Viva a sustentabilidade: a nova tendência da moda são roupas usadas

A Semana de Moda é para apresentar novas coleções. Mas alguns designers estão optando por promover estilos vintage

Créditos: DVF/ Ulla Johnson/ Oscar De La Renta/ Secondhand September

Elizabeth Segran 4 minutos de leitura

Por anos, Diane von Furstenberg apresentou suas coleções na New York Fashion Week. Este ano, porém, ela decidiu ficar de fora do principal evento de moda do mundo. Em vez disso, a estilista está incentivando os clientes a visitarem sua loja no Chelsea, badalado bairro de Nova York, para comprar peças usadas de temporadas anteriores.

Do outro lado da cidade, a designer Ulla Johnson reuniu uma seleção de peças vintage de sua própria coleção pessoal e as disponibilizou para venda. “As lojas estão cheias de varejistas, editores e influenciadores que vieram para a Semana de Moda, e queremos direcionar parte de sua atenção para nossas peças vintage”, conta Donata Minelli Yirmiyahu, CEO da Ulla Johnson.

Crédito: Ulla Johnson/ Archive

Há décadas, o mês de setembro é visto como uma oportunidade para apresentar o que há de novo na indústria da moda. Nas fashion weeks, os designers mostram novas coleções, sinalizando as tendências de cores e formas e incentivando os aficionados por moda a renovarem seu guarda-roupa.

algumas grifes se mostram dispostas a considerar a revenda como um modo de afirmar seu compromisso com a sustentabilidade.

No entanto, esse constante esforço para fazer os consumidores comprarem mais está causando danos ao planeta. A indústria da moda produz mais de 100 bilhões de peças por ano e é responsável por 8% das emissões globais de carbono. Mas, em meio a essa crise, algumas marcas estão tentando conter a superprodução e o consumo excessivo no setor.

Diane von Furstenberg, Ulla Johnson e a grife de calçados de luxo Sarah Flint estão participando do “Secondhand September”, um movimento que incentiva os consumidores a comprar peças usadas em vez de novas, caso precisem atualizar seus guarda-roupas. De forma mais ampla, marcas de moda de diversas categorias estão abraçando a revenda para prolongar a vida útil de suas roupas.

Crédito: Diane von Furstenberg/ Archive

“A sustentabilidade é agora a principal preocupação de muitos clientes, especialmente após termos passado pelo verão mais quente já registrado”, diz Emily Gittins, fundadora e CEO da Archive, startup responsável pelas operações de revenda de todas essas marcas.

A grande incógnita é se esses esforços estão realmente reduzindo a produção anual de roupas. Este é o objetivo, mas, infelizmente, não há dados confiáveis ​​suficientes para confirmar isso.

ADOTANDO PEÇAS USADAS

Até pouco tempo atrás, a maioria das marcas não via com bons olhos o mercado de revenda. Os designers temiam que roupas usadas diminuíssem o apelo de suas marcas ou que pudessem prejudicar as vendas se as pessoas optassem por comprar produtos de segunda mão em vez de novos.

Crédito: Oscar de La Renta/ Archive

Mas, ao longo dos últimos cinco anos, algumas grifes se mostraram dispostas a considerar a revenda como um modo de afirmar seu compromisso com a sustentabilidade e de estender a vida útil de seus produtos.

Gittins fundou a Archive há dois anos e meio na tentativa de ajudar as marcas a realmente gerar receita com a venda de roupas usadas. Algumas já estão vendo uma mudança em seus negócios. A marca de roupas femininas MM.Lafleur aumentou suas vendas em 3% por meio de seu site de revenda operado pela Archive.

Crédito: Oscar de La Renta/ Archive

“Nosso foco é tornar a revenda uma fonte de receita lucrativa para as marcas”, explica Gittins. “Esta é a única maneira de realmente gerar receita além da venda de produtos novos.”

A Archive trabalha com as marcas para desenvolver abordagens de revenda adaptadas aos objetivos de cada uma. Com a Oscar De La Renta, por exemplo, eles buscaram clientes antigos para comprar vestidos de volta e, em seguida, criaram um site onde as pessoas podiam adquirir essas peças.

Já para Diane von Furstenberg e Ulla Johnson, a Archive criou uma seção em seus sites onde os clientes podem vender produtos de coleções anteriores.

Crédito: Ulla Johnson/ Archive

MUDANDO O MODELO DE NEGÓCIOS

Apesar de os designers de renome terem demorado mais para entrar no mercado de roupas usadas, o modelo de negócios de revenda faz muito sentido para eles. Suas peças costumam ser mais caras e, portanto, estão em melhor estado, o que significa que têm muita vida útil pela frente. “Nossa marca sempre se concentrou na arte de fazer roupas e criar valor a longo prazo”, observa a CEO da Ulla Johnson.

Além disso, são produzidas quantidades limitadas, o que pode fazer com que peças de coleções anteriores virem itens disputados. Com isso em mente, Diane Von Furstenberg colaborou com a Archive para criar um recurso chamado “Missed Connections” em seu site, para permitir que clientes postem quais vestidos estão procurando.

Crédito: Diane von Furstenberg/ Archive

Mas, para a revenda realmente transformar a indústria da moda e torná-la mais sustentável, as marcas precisam começar a reduzir a quantidade de roupas que produzem. Para muitas, isso pode ir contra seu modelo de negócios, que se baseia no crescimento pela venda de mais produtos a cada ano.

Gittins acredita que a revenda pode reduzir o volume global de roupas fabricadas, mas reconhece que isso levará tempo. “Se facilitarmos a compra e venda de produtos usados, as pessoas comprarão menos produtos novos, o que levará as marcas a produzirem menos.”


SOBRE A AUTORA

Elizabeth Segran, Ph.D., é colunista na Fast Company. Ela mora em Cambridge, Massachusetts. saiba mais