técnicas para gerar resultados esperados. Entender se hoje a pessoa está preparada para tudo o que está sendo cobrada.

Parece simples, mas, na prática, fazemos pouco isso. Desafiamos as pessoas muitas vezes sem entender se esses desafios fazem sentido para ela naquele momento.  

O segundo passo é trabalhar em conscientização sobre como transformar o ambiente tóxico por meio de mudanças de hábitos e atitudes. A caracterização de um ambiente tóxico é um ambiente de desrespeito, falta de inclusão e equidade, comportamento não ético, competição e abusos.

Tudo isso parece óbvio, mas na prática é sutil. Acontece em situações cotidianas e, às vezes, vista como "apenas uma brincadeira". "Essa geração se importa com tudo, não podemos mais falar nada." Essa atitude, entre outras, infelizmente ainda é comum nos ambientes organizacionais.

Por fim, é preciso trabalhar para desenvolver a autoestima de cada membro do time. A empresa não pode ser mais um

O custo da gestão pouco humana e empática tem sido alto, tanto em termos de turnover, produtividade e absenteísmo quanto em saúde mental.

ofensor na autoconfiança e autoestima das pessoas. Para isso, uma atitude fundamental é reconhecer e valorizar mais o time, não somente metas e resultados alcançados, mas também evoluções, esforços e comportamentos.

Além disso, é essencial construir relacionamentos de confiança. O líder não pode mais atuar no comando e controle e fazendo microgerenciamento, desconfiando de cada atitude de seus liderados. É preciso também atuar com justiça e imparcialidade e construir um senso de colaboração e comunidade no time. 

Nenhum desses passos requer um grande investimento financeiro, mas certamente exigem grande dedicação do líder. Primeiro é preciso a consciência da mudança necessária e depois, a prática – construir novos hábitos, colocar o tema na agenda, priorizar o tempo com o time e com essas ações.

Nesse futuro do trabalho com mais inteligência artificial e novas evoluções, é imprescindível um líder humano, empático, próximo do time e preocupado com a saúde mental, bem-estar e felicidade de seus liderados.

E você, se sente preparado para esse futuro?


SOBRE A AUTORA

Renata Rivetti é fundadora e chief hapiness officer da Reconnect - Happiness at Work, especializada em felicidade corporativa e lidera... saiba mais