Machismo e etarismo se cruzam no mercado de trabalho, aponta pesquisa
Levantamento da Maturi e da EY mostra que mulheres 50+ tendem a ficar desempregadas por mais tempo do que homens da mesma idade
As barreiras para os profissionais com mais de 50 anos têm diferentes graus de complexidade que mudam de acordo com o gênero. Por exemplo, mulheres sofrem mais do que homens quando o assunto é desemprego na maturidade. Foi o que mostrou pesquisa feita pela EY Brasil e a Maturi, maior empresa brasileira focada em recolocação e desenvolvimento profissional dos 50+.
Segundo o estudo, uma em cada quatro mulheres com mais de 50 anos que estão sem emprego passam por essa situação há mais de dois anos. Para homens, o indicador é de 13%.
Negros e pardos são ainda mais impactados: 37% estão desempregados há mais de dois anos. Os dados foram divulgados durante o MaturiFest, festival sobre trabalho e empreendedorismo 50+, que aconteceu nos dias 23, 24 e 25 de agosto em São Paulo.
De acordo com Mórris Litvak, CEO e fundador da Maturi, entender a interseccionalidade das pautas é essencial para analisar o preconceito contra profissionais maduros. “Assuntos como etarismo, machismo e racismo são desafios cruzados no mercado”, apontou.
O desemprego há mais de um ano atinge 32% das mulheres 50+ e apenas 19% dos homens da mesma faixa etária. A pesquisa mostrou ainda que 20% das mulheres 50+ optam por ocupações como autônoma e freelancer; já os homens buscam vagas como consultores, indicando menor espaço em postos formais para a população feminina.
Na opinião do gerontólogo e presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-BR), Alexandre Kalache, o mercado reflete a sociedade. “O mercado parece algo etéreo, que vem do céu, que a gente não sabe de onde vem. Mas o mercado é parte da sociedade. Se a sociedade é idadista, racista, sexista, como o mercado vai ser diferente?”.
Kalache falou também sobre o “acúmulo de desigualdades” que ocorre com o envelhecimento. O secretário nacional dos Direitos Humanos da Pessoa Idosa, Alexandre Silva, lembrou que, para alguns segmentos da população – como pessoas negras periféricas – “passar dos 50 anos é um grande desafio”.
NÃO ESTAMOS CONTRATANDO
Há uma lacuna também entre quem procura por vagas e as empresas que contratam profissionais 50+. Nos últimos cinco anos, 42% das empresas brasileiras de grande porte afirmaram contratar entre uma e 10 pessoas dessa faixa etária. Mas quase 10% das companhias não contrataram profissionais com esse perfil.
A Maturi observou que as vagas afirmativas para 50+ caíram 53% entre 2022 e 2023. Litvak lembra que 17% das empresas ainda têm planos de aposentadoria compulsória, um descompasso quando se observa que 30% dos aposentados estão buscando emprego.
Para Kalache, a conversa sobre contratação de pessoas com mais de 50 anos é urgente, porque o envelhecimento da população brasileira já está acontecendo. “Vamos ter que criar uma sociedade mais resiliente, que consegue se reformular”.