The Gathering Summit 2023: NFL quer que o Brasil jogue futebol americano

Vice-presidente da liga norte-americana fala sobre os esforços para exportar a NFL e como a tecnologia é ponto crucial deste plano

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Camila de Lira 5 minutos de leitura

O Brasil será o país dos astros de futebol. Americano. Se depender da National Football League (NFL), o esporte ganhará ainda mais espaço no Brasil e no mundo. Para ganhar este Super Bowl, a liga contará com estratégias de escala dignas de uma startup. É o que conta o vice-presidente de marketing da NFL, Ian Trombetta.

Trombetta falou exclusivamente para a Fast Company Brasil entre uma palestra e outra no The Gathering Summit 2023. De acordo com o executivo, o esporte mais famoso dos Estados Unidos fará mais incursões em outros países para atingir ainda mais pessoas. No ano passado, parte da pré-temporada foi jogada na Alemanha e reuniu mais de um milhão de espectadores.

Conquistar fãs entre os mais jovens significa não só renovar o público, mas manter a relevância do esporte pelas próximas décadas.

Por aqui, o número de interessados no esporte de Tom Brady (ex de Gisele Bündchen) cresce. Segundo o Sponsorlink, do Ibope Repubcom, o país tem 35,4 milhões de fãs de futebol americano. Há 10 anos, o número era 10 vezes menor. A informação está no radar da liga, que já se movimenta para aumentar a exposição da modalidade no país.

O executivo indica que o mercado brasileiro já passou da fase da introdução ao touchdown. “O próximo passo para o Brasil será ter atletas da NFL. Tenho certeza de que ainda verei um brasileiro como astro da NFL”, comenta Trombetta. 

O plano de ter um “atleta brasileiro incrível” na NFL passa pela popularização do esporte junto ao público mais jovem, principalmente crianças. Para isso, os pequenos terão que entrar em contato com as regras e o formato do jogo. A parceria da liga com fabricantes de videogames, além de empresas de entretenimento, entra nesta jogada.

No começo do mês, a Disney e a NFL anunciaram o Toy Story Funday Football – partidas transmitidas ao vivo no formato da animação da Pixar. O desenho também faz parte do catálogo da Disney+ no Brasil.

Recentemente, a NFL conseguiu uma tremenda vitória: adicionou o flag football, ou futebol de bandeira, na lista de esportes nos Jogos Olímpicos de 2028. O formato "light" do futebol americano, diz Trombetta, será o caminho para os mais jovens se familiarizarem com o game.

A modalidade é também a aposta para o esporte captar atletas mulheres, já que existem ligas de flag football feminino em vários países. 

EFEITO CARTOLA E EFEITO KELCE

Ampliar a audiência jovem é o Super Bowl diário da NFL, seja no Brasil ou pelo mundo afora. Afinal, ganhar esses fãs significa não só renovar o público, mas manter a relevância do esporte pelas próximas décadas. Ganhar esse jogo exige táticas e estratégias vindas direto do Vale do Silício, como, por exemplo, colocar o usuário no centro.

Ian Trombetta (Crédito: NFL)

O que eles descobriram ao fazer análises dos espectadores e levantar dados de pesquisas foi que a geração Z acompanha o esporte de outra maneira. “Os fãs mais jovens tendem a ter um jogador favorito e depois um time favorito. Uma cultura bem diferente da qual cresci”, comenta Trombetta. 

A descoberta levou a uma mudança na estratégia de comunicação da NFL. Se antes a narrativa apoiada pela liga era sobre elevar os times e as rivalidades, agora eles focam em falar sobre as histórias dos jogadores. “Queremos humanizar os atletas, aproximá-los do público. Tirá-los dessa posição de heróis intocáveis.”

As redes sociais ajudam nesse processo. Tanto os times quanto a NFL usam perfis no TikTok e no Instagram para mostrar como são os jogadores fora das linhas de 120 jardas. Vídeos bem-humorados sobre os atletas populam a timeline da liga no TikTok, tomando lugar dos conteúdos sobre o placar dos jogos. 

Segundo o Sponsorlink, o país Brasil tem 35,4 milhões de fãs de futebol americano. Há 10 anos, o número era 10 vezes menor.

O sucesso dos fantasy games também contribui para a mudança de comportamento dos espectadores de esportes. A modalidade de jogo online em que os usuários escalam equipes virtuais a partir de dados dos jogadores reais estimula que fãs de esporte olhem para além de seus times. No Brasil, o principal exemplo do game, o Cartola FC, da Globo, tem 1,85 milhão de inscritos. 

A dinâmica é favorável para a NFL. “Se o seu time favorito não chegar na fase final, é bem improvável que você assista aos jogos das finais. Mas, se o seu fantasy team estiver bem, você vai continuar assistindo, mesmo que seja apenas para ver um atleta”, aponta Trombetta.

Crédito: Ed Zurga/ AP Photo

Além disso, a NFL passou a dar mais peso para a transmissão do Draft – momento que antecede a temporada, no qual os times escolhem jogadores vindos do futebol universitário. Segundo o vp da NFL, o Draft já é o terceiro maior evento em audiência nas redes sociais, perdendo só para o Super Bowl e para a final da liga de futebol universitário. 

Para o executivo, no futuro os jogadores poderão ter tanta fama quanto os times. Os atletas Jason e Travis Kelce são a prova de que um jogador pode atingir públicos que os times não conseguem.

Os dois são irmãos, mas jogam em times rivais na NFL: Jason no Philadelfia Eagles e Travis no Kansas City Chiefs. Neste ano, eles se enfrentaram no Super Bowl (com vitória para o time do Kansas). Juntos, eles fazem o podcast New Heighs, que figura sempre no top 5 de programas de esportes mais ouvidos na Apple e no Spotity.

Recentemente, Travis ganhou ainda mais destaque por um detalhe fora do campo: está namorando a cantora Taylor Swift. A artista passou a ir a jogos do Kansas Citiy Chiefs, o que está sendo explorado pela NFL, já que é forma de atrair o fandom dela, os Swifties, para o futebol norte-americano.

Para se ter uma ideia, as vendas da camiseta do tight end (atacante) dos Chiefs subiram 400% depois da primeira aparição da cantora no estádio.

No placar final, a NFL está ganhando.


SOBRE A AUTORA

Camila de Lira é jornalista formada pela ECA-USP, early adopter de tecnologias (e curiosa nata) e especializada em storytelling para n... saiba mais