EUA removem lagos de hidrelétricas para restaurar flora e fauna locais
Depois que as barragens forem removidas, as tribos locais vão plantar17 bilhões de sementes para restaurar o ecossistema do rio Klamath
O maior projeto de remoção de barragem da história dos Estados Unidos está em andamento ao longo da fronteira dos estados da Califórnia e do Oregon. O processo só será concluído no final do próximo ano, com a ajuda de maquinário pesado e explosivos.
Mas, de certa forma, remover as barragens é a parte fácil. O verdadeiro desafio virá na próxima década, quando os trabalhadores, em parceria com tribos nativas, plantarem e monitorarem quase 17 bilhões de sementes na tentativa de restaurar o rio Klamath e as terras ao redor, para que voltem a ser como eram antes de as represas serem construídas, há mais de um século.
A demolição faz parte de um movimento para restabelecer o fluxo natural dos rios do país e restaurar o habitat dos peixes e dos ecossistemas que sustentam outros animais selvagens. De acordo com o grupo de defesa American Rivers, mais de duas mil barragens foram removidas nos EUA, a maioria delas nos últimos 25 anos.
Quando a demolição estiver concluída, no final do ano que vem, mais de 643 quilômetros do rio terão sido abertos para espécies ameaçadas de peixes e outros animais selvagens. Em comparação, as 65 barragens removidas nos EUA no ano passado juntas reconectaram 692 quilômetros de rios.
A remoção das barragens do Klamath não terá um impacto significativo no fornecimento de energia. Elas geravam menos de 2% da energia da PacifiCorp, quando operada a plena capacidade. O projeto esvaziará três reservatórios em cerca de nove quilômetros quadrados perto da fronteira, expondo o solo à luz solar, em alguns lugares, pela primeira vez em mais de um século.
Nos últimos cinco anos, tribos nativas coletaram sementes manualmente e as enviaram para viveiros, com planos de semeá-las ao longo das margens do rio recém-restaurado. Helicópteros trarão centenas de milhares de árvores e arbustos para plantar ao longo das margens, incluindo raízes de árvores para criar um habitat para os peixes.
RECUPERAÇÃO COM ESPÉCIES NATIVAS
A PacifiCorp construiu as represas a partir de 1918 para gerar energia. Mas as barragens interromperam o fluxo natural do rio e o ciclo de vida do salmão. Essa espécie passa a maior parte da vida no oceano Pacífico, mas retorna aos riachos gelados das montanhas para a desova. Os peixes têm significado cultural e espiritual para várias tribos nativas americanas, que historicamente sobreviveram da pesca.
Uma combinação de baixos níveis de água e altas temperaturas em 2002 causou um surto bacteriano que matou mais de 34 mil peixes, principalmente salmões Chinook. Essa perda deu início a décadas de ações de defesa por parte das tribos e grupos ambientais, culminando no ano passado, quando os reguladores federais aprovaram um plano para remover as represas.
O projeto custará US$ 500 milhões e será financiado por contribuintes e consumidores da PacifiCorp. As equipes já removeram a menor das quatro represas, conhecida como Copco Nº 2. As outras três serão derrubadas no ano que vem.
O nível de água nos lagos diminuirá entre um metro e um metro e meio por dia nos primeiros meses de 2024. As equipes seguirão essa linha de água, aproveitando a umidade do solo para plantar sementes de mais de 98 espécies de plantas nativas.
As tribos estão envolvidas no processo desde o início. A Resource Environmental Solutions contratou membros para coletar sementes de plantas nativas manualmente. A tribo Yurok até contratou um botânico de restauração.
Cada espécie desempenha um papel importante. Algumas, como o tremoço, crescem rapidamente e preparam o solo para outras plantas. Outras, como os carvalhos, levam anos para amadurecer completamente e fornecer sombra para outras plantas.
“É um casamento maravilhoso entre conhecimento ecológico tradicional das tribos e ciência ocidental”, afirma Mark Bransom, CEO da Klamath River Renewal Corporation, a entidade sem fins lucrativos criada para supervisionar o projeto.
O maior projeto de remoção de barragem estava no rio Elwha, no estado de Washington, que flui do Parque Nacional Olímpico para o Estreito de Juan de Fuca. O Congresso norte-americano aprovou, em 1992, a demolição das duas barragens do rio construídas no início de 1900. Após duas décadas de planejamento, o trabalho de remoção terminou em 2014, abrindo cerca de 113 quilômetros de habitat para salmões e trutas prateadas.
Os biólogos dizem que levará pelo menos uma geração para o rio se recuperar, mas, poucos meses após a remoção das barragens, o salmão já estava recolonizando trechos aos quais não tinham acesso há mais de um século.
A tribo Lower Elwha Klallam, que está intimamente envolvida no trabalho de restauração, permitirá a pesca de subsistência de forma limitada nos próximos meses para o salmão coho – a primeira desde que as barragens foram derrubadas.
Com a colaboração de Eugene Johnson, da Associated Press em Seattle.