5 perguntas para Raquel Virgínia, CEO e fundadora da Nhaí

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Redação Fast Company Brasil 4 minutos de leitura

A voz de Raquel Virgínia está presente dos palcos às mesas de decisão. Nascida na periferia de São Paulo, ela fez parte da banda As Baías e a Cozinha Mineira, duas vezes indicada ao Grammy Latino.

Em 2021, fundou a Nhaí, diversitech que acelera processos de desenvolvimento de diversidade nas empresas. Entre seus clientes estão grandes empresas como Globo, Santander, Pepsico e Mercado Livre. Em dois anos, a Nhaí se tornou uma startup com R$ 3 milhões em faturamento em 2022 e planeja expansão para a América Latina. 

Com esse movimento, Raquel ocupou um espaço ainda mais restrito para a comunidade LGBTQIAP+: o de CEO. Em um país no qual apenas 4% da população trans feminina tem empregos formais, a executiva é mais do que uma líder que luta pela diversidade. É inspiração para outras empreendedoras.

FC Brasil – Você foi cantora, recebeu duas indicações ao Grammy Latino e, em 2021, fundou a Nhaí. O que aprendeu como artista que a ajuda no seu papel de empreendedora?

Raquel Virgínia – Conheci os integrantes de As Baías durante a faculdade de história na USP. A banda funcionou como primeiro passo para a carreira empreendedora no que diz respeito à vivência prática.

as marcas precisam ter o olhar focado na comunidade, aumentando as oportunidades para pessoas LGBTQIAP+.

Como era um trabalho majoritariamente independente, eu ficava responsável por criar estratégias comerciais que me ajudaram a ter uma visão mais tática. Nessa época, já adorava a conexão com a publicidade e as marcas.

Mais tarde, deixei de me olhar como empresária apenas para a arte e passei a enxergar um leque de possibilidades na diversidade e inovação. A chave virou quando a Daniela Cachich, diretora de Doritos [marca do grupo Pepsico], fez o convite para ser consultora deles.

Com essa oportunidade, identifiquei que poderia fazer a diferença e trazer para o mercado a minha especialização como mulher transgênero, atrelada ao viés de negócios, e a dedicação de fortalecer a comunidade LGBTQIAP+.

FC Brasil – De 2021 para cá, a Nhaí já atuou com grandes marcas como Santander, Amstel, Mercado Livre e Doritos. Como as marcas podem contribuir para amplificar a voz e a potência da comunidade trans?

Raquel Virgínia – Ao fazer um trabalho contínuo e eficaz em conjunto com a comunidade trans é possível conectar as pessoas, ampliar a presença delas e reduzir lacunas.

Crédito: Fernando Torquato

A partir de uma base sólida que compreende os desafios, as oportunidades e o cenário, torna-se viável elaborar iniciativas que possam mostrar a nossa potência. Entre elas, projetos que contam e evidenciam a história de pessoas trans que levam inspiração para o sucesso e a ascensão da comunidade em diversos ambientes.

Acredito que o mercado ainda pode se tornar disruptivo, inclusivo e assertivo para todos. Porém, as marcas precisam ter o olhar focado na comunidade, aumentando as oportunidades para pessoas LGBTQIAP+. Falo isso dentro e fora das empresas: no quadro de funcionários e na comunicação externa.

Temos diversas potências prontas para brilhar. Mas, se as marcas não estiverem preparadas para diversificar e falar sobre pluralidade, não vamos quebrar paradigmas e conquistar novas possibilidades. Por isso, defendo a importância de se desenvolver projetos de comunicação, assim como os criados pela Nhaí, para que o pilar da inclusão seja firmado pelas marcas.

FCBrasil – O Contaí é uma comunidade de empreendedores LGBTQIAP+ que a Nhaí criou para fomentar os negócios e a troca de experiências entre líderes. Quais as principais dificuldades que afroempreendedores trans e travestis enfrentam para empreender?

Raquel Virgínia – São vários obstáculos, entre eles preconceitos – como racismo e transfobia –, a falta de oportunidades e de investimento, além da ausência de apoio familiar.

se as marcas não estiverem preparadas para diversificar e falar sobre pluralidade, não vamos quebrar paradigmas e conquistar novas possibilidades.

Precisamos fortalecer a representatividade e a participação efetiva de pessoas pretas LGBTQIAP+ no mercado como um todo. Esses empreendedores vão fazer a engrenagem girar para que outros negócios sejam desenvolvidos e tenham como foco a comunidade.

É importante impulsionar e pensar na pluralidade para que os espaços sejam cada vez menos limitados e direcionados somente para um público específico.

FC Brasil – Por que diversidade é inovação?

Raquel Virgínia São dois conceitos integrados: a diversidade impulsiona a inovação. A partir de um ambiente diverso, é possível transformar, chegar a novas ideias e alcançar soluções inclusivas para atender um público mais amplo.

É importante que o mercado entenda que as duas definições caminham juntas para trazer grande impacto no sucesso das empresas.

FCBrasil – Uma das perguntas que a Nhaí levanta em sua série de lives com profissionais LGBTQIAP+ é: “qual é a sua maior referência profissional?”. Quais são as suas?

Raquel Virgínia – As minhas maiores referências são empreendedoras como Ana Fontes, Rachel Maia, Adriana Barbosa, da Feira Preta, e Emicida no Lab Fantasma com Fióti.


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