Este estúdio de design criou uma campanha completa usando apenas IA
A Design Army queria testar se a IA era uma moda passageira ou o futuro da área
Como acontece com qualquer avanço tecnológico, a fase do furor com a novidade precede a fase da sua aplicação direta nos trabalhos. Mas, nos bastidores, muitos estúdios de design já estão se mexendo para colocar a inteligência artificial em uso real.
Pum Lefebure, cofundadora e diretora de criação da agência Design Army, queria experimentar a incorporação na prática da IA nas suas produções. Com essa ideia na cabeça, ela deixou de lado a questão sobre “a tecnologia substituindo o trabalho humano” e não pensou duas vezes antes de explorar o potencial do Midjourney.
Conhecida por sua produção tipográfica e por sua pegada fashion (em trabalhos para clientes como Adobe, Bloomingdale's, Disney, Netflix e PepsiCo), a Design Army trabalha há anos com a Georgetown Optician. A agência acompanhou a empresa de ótica desde que era apenas uma loja em Washington até se tornar uma rede de lojas, propriedade da New Look Vision Group, uma companhia de luxo.
A Georgetown Optician se preparava para abrir uma nova loja e encomendou à Design Army uma campanha de divulgação para acompanhar a inauguração, mas com apenas quatro semanas de antecedência.
Lefebure conta que, para um projeto como esse, ela geralmente contrataria modelos, maquiadores e especialistas em estilo, procuraria e reservaria locações para as filmagem etc. No final das contas, o trabalho levaria pelo menos três meses para ser executado.
Sem tempo e sem o orçamento necessário, ela percebeu que estava na hora de testar o que a IA seria capaz de fazer. A Georgetown Optician deu o aval para essa tentativa.
O processo de criação influenciou desde o conceito da campanha, “Adventures in A-Eye”, um ambiente surreal de ficção científica que destacaria os óculos da marca. Dado o calendário do lançamento primavera/ verão da campanha, a Design Army selecionou um tema e procurou criar uma paisagem marciana, com um grupo de exploradores elegantes sondando o desconhecido.
Como conceito, funcionava bem. Mas ainda era preciso fazer com que o Midjourney o executasse – e é aí que entra a arte de criar um bom prompt. Assim como no trabalho com uma equipe de design composta por pessoas, o processo depende muito da direção de arte. Mas, quando se trata de trabalhar com IA, articular essa direção é ainda mais vital.
A Design Army não quis compartilhar nenhum dos prompts exatos usados na campanha (eles agora são propriedade intelectual), mas Lefebure conta que deu o pontapé inicial como faria com qualquer outro projeto – com um painel de ideias.
Surgiram temas que direcionaram as palavras-chave para os prompts: década de 1950, ficção científica, Hitchcock, safáris e muito rosa (dada a paleta de Marte que remetia ao planeta desconhecido).
A imagem de um globo ocular gigante começou a surgir, a princípio um pouco ameaçador na aparência. Até que Lefebure trabalhou algumas técnicas de animação japonesa no prompt para torná-lo mais amigável e fofinho. Suas instruções ficaram mais longas e específicas, e os resultados melhoraram.
Ela cruzou referências da história da arte com dicas de arquitetura e sobrepôs referências de várias áreas do conhecimento. “Às vezes, até esboçávamos no papel o que queríamos e depois escrevíamos uma descrição desse esboço e a usávamos como um prompt”, conta.
Ao combinar seu conhecimento acumulado nos universos da moda, cenografia e cinema, entre outras áreas, Lefebure chegou a um resultado que realmente tem a cara da Design Army, tanto no tom quanto na estética.
Mas e quanto aos problemas éticos que permeiam a tecnologia de IA e os trabalhos sem autoria clara que a sustenta? “Não podemos copiar ninguém. É por isso que começamos lançando alguns nomes e ideias em nossos prompts”, diz Lefebure. “Trata-se de usar sua própria imaginação para enganar um pouco a IA e fazê-la pensar mais.”
Quanto aos modelos que aparecem na campanha, são todos 100% falsos. Na verdade, tudo na campanha foi feito pela IA, exceto a fonte original e os óculos. As armações reais de um par de óculos da Georgetown Optician foram adicionadas às cenas.
Depois de refinar as imagens para o chegar ao resultado final, a Design Army entregou em questão de semanas uma campanha que Lefebure calcula que, de outra forma, levaria meses – e que a Georgetown Optician e sua empresa controladora adoraram. Por conta dessa agilidade, ela acreditar que a IA tem lugar garantido no futuro do design.
Quanto ao seu campo de atuação, ela acredita que não haverá perda de empregos para a IA. “Mas perderemos empregos para as pessoas que sabem como trabalhar com IA. Cabe a nós, humanos, valorizar o que é real – ou valorizar a velocidade e a beleza da nova tecnologia”, diz Lefebure.
A IA pode democratizar o design ou destruí-lo. Talvez essa seja a chave de tudo. Esqueça todas as comparações com a Skynet (a IA do filme “O Exterminador do Futuro”). No fim das contas, a decisão está nas nossas mãos.