Criatividade para o fim do mundo

Crédito: Fast Company Brasil

Babi Bono 4 minutos de leitura

Em tempos de "infoxicação' (Alfons Cornellá, 1996) e escassez de atenção, fiquei muito reflexiva sobre como tornar útil esse espaço para quem parar alguns minutos por aqui.

"Qual seria hoje o papel de um colunista num veículo como esse" e "como poder levar algo que faça sentido para as pessoas?", foram algumas perguntas que ficaram rondando minha cabeça enquanto olhava travada para o computador para escrever esse texto de boas-vindas.

Tempo hoje é uma das moedas mais importantes do mundo. Então, como costumo dizer por aí, estamos "sem tempo, irmão" para perder com o que não nos toca.

Quando caminhamos nas ideias que nascem a partir da criatividade, exploramos e vemos seus efeitos na prática, chegamos ao que chamamos de inovação.

Pretendo trazer aqui o que me toca: pessoas e suas histórias, projetos de inovação, temas que cruzem tecnologia e comportamento e tudo que pode endereçar um olhar sobre a criação de um futuro-presente, conectado ao campo das urgências e dos territórios periféricos também. De um jeito positivo, que nos desloque para a boniteza da presença de estar nas nossas mãos o uso da criatividade para endereçar a construção das soluções que precisamos ver no mundo. 

A criatividade é o guarda-chuva temático dessa coluna porque acredito que, para sermos inventivos, inovadores, propositivos, precisamos colocar essa nossa capacidade de imaginar, criar, produzir para resolver as dificuldades do cotidiano. Pretendo sempre trazer alguns exemplos que ancoram os temas falados aqui, exercendo também um viés de curadoria e ponte a partir dessas linhas. 

A criatividade que tem pulsado nas periferias do Rio de Janeiro, por exemplo, quando faz conexão com o mundo constrói um impacto real. Tem favelado criando NFT com cunho social, tem filósofa periférica falando de metaverso e tecnologia ancestral, tem geração Z das favelas nos representando nas reuniões globais dos maiores eventos de sustentabilidade do mundo.

Se expandirmos para os coletivos, vemos indígenas conectando tecnologia para regeneração, um grupo de pesquisadoras levando pela primeira vez a pauta do racismo religioso para dentro da academia científica e cruzando os impactos disso na nossa história, e um tanto mais que pretendo conectar por aqui.

Crédito: Varun Gaba/ Michael Dziedzic/ Unsplash

Enfim, já passou da hora de entendermos que criação não é disciplina técnica, mas habilidade profissional fundamental para (re)construção do mundo. Segundo o Fórum Econômico Mundial, inovação é a primeira e criatividade, a quinta quando falamos de habilidades profissionais do futuro.  

As temáticas endereçadas aqui cruzam minha existência enquanto mulher, de origem favelada, que trabalha como estrategista criativa na indústria criativa e de comunicação há quase 20 anos construindo narrativas para organizações dos mais diversos tipos e hoje empreende dentro das verticais de impacto, educação e entretenimento e também junto aos influenciadores de favelas.

Ah, e tenho como uma das minhas grandes paixões a energia mais criativa que o Brasil endereça: o carnaval e minha perspectiva enquanto articuladora do movimento de rua há 15 anos, organizadora, produtora e percussionista amadora.

para sermos inventivos, inovadores, propositivos, precisamos colocar essa nossa capacidade de imaginar, criar, produzir para resolver as dificuldades do cotidiano.

Muito prazer, sou Bárbara Bono, conhecida como Babi, cria do Morro do São João, uma comunidade no Engenho Novo, na Zona Norte do Rio de Janeiro e vai ser um prazer dividir esse espaço com vocês e com algumas pessoas que quero trazer para que ocupem essas linhas aqui comigo. 

Nas minhas aulas e palestras, falo muito sobre se vamos disputar a atenção das pessoas, que seja com bom conteúdo e conteúdo do bem – este último, conceito que conheci de forma prática em um laboratório de inovação, chamado Good Lab, que endereça as soluções criativas de design para os problemas do hoje. 

Com isso, o título deste artigo é uma provocação a usarmos nossa criatividade a favor da construção do mundo que queremos. É sair do repouso, nada confortável, dos pessimismos desses tempos e de tudo que nos assusta para um conhecimento sobre o que pode nos envolver. Quando caminhamos nas ideias que nascem a partir da criatividade, exploramos e vemos seus efeitos na prática, chegamos ao que chamamos de inovação. 

Deixo como inspiração criativa para essa semana que se inicia, que vocês mergulhem e conheçam algumas pessoas e seus projetos. Com carinho, minha primeira ponte criativa vai para apresentar: Ginga Uff (@gingauff), Marcelo Rocha (@nosmarcelorocha), StudioKrya (@studiokrya) e 2050 (@2050___).   

Uma nota de rodapé: se curtiu algo que está nessas linhas e os exemplos, por favor, referencie. Mulheres da indústria criativa são historicamente apagadas quando suas ideias e conteúdos são passados adiante. No mais, um abraço, chegue mais e vamos trocar.


SOBRE A AUTORA

Babi Bono é cria do Morro do São João (RJ), jornalista, publicitária e estrategista criativa. É fundadora da Lemme Content e Líder de ... saiba mais