O laboratório de inovação da Ikea está fechando as portas – definitivamente
Criado para plantar as sementes da inovação em uma grande empresa, o Space10 diz que seu trabalho foi concluído
Depois de uma década desenvolvendo projetos conceituais e novas propostas de inovação para a gigante global de móveis Ikea, o laboratório de design independente Space10 está encerrando suas atividades. O último dia de operações em seu estúdio em Copenhague foi 31 de agosto.
Dois dos cofundadores consideram o fechamento como uma despedida em grande estilo, enquanto estão no auge. Eles alegam que o laboratório de design foi criado para desencadear um processo de inovação dentro da empresa, propondo novas formas de pensar sobre o que ela poderia realizar, em vez de produtos específicos que deveria vender.
Essa abordagem se disseminou pela organizção e por suas unidades pelo mundo. "No fim das contas, praticamente atingimos todos os objetivos que traçamos para nós mesmos quando iniciamos a colaboração", explica o cofundador Simon Caspersen.
A Space10 foi criada em 2014, a partir de uma colaboração entre a Ikea e o coletivo de design dinamarquês ArtRebels, que havia projetado uma coleção de móveis para a rede varejista. O então CEO da Ikea, Torbjörn Lööf, convocou o grupo para uma reunião.
"O que sugerimos foi: que deixarmos de lado o modelo cliente/ agência e fazermos com que a empresa pague as taxas básicas e os custos de administração de um espaço e, aí, nos dedicarmos a pensar nos próximos 10 ou 20 anos e em como a Ikea poderá ser relevante nesse mundo?", conta Caspersen.
Isso resultou no laboratório físico da Space 10, em Copenhague. Projetado como uma fachada de loja, era um espaço igualmente propício para hospedar residências de design colaborativo e receber o feedback do público sobre novos conceitos.
O conceito do Space10 não estava ligado aos resultados financeiros do ano seguinte. Seu foco era ajudar uma empresa que hoje tem 80 anos a se manter relevante no futuro. Essa abertura foi fundamental para o pensamento inicial por trás da iniciativa, projetada para ser voltada para o público durante o desenvolvimento de ideias.
Isso contrastava muito com outros laboratórios de inovação ou P&D associados a outras grandes marcas. "Já visitei muitos deles e há muitos NDAs, scanners de impressões digitais e coisas do gênero", compara Caspersen. "Uma das coisas de que realmente nos orgulhamos é o quanto sempre fomos abertos e colaborativos."
É um modelo único, que foi desenvolvido considerando uma perspectiva de longo prazo. "Fomos criados para não interferir nos negócios em andamento e focar mais no que a Ikea será no futuro", diz Caspersen. "Às vezes, não conseguimos fazer isso e acabamos influenciando os negócios de hoje."
Um exemplo é o desenvolvimento do Ikea Place, aplicativo de realidade aumentada que permitia que as pessoas usassem seus telefones para visualizar como ficaria uma peça de mobiliário da Ikea em suas casas.
Trabalhos posteriores provaram ser premonitórios, como a pesquisa de longo prazo sobre como a Ikea deve reagir à urbanização, tanto em termos dos tipos de produtos que a empresa vende quanto de como ela pode reformular as lojas para locais mais populosos. Essas são estratégias cada vez mais relevantes para a companhia.
A estratégia geral do Space10 também moldou a maneira como a Ikea opera, desde a exploração do conceito de moradias urbanas em unidades planas até a transformação de sua instalação na recente feira internacional de móveis de Milão em uma rave.
"Quando começamos, não havia mais ninguém na Ikea trabalhando com inovação. Esse nem era um termo que eles usavam em sua organização interna. Agora há centenas, se não milhares, de pessoas em toda a empresa que estão trabalhando em várias agendas de inovação", diz o cofundador e diretor do estúdio, Kaave Pour.
Esse impacto, argumenta Pour, é a prova de que a ideia instigante por trás do Space10 tocou no cerne da alma corporativa. Nem ele nem Caspersen têm planos específicos para o que virá a seguir, mas afirmam que o trabalho do Space10 foi efetivamente incorporado à estrutura da Ikea, tornando-se, ironicamente, obsoleto.
"Muitos estúdios insistiriam em sobreviver e continuar funcionando, apenas para se manterem de pé. Acho que isso é da natureza humana", reflete Pour. "Mas também acho que, às vezes, há um valor real em ser honesto consigo mesmo e com o que você está fazendo e fechar com chave de ouro."
