Meta ameaça cobrar europeus pelo uso do Facebook – mas é só blefe

A empresa teria sugerido cobrar € 13 por mês para usar o Facebook e o Instagram. Mas essa proposta não é algo que devemos levar a sério

Créditos: Annie Spratt/ Barefoot Communications/ Dima Solomin/ Unsplash

Scott Nover 4 minutos de leitura

Existe um ditado no mundo da tecnologia que diz: “se você não está pagando pelo produto, então você é o produto”. Embora seja uma frase batida, enquanto a publicidade continuar sendo a principal fonte de receita da internet, continuaremos a ouvi-la.

Os anúncios online enriqueceram empresas de tecnologia como Alphabet, ByteDance e muitas outras, permitindo que elas ofereçam serviços como redes sociais, streaming de vídeo e mecanismos de busca de graça para os usuários.

No entanto, recentemente, a União Europeia entrou em confronto com a Meta – dona do Facebook, Instagram e WhatsApp – sobre como exatamente ela lucra com seus usuários.

Crédito: Rawpixel

Somente no último ano, diversos órgãos europeus impediram a Meta de combinar dados coletados por seus diferentes serviços, aplicando multas de US$ 1,3 bilhão por enviar dados de usuários europeus para o exterior e US$ 414 milhões por obrigá-los a aceitar anúncios personalizados em seus termos de serviço.

Em resposta à interferência europeia em sua principal fonte de receita, a empresa teria sugerido uma nova opção para os consumidores: pagar pelo acesso ao Facebook e ao Instagram. Parece uma solução razoável, não é mesmo? Bem, nem tanto.

De acordo com a proposta apresentada aos reguladores, a Meta cobraria € 13 por mês para permitir que os usuários acessem uma versão sem anúncios das duas redes sociais em seus dispositivos móveis.

SERVIÇOS PREMIUM GANHAM ESPAÇO

A princípio, uma versão paga poderia ser benéfica para os consumidores, oferecendo-lhes mais opções e uma maneira razoável de evitar ser tratados como produtos. No entanto, a proposta não parece ser séria.

Enquanto concorrentes estão fazendo esforços genuínos para diversificar suas receitas e oferecer mais opções aos usuários, a proposta da Meta parece ser mais uma provocação aos reguladores estrangeiros do que uma solução real.

Só em 2022, a Meta foi multada em US$ 1,3 bilhão por enviar dados de usuários europeus para o exterior.

A publicidade tem sustentado a economia da internet por décadas. Ela subsidia a mídia e os serviços online, garantindo igualdade de acesso, independentemente da capacidade dos usuários de pagar por ele. Isso permitiu que a Meta atraísse cerca de metade da população mundial para seus aplicativos.

Mas, nos últimos anos, empresas que costumavam depender exclusivamente da publicidade começaram a oferecer versões pagas de seus produtos. No Snapchat, por exemplo, os usuários podem fazer uma assinatura de US$ 3,99 por mês para ter acesso a ferramentas para personalizar o aplicativo, análises adicionais e acesso antecipado a novos recursos. Desde o lançamento, no ano passado, cinco milhões de pessoas assinaram o Snapchat +.

Já Elon Musk tornou o serviço de assinatura a marca registrada de sua gestão no X/ Twitter. O X Premium (antes conhecido como Twitter Blue) foi lançado antes de o bilionário assumir o comando da empresa, com a opção de desfazer tuítes recentes, uma seção de artigos em alta e o tão aguardado botão de edição.

Mas Musk expandiu o serviço, permitindo que os assinantes publiquem tuítes mais longos e vídeos maiores, enquanto recebem a metade do número de anúncios. No entanto, ele também o tornou polêmico, mudando o sistema de verificação de contas e vendendo selos azuis para usuários dispostos a pagar US$ 8 por mês.

Na semana passada, a revista “Fortune” informou que Musk estaria inclusive considerando cobrar US$ 1 dólar por ano de todos os novos usuários pelo privilégio de tuitar.

PUBLICIDADE É 98% DA RECEITA

Deixando de lado as controvérsias da nova gestão do X/ Twitter, cada uma dessas empresas de tecnologia ofereceu aos usuários a possibilidade de pagar por recursos extras, mas não essenciais. A proposta da Meta, por outro lado, se assemelha mais a um serviço de streaming de filmes e séries que oferece uma opção com anúncios e outra sem.

Fica evidente que ela não deve seguir com esse plano quando comparamos a proposta com os recentes rumores de que o TikTok estaria testando uma versão da plataforma sem anúncios por apenas US$ 4,99 por mês, um preço muito mais realista do que o oferecido pela Meta. Muito provavelmente, não há uma verdadeira intenção de fazer com que os usuários paguem para acessar suas redes.

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No último trimestre fiscal, a Meta obteve uma receita total de US$ 34 bilhões, dos quais US$ 33,6 bilhões, ou 98%, vieram da publicidade. Se considerarmos que cada um dos três bilhões de usuários mensais veem anúncios, isso significaria que a Meta ganha cerca de US$ 10,50 por usuário com anúncios online a cada trimestre, ou seja, US$ 42 por usuário por ano. E esse valor poderia aumentar, já que algumas pessoas usam exclusivamente o WhatsApp, que ainda não exibe anúncios.

Além disso, oferecer uma versão  do Facebook e do Instagram sem publicidade a impediria de capitalizar ao máximo sua grande e diversificada base de usuários. Em outras palavras, a Meta não tem um incentivo real para oferecer uma experiência sem anúncios, a menos que isso seja altamente lucrativo e não prejudique os negócios.

Cabe aos reguladores europeus reconhecer o óbvio: que a proposta não passa de um blefe, uma mera distração que desperdiça o tempo de todos, em vez de oferecer aos consumidores melhores opções de navegação e controle sobre como seus dados pessoais são utilizados.


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