Filé de peixe será cultivado em laboratório e impresso em 3D antes de ir à mesa
Duas empresas estão unindo forças para cultivar peixes em laboratório, focando principalmente em espécies ameaçadas
A pesca excessiva está reduzindo a população global de peixes, enquanto os microplásticos e o mercúrio prejudicam todo o restante da vida marinha. Em resposta a isso, uma empresa israelense de biotecnologia e uma startup agrícola de Singapura fizeram uma parceria para criar uma alternativa sustentável usando impressão 3D.
A Steakholder Foods e a Umami Meats uniram forças para cultivar frutos do mar em laboratório para o público global. A partir de células de espécies ameaçadas, bem como células vegetais, elas irão produzir carne de peixe que, posteriormente, poderá ser transformada em filés utilizando uma impressora 3D desenvolvida para essa finalidade.
Os filés impressos em 3D possuem uma textura e um sabor que a empresa afirma serem quase idênticos aos de peixes de verdade. “A bioimpressão permite um controle preciso sobre a composição e características do produto. Isso abre possibilidades para personalização”, diz Mor Glotter, vice-presidente de marketing da Steakholder Foods.
Essa técnica é relativamente comum em muitas empresas de carne cultivada. Mas a Steakholder Foods é capaz de imprimir em escala industrial, utilizando esteiras transportadoras e várias cabeças de impressão – este é seu grande diferencial. A empresa já vem imprimindo carne cultivada há vários anos.
É cada vez mais comum ouvir falar de “carne cultivada em laboratório”, um processo que utiliza células para desenvolver alternativas que imitam a carne animal em sabor, textura e valor nutricional.
Mas, embora esta técnica exista há uma década, a parceria entre a Stakeholder Foods e a Umami Meats foi pioneira na criação de peixes cultivados. Agora, outras empresas estão surgindo nesse espaço, incluindo a Finless Foods e a Bluu.
No entanto, os peixes cultivados têm um longo caminho a percorrer antes de se tornarem comercialmente viáveis, já que ainda precisam passar por aprovações governamentais e resolver questões relacionadas à escalabilidade e desenvolvimento do produto em si.
No entanto, no final de junho, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) autorizou a Upside Foods e a Good Meat a comercializar carne e produtos de frango cultivado no país. Isso ajudará a abrir caminho para os peixes.
“A tecnologia é muito semelhante”, afirma Mihir Pershad, CEO da Umami Meats. “Nossa maior dificuldade na produção de frutos do mar é que partimos de uma base de conhecimento menor em comparação com as equipes que cultivam carne bovina, pois elas podem se basear em pesquisas de cultura de células humanas. Os peixes são diferentes dos outros animais que cultivamos.”
A Stakeholder Foods e a Umami Meats utilizam células de atum, garoupa, pargo e enguia para criar filés que imitam fielmente a carne dos peixes de verdade.
Em 2013, 450 gramas do primeiro hambúrguer cultivado em laboratório foram vendidos por mais de US$ 1 milhão; hoje, o preço caiu para US$ 50, mas continua sendo um valor bastante alto e mostra o quanto ainda precisamos avançar para atingir a paridade.
Os filés impressos em 3D têm textura e sabor que a empresa afirma serem quase idênticos aos de peixes de verdade.
No entanto, os peixes cultivados podem ter uma vantagem, já que os frutos do mar geralmente são vendidos a preços mais elevados do que a carne bovina ou de frango, o que poderia facilitar a equidade de preços.
Um laboratório piloto, que será lançado em breve, estará em operação até 2025 e atenderá restaurantes e mercados em Singapura, o único país a aprovar a venda de carnes cultivadas até a recente decisão do USDA.
Com um terço de todas as reservas de peixes sendo retirado do mar mais rapidamente do que podem se regenerar, e outros 58% já pescados até o limite, a demanda por proteínas alternativas semelhantes continuará a crescer.
“A indústria de frutos do mar está, ao mesmo tempo, contribuindo e sendo ameaçada pelas mudanças climáticas”, diz Bomkamp. “À medida que os oceanos ficam mais quentes e ácidos, fica cada vez mais difícil atender à demanda por frutos do mar. Portanto, precisamos pensar em como produzi-los em escala de maneira ambientalmente consciente.”