Esta startup encontrou um jeito de reduzir o metano emitido pelo gado
Empresa de biotecnologia desenvolveu uma enzima que atua nos micro-organismos produtores de metano do sistema digestivo das vacas
Os arrotos das vacas são uma das principais causas da liberação de metano, um potente gás de efeito estufa que aquece o planeta mais de 80 vezes mais rápido do que o CO2. Mas uma nova enzima – criada por uma startup que geralmente desenvolve medicamentos para humanos, e não para vacas - tem potencial para ajudar a reduzir essas emissões. E tudo isso por um baixo custo.
Algumas empresas têm desenvolvido aditivos para ração de gado feitos de algas marinhas, que, segundo estudos, podem reduzir o metano em mais de 80%. Mas é um grande desafio cultivar algas marinhas na escala necessária, e a eficácia desse método ainda não foi totalmente comprovada.
Outros aditivos, como o Bovaer, um produto que pode reduzir as emissões de metano em 30%, demoraram a ser adotados por conta do alto custo.
A empresa de biotecnologia Lumen Bioscience está desenvolvendo um produto diferente. Eles usam uma forma modificada de espirulina (um tipo de alga comestível) para fabricar uma enzima natural que tem como alvo os microrganismos do sistema digestivo da vaca que produzem metano.
A enzima, chamada lisina, não afeta as bactérias boas nem a saúde da vaca. "É como um rifle de alta precisão, direcionado apenas para o micróbio ruim", explica Brian Finrow, CEO da Lumen.
Se os animais comerem espirulina contendo essa enzima, a substância não será absorvida pela corrente sanguínea nem vai parar no leite ou na carne. As chances desse tipo de contaminação têm sido uma preocupação em relação aos suplementos de algas marinhas.
Um estudo sugeriu que o bromofórmio, um composto das algas marinhas que é um provável carcinógeno, poderia ser encontrado no leite em níveis baixos.
A maioria dos especialistas afirma que o uso de algas marinhas é seguro, mas há estudos encontrando evidências contrárias. Já a enzima produzida pela Lumen Bioscience escapa dessa polêmica. Afinal, ela evita totalmente a possibilidade de afetar o leite ou a carne.
Isso é bom para acalmar as preocupações dos consumidores, observa Finrow, independentemente do fato de as algas serem ou não seguras. "Ninguém quer encontrar mais produtos químicos nos alimentos", reconhece. Ele compara o produto da empresa ao Beano, uma enzima que os humanos tomam como suplemento para reduzir os gases.
IMPACTO AMBIENTAL
A primeira vez que a Lumen desenvolveu um método de engenharia genética da espirulina foi há sete anos. A partir daí, começou a usar essa plataforma para produzir novos medicamentos de anticorpos e outras proteínas terapêuticas para doenças gastrointestinais em humanos.
Um dos tratamentos, desenvolvido para combater infecções recorrentes por uma bactéria chamada "C. difficile", passará em breve por testes em estágio final antes da possível aprovação.
Mark Heinnickel é um dos cientistas da equipe. Ele cresceu em uma fazenda de gado leiteiro e percebeu que, se a mesma estratégia básica aplicada a humanos tivesse como foco as bactérias produtoras de metano, isso também poderia ajudar na questão do impacto climático provocado pelos gases emitidos pelo gado.
"Ele percebeu que, se pudéssemos matar a bactéria C. difficile, que causa o sofrimento humano, talvez também pudéssemos produzir essa mesma classe de enzimas, alimentar as vacas com elas e acabar com o metano", conta Finrow.
O produto ainda está em um estágio inicial de desenvolvimento, mas em testes de laboratório, a empresa demonstrou que uma pequena quantidade da enzima é capaz de matar as bactérias produtoras de metano em questão de minutos.
Em breve, serão iniciados os testes em vacas para estudar a eficácia da enzima, determinar a melhor dose e descobrir a duração dos seus efeitos. No futuro, prevê Finrow, as vacas poderão tomar o suplemento uma vez por semana.
O suplemento também vai precisar de aprovações governamentais em cada país onde for adotado. Nos EUA, isso pode ocorrer por meio do FDA Center for Veterinary Medicine. É provável que esse processo leve muito tempo.
"Pelo modelo atual, a aprovação de uma substância como uma enzima tende a demorar pelo menos uma década para acontecer", explica Joseph McFadden, professor de biologia de gado leiteiro da Universidade de Cornell. "Para esse tipo de tecnologia, são necessários testes clínicos de eficácia e segurança."
Ainda é muito cedo também para dizer se a enzima realmente funcionará quando for de fato consumida pelas vacas. Nesse meio tempo, se você estiver em busca de uma maneira rápida de evitar as emissões de metano, há sempre a opção de consumir leite de origem vegetal.