Não basta identificar o burnout – é preciso estratégia para acabar com ele
Entenda como garantir o bem-estar do funcionário, conduzir conversas significativas e encontrar soluções realmente eficazes
Não basta apenas saber os motivos que levam ao burnout. Para entender como garantir o bem-estar dos funcionários, promovendo conversas profundas e encontrando soluções eficazes, o que ajuda mesmo é validar os pensamentos e sentimentos das pessoas.
Como coach, trabalho na linha de frente das crises de burnout. Minha pesquisa qualitativa mostrou que, quando as pessoas estão exaustas, elas passam por um processo que normalmente tem sete etapas.
Veja a seguir o que acontece tanto com os trabalhadores quanto com os empregadores quando não há um entendimento mútuo que facilite a melhora do quadro.
1. Choque inicial
A primeira etapa inclui as reações iniciais à causa do burnout. Digamos que o excesso de trabalho e a sobrecarga sejam o principal motivo, e que você esteja se sentindo fisicamente doente, cometendo erros que fogem ao seu habitual, sentindo ressentimento e raiva.
A culpa pode ser multidimensional e é um lugar de impotência, o que facilita o ciclo de volta à minimização do problema.
Durante esse estágio do processo, é comum se autoquestionar, com perguntas como "por que estou me sentindo desse jeito?" ou "se eu estou me saindo bem, então qual é o problema?". É nesse momento que as pessoas próximas começam a apontar os sintomas que estão observando, o que pode ser desagradável de ouvir.
Entre os empregadores, os gerentes da linha de frente são os que mais sentem os impactos dessa fase do burnout. De acordo com uma pesquisa da Deloitte, apenas 42% dos gerentes se sentem "completamente" empoderados e capazes de ajudar a empresa a cumprir seus compromissos com o bem-estar das pessoas.
2. Minimização do problema
A forma de pensar desempenha um papel importante nessa falsa euforia. Como indivíduo, você pode estar no estágio do processo de mentir para si mesmo: "Todos estão trabalhando muito. Isso é normal" ou "o burnout é inevitável". É nessa fase que aparecem as soluções e ações provisórias.
As empresas ficam limitadas a oferecer paliativos para lidar com os efeitos do burnout, em vez de investir em estratégias de prevenção. Quando chega nesse ponto, fica difícil tomar e processar decisões, mesmo diante de soluções eficazes, porque você minimizou o problema.
3. Culpa
Toda história tem dois lados. A melhor maneira de evitar o burnout é fazer com que ambas as partes assumam a responsabilidade. Para uma pessoa, a culpa pode se manifestar por meio da autocrítica, que soa mais ou menos assim: "onde foram parar minha energia e inovação?"; "por que não estou mais motivado?"; ou "eu devia ser uma pessoa capaz de fazer isso".
Apenas 42% dos gerentes se sentem capazes de ajudar a empresa a cumprir seus compromissos com o bem-estar das pessoas.
No entanto, a cultura da empresa também costuma trazer fatores ineficazes e tóxicos. Inclusive, a McKinsey descobriu que os funcionários que apresentam altos índices de comportamento tóxico no trabalho têm quase oito vezes mais chances de apresentar sintomas de burnout do que aqueles que não apresentam esse tipo de comportamento.
Mas há outro aspecto complicado: mesmo que as empresas ofereçam as melhores práticas de bem-estar, se o trabalho funcionar como um "tapete emocional" que encobre as dolorosas realidades da vida do funcionário, muito do que é oferecido em termos de programas de bem-estar e integração entre vida pessoal e profissional pode não funcionar. Isso porque, nesses casos, a identidade da pessoa está muito enraizada na carreira.
A culpa pode ser multidimensional e é um lugar de impotência, o que facilita o ciclo vicioso de volta à minimização do problema.
4. Acolhimento
Os esforços anteriores podem até ter se pautado na minimização ou no desequilíbrio por causa da culpa. Mas agora há um desejo claro de mudança. O que atrapalha é a falta de direção e a sensação de estar preso.
Será que, pelo fato de o trabalho ser um vício da nossa sociedade, acaba sendo necessário que ocorra um evento ou uma situação catastrófica para tirar as pessoas e as empresas do piloto automático?
Será que só nesse momento é que o acolhimento entra em cena? É claro que o acolhimento também deveria ser motivado por razões mais positivas, mas isso não é comum.
5. Soluções
Se você estiver no estágio de minimizar o problema ou apontar culpados, suas soluções vão funcionar apenas como um esparadrapo, em vez de garantirem sua saúde emocional no longo prazo. As soluções são melhores quando partem dos funcionários, porque isso aumenta a autonomia.
Eles também precisam de recursos apropriados para equilibrar as demandas de um trabalho pesado. Além disso, nenhuma solução será verdadeiramente eficaz se não abordar as causas profundas que provocaram o burnout.
6. Prevenção
Agora que aplicamos algumas soluções pensadas, já temos mais energia e motivação para evitar o burnout. É aí que a resiliência cresce e as experiências aprendidas podem ser incorporadas e valorizadas em toda a experiência do funcionário.
nenhuma solução será verdadeiramente eficaz se não abordar as causas profundas que provocaram o burnout.
Prevenir o burnout depende da aplicação de formas claras de monitorar e avaliar tarefas e projetos, além do uso da tecnologia para reduzir as ineficiências. Depende também de criar uma atmosfera segura, que coloque os trabalhadores em uma posição competitiva para abraçar o futuro do trabalho.
7. Integração
Esse é o estágio final ideal de todo o processo. É quando ocorrem mudanças de mentalidade e, consequentemente, de comportamento, aliadas a hábitos saudáveis que impulsionam o bem-estar.
É quando acontece a realização profissional e o estresse deixa de ser crônico. Quando aparece uma demanda, os gerentes e líderes sabem que podem lutar pelas necessidades de sua equipe e as soluções são abraçadas.
As empresas que levam a sério o combate ao burnout reconhecem que é hora de avançar nessa conversa. Aproveite o que aprendeu aqui para prevenir e gerenciar o burnout em sua empresa ou organização. Vamos avançar mais rapidamente na direção certa, melhorando a compreensão, o acolhimento e a empatia.