Da máquina a vapor às redes neurais

Crédito: mppriv/ iStock

Giovanni Rivetti 4 minutos de leitura

No começo do século 19, um dispositivo capaz de transformar calor em energia mecânica (motor a vapor), com eficiência suficiente para substituir a tração de um animal, foi a base de uma das maiores mudanças da existência humana: a Revolução Industrial.

Com isso, é no mínimo importante refletir sobre os impactos das novas tecnologias generativas na sociedade e na chamada economia criativa, onde nós, humanos, em alguma medida, somos a “mula da vez”.

Como disse o economista Richard Baldwin, professor do Instituto de Genebra, na reunião anual do Fórum Econômico Mundial em Davos de 2022, “a inteligência artificial não vai roubar seu emprego. Pessoas que saibam usá-la vão”.

Esta afirmação fica ainda mais contundente e aplicável em setores onde a força motriz é o capital intelectual, a criatividade e o conhecimento. De acordo com o relatório “Creative Economy Outlook 2022”, publicado pela Organização Mundial do Comércio (OMC), a economia criativa mundial cresceu para US$ 10,24 trilhões em 2022, representando 13% do PIB global.

a consultoria McKinsey recalculou o impacto direto da IA generativa entre US$ 2,6 trilhões e US$ 4,4 trilhões anuais na economia mundial.

Sou um entusiasta da simbiose produtiva entre humanos e máquinas. Da “força artificial” dos motores do começo do século retrasado aos fascinantes domínios da “inteligência artificial” e suas extensões generativas, dando às máquinas a capacidade de criar conteúdos originais, aprender, sugerir e até criticar ideias.

Da batedeira que me ajuda a misturar ingredientes quando estou criando uma receita nova aos assistentes de texto (como o Bard, do Google, usado neste artigo), acredito que o nosso desenvolvimento histórico passa pela habilidade de alavancar nosso potencial criativo por meio da tecnologia.

Em 1962, Walt Disney disse: “não há realmente segredo sobre nossa abordagem. Continuamos avançando – abrindo novas portas e fazendo coisas novas – porque somos curiosos. E a curiosidade continua nos levando por novos caminhos. Estamos sempre explorando e experimentando. Chamamos isso de imagineering – a combinação de criatividade e imaginação com conhecimento técnico.”

Na ocasião, ele fundava seu método de inovação e um time composto por criativos, designers e engenheiros, os “imagineers”. Esse é um exemplo icônico (que adoro) desta possível relação ganha-ganha entre os códigos humanos e tecnológicos.

Sessenta anos depois, cá estamos nós, diante da nossa próxima revolução. Em um contexto inimaginável de possibilidades. Em um ritmo frenético e de aceleração crescente. Por vezes, me sinto o próprio Charles Chaplin no filme “Tempos Modernos” (1936), engolido pelas engrenagens do progresso, tentando dar conta de entender e aplicar tudo o que se apresenta.

Sigo em frente. Curioso. Mais curioso do que nunca. Não apenas sobre as novidades diárias de superpoderes técnicos e aplicações disponíveis, mas na sua extensão prática e de impacto econômico.

Em um estudo recente, a consultoria McKinsey aumentou sua aposta e recalculou o impacto direto da IA generativa entre US$ 2,6 trilhões e US$ 4,4 trilhões anuais na economia mundial, com base em 63 casos de uso e 16 funções de negócios.

Já a Bloomberg Intelligence sinalizou este mercado com o impressionante ritmo de crescimento de 42% ao ano, consistente ao longo da próxima década. E a PWC destacou diversas áreas de oportunidades e crescimento com base no nível de maturidade de oito setores da economia, através da criação do seu AI Impact Index, baseado em 300 casos de uso aplicáveis.

acredito que o nosso desenvolvimento histórico passa pela habilidade de alavancar nosso potencial criativo por meio da tecnologia.

Apesar do tamanho do impacto ainda ser estimado, o nível de entusiasmo e a quantidade de aplicações relevantes parece acompanhar a velocidade com que a tecnologia vem amadurecendo.

É igualmente embrionário (e ultra necessário) o debate sobre os reflexos sociais de tudo isso. Positivos e negativos. Questões fundamentais sobre direitos autorais, requalificação de força de trabalho, vieses de dados, concentração de poder, dentre outros temas sensíveis que se colocam com suma importância e senso de urgência. Estamos no começo de uma onda de mudanças de proporções épicas! Precisamos debatê-la em profundidade.

Nesse contexto, não poderia estar mais animado e grato à Fast Company Brasil por abrir espaço para refletirmos juntos sobre os impactos dessa fascinante perspectiva que estamos vivendo.

Em minha coluna, trarei expoentes da economia criativa brasileira que estão experimentando, na prática, essa nova fronteira das tecnologias generativas aplicadas. Convidados superespeciais que nos farão a gentileza de compartilhar suas vivências, impressões e aprendizados.

Se você é do tipo inquieto, que carrega mais perguntas do que respostas e não suporta esperar episódio novo de série, vem matar sua curiosidade e aprender junto comigo sobre como articular melhor uma das maiores oportunidades do nosso tempo.


SOBRE O AUTOR

Giovanni Rivetti é sócio e CEO da Context Creative Tech, braço de tecnologia criativa do Grupo Dreamers. O executivo permaneceu por qu... saiba mais