Inteligência artificial e o ranço que dá só de ouvir
Quem está por trás de toda inovação tecnológica somos nós
Hora de aterrissar a conversa sobre AI
Prometo (tentar) colocar essa bola bem no chão porque, qualquer título que seja sobre esse tema, somado à cobertura de evento internacional, já deixa a gente com preguiça só de ouvir. A questão é que, esquece, temos que falar. O termo que tem se repetido em todos esses eventos dos últimos tempos (SXSW, WebSummit e Cannes) é que a inteligência artificial é um “super charge”, um turbo capaz de amplificar a criatividade humana. Esteve na boca da desenvolvedora do Chat GPT, a Open AI e até do rapper will.i.am.
No momento, os criadores somos nós e ela é chamada “generativa” porque realiza a partir daquilo que somos capazes de “inputar”. É a partir do nosso comando, ou do nosso “briefing”, como os publicitários gostam de dizer, que a IA faz com que as coisas aconteçam.
quando falamos de IA e criatividade, estamos elaborando também sobre o entendimento dos contextos das relações humanas.
Em Cannes, a IA apareceu como se fosse algo lá para frente, no tal futuro, ainda distante. Não sei se é para não assustar os criativos, mas fato que me lembrou quando comecei a trabalhar com internet, lá nos idos do Orkut. “Rede social é mais um canal, um dia, talvez, quem sabe…”, os criativos mais céticos diziam.
Corta. Os maiores espaços de ativações no festival de Cannes eram da Meta, Reddit, Amazon com estande especial só sobre a Twitch, TikTok, Pinterest e por aí vai. Inteligência artificial não está para a gente como os robôs estão para os eventos de tecnologia. Ela já é.
O COO do Chat GPT, Brad Lightcap, deixou bem claro esse ponto, além de falar sobre a necessidade das questões de regulamentação. “Ninguém aqui pediria para tirar hoje o computador da sua vida. Toda nova tecnologia é assim. O computador mudou o jeito que criamos e trabalhamos. A IA vai ser só mais uma ferramenta nessa linha. Perdemos muito tempo hoje e não perderemos mais tanto tempo no futuro”.
O PODER DA VOZ
O futuro do trabalho ronda essa temática, talvez porque muita gente ainda coloque a IA num imaginário distante e meio “assustador” em relação ao que fazer com isso, assim como o que ronda os robôs. Há um pensamento de que a parte criativa ficaria com a gente e a “braçal”, com eles. Porém, já sabemos que o que a IA pode ser é mais criativa: cria roteiros, imagens, apresentações, edita vídeo e por aí vai.
Então, o que nos diferencia é a pergunta que todos estão se fazendo. Claro que, até aqui, as respostas perpassam por tudo que nos conecta ao campo da humanidade: empatia, emoção, inspiração, opinião, paixão, linguagem.
Inteligência artificial não está para a gente como os robôs estão para os eventos de tecnologia. Ela já é.
Porém, uma palestra que mais parecia um musical – “A voz da criatividade: o musical” – trouxe mais uma ideia para essa conversa: a voz. Seria ela a nossa tecnologia mais humana? Quando temos voz, colocamos ação em algo, e não apenas a realização de uma tarefa.
Dentre os três cases apresentados ao longo da palestra-musical, um deles abordava a questão do suicídio de crianças japonesas, que tem crescido muito. O papel do criativo, no caso desse projeto, era dar voz a algo que está acontecendo e trazer, em forma de campanha, um alerta.
Ao longo da apresentação, eles foram conduzindo essas iniciativas e exemplos sobre a criatividade humana a favor de resolver problemas reais, ao mesmo tempo em que, para que esses problemas sejam resolvidos, o comando dessa criatividade é a voz humana. É sobre como “dar voz” pode estimular iniciativas práticas de mudança.
Quem dá o comando (ainda) para qualquer tecnologia que chega somos nós. Esse pode ser nosso grande diferencial e, até mesmo, poder. Colocar nossa voz a favor das iniciativas criativas. O que gerar com IA depende do comando dessa voz interna que segue com a gente.
De um lado pode haver, sim, o viés da tecnologia que deprime, oprime e, do outro, o comando de voz para a tecnologia que pode amplificar, educar, resolver.
Enfim, quando falamos de IA e criatividade, estamos elaborando também sobre o entendimento dos contextos das relações humanas. Está circulando pelas redes sociais esse vídeo maravilhoso elaborado pelo @studiokrya e com vídeo original criado pelo fotógrafo e videomaker Ruan Martins, que trago como uma tangibilização prática dessa conversa sobre a voz que imputa a narrativa:
Fato é: não andaremos para trás. Um bom caminho é usar a nossa voz para o bom comando que queremos ver nos contornos referentes à temática, sejam eles legislativos ou criativos.
Quem está por trás de toda inovação tecnológica somos nós. Que o fator humano faça com que a pauta sobre inteligência artificial esteja a favor da nossa humanidade.