5 perguntas para Danilo Costa, fundador do Educbank
O futuro começa nas salas de aula. É nas escolas que a transformação mais profunda do país vai acontecer. Essa é a filosofia que move a carreira de Danilo Costa. O executivo saiu do mercado financeiro em 2015 para focar em inovações no setor educacional.
Costa é fundador do Educbank, primeira instituição na América Latina fundada para apoiar financeiramente o setor de educação básica. A startup garante a mensalidade para as escolas particulares, reduzindo a inadimplência e dando apoio para os gestores educacionais focarem no ensino.
Em março, o Educbank foi a única startup brasileira a ganhar um Innovation Award no festival South by Southwest (SXSW). Recentemente, eles levantaram R$ 70 milhões em debêntures securitizadas em mensalidades de educação básica.
O Educbank já está em mais de 300 escolas no Brasil e planeja chegar a 10 mil nos próximos quatro anos. Nesta entrevista à Fast Company Brasil, Costa fala sobre os desafios de inovar no setor de educação e sobre os planos futuros da fintech.
FC Brasil – Você foi pioneiro duas vezes consecutivas, ao inaugurar no Brasil o conceito de escolas low cost em tempo integral e depois ao idealizar e fundar a primeira fintech de educação básica da América Latina. O que o motivou a colocar a inovação a serviço da educação?
Danilo Costa – Quando decidi mergulhar em educação, com o sonho de impactar positivamente o setor, eu e meus sócios já tínhamos diversas pessoas e iniciativas das quais éramos fãs. Portanto, estava claro que alguns desafios já estavam bem servidos.
em média, as escolas têm até́ um quarto da sua receita comprometida mensalmente.
Para ajudar o setor, era necessário inovar, criar algo disruptivo. E era preciso andar rápido, pois os danos causados pela não aprendizagem, dentro da faixa entre 0 e 17 anos são, em geral, irreparáveis em uma geração toda. Hoje apoiamos financeiramente centenas de escolas em 25 estados brasileiros.
FCBrasil – Quais são as maiores dificuldades de inovar em um setor regulado como a educação? O que você recomenda para quem quer enveredar por esse caminho?
Danilo Costa – O primeiro desafio é categorizar algo novo que ainda não tem classificação. Isso exige um trabalho de taxonomia profundo, estruturado – e, em nossa experiência, proativo – junto aos stakeholders, visando estabelecer o que você é (ou pretende ser), e igualmente o que você não é (ou não gostaria de ser).
O segundo desafio é transmitir maturidade institucional para os stakeholders. É preciso que as partes interessadas o vejam como algo positivo, e não como uma ameaça. Em outras palavras, tudo o que você tem de disruptivo sob as óticas comerciais e de produto, precisa ter também sob as legais e de compliance.
Se for bem-sucedido em seu objetivo de desafiar o status quo atual de uma indústria regulada, é justamente aí onde você estará vulnerável.
O terceiro desafio é garantir a qualidade e a satisfação acima da média por parte dos clientes e usuários da sua inovação. Olha o caso do Uber, por exemplo. Foi principalmente porque os clientes e a sociedade civil foram tão a favor do seu serviço que nem o lobby dos táxis conseguiu coibir.
Se você está implementando uma inovação estrutural para, no fim, oferecer algo que as pessoas não vão perder o sono se ela deixar de existir, é melhor repensar o plano.
FC Brasil – O Educbank ganhou um Innovation Award no SXSW 2023. Na sua opinião, o que é preciso para inserir a educação no ecossistema de inovação?
Danilo Costa – O reconhecimento por parte da comunidade internacional de inovação exigirá, a partir de agora, um nível de framework e, principalmente, de expectativas para toda e qualquer edtech na América Latina.
Isso tenderá a subir a nossa barra ainda mais – o que, por um lado, nos tira da zona de conforto, mas, por outro, amplia os horizontes nas construções de parcerias e atração de talentos.
Todos os projetos selecionados durante a premiação acreditam em uma cultura onde a tecnologia é usada de forma ponderada, promovendo resultados extremamente positivos para o mundo e para as próximas gerações.
FC Brasil – Um dos principais produtos do Educbank é o Inadimplência Zero, que garante 100% das mensalidades para as escolas. Quais os efeitos práticos que isso tem no dia a dia das escolas? Quais critérios usam na escolha das que terão acesso aos serviços da fintech?
Danilo Costa – Durante a minha experiência como mantenedor escolar, constatei que 25% das famílias atrasavam o pagamento das mensalidades. Ou seja, em média, as escolas têm até́ um quarto da receita comprometida mensalmente.
os danos causados pela não aprendizagem dentro da faixa entre 0 e 17 anos são, em geral, irreparáveis em uma geração toda.
O Inadimplência Zero nada mais é do que um produto financeiro, baseado em uma arquitetura própria, capaz de garantir para a escola o capital de giro que ela precisa ao longo do ciclo acadêmico, cobrando por isso um valor justo e calculado com base na qualidade operacional da instituição e na satisfação das famílias com a escola.
O processo de seleção acontece em duas etapas: coleta de informações (dados públicos e acadêmicos) e aprovação final. É bem simples.
FC Brasil – O Educbank levantou R$ 70 milhões em debêntures securitizadas em mensalidades de educação básica. No ano passado, vocês captaram R$ 200 milhões. Quais são os planos de expansão?
Danilo Costa – Nosso grande sonho é apoiar 10 mil escolas nos próximos quatro anos, oferecendo o Inadimplência Zero e outros produtos que estão saindo do forno. Para isso, nos próximos 12 meses devemos captar ao menos mais uma rodada institucional de investimento. A partir daí, vamos nos apoiar basicamente na geração de caixa da companhia e em novas debêntures.
