Cuyana faz bolsas e roupas que duram – e está ganhando dinheiro com isso

Marca de roupas e acessórios segue à risca a máxima de que “menos é mais”

Crédito: Cuyana

Elizabeth Segran 4 minutos de leitura

A marca de roupas femininas Cuyana pretende convencer as mulheres de que elas não precisam comprar várias bolsas, porque um único modelo multifuncional pode dar conta do recado. É o caso da bolsa Systems Tote, criada pela marca.

Os designers conversaram com dezenas de clientes para entender como elas usam suas bolsas no dia a dia e, em seguida, criaram uma que acompanha sua dona do escritório ao encontro à noite, de segunda-feira até o fim de semana.

À primeira vista, a bolsa não parece utilitária: tem uma silhueta elegante e simples e é feita de couro italiano macio, com relevos na superfície. Mas, quando você acrescenta uma capa para notebook, ela se torna uma companheira perfeita para o trabalho.

Quando for sair com a família, deixe o computador em casa e acrescente uma bolsa interna cheia de lanches para as crianças. Para combinar com um look de balada, o bolso interno pode ser destacado e se transformar em uma elegante bolsa de mão.

Crédito: Cuyana

Quando Karla Gallardo e Shilpa Shah lançaram a Cuyana em 2011, o objetivo estava sintetizada no lema "menos é mais", que incentiva o minimalismo. "A ideia era reduzir nossos produtos aos itens de que as mulheres realmente precisam e que usariam com frequência", diz Shah. "Mas logo percebemos que isso significava que todas as peças precisavam funcionar perfeitamente em conjunto."

A Systems Tote reflete a filosofia de design da marca, que se baseia na criação de itens duráveis e multifuncionais, que conversam entre si. Podemos perceber essa abordagem em toda a linha de produtos da Cuyana. Uma jaqueta lançada recentemente tem mangas removíveis, o que a transforma em um colete. Uma carteira se converte em uma bolsa onde cabe seu celular quando você sai para jantar.

Crédito: Cuyana

Enquanto o setor da moda está avaliando como a superprodução e o consumo excessivo estão destruindo o planeta, a estratégia da Cuyana oferece alguns insights sobre como as marcas podem vender menos e ainda assim operar um negócio lucrativo.

MODELO DE NEGÓCIOS FALIDO 

A cada estação, milhões de roupas e acessórios novos invadem o mercado, resultando nos mais de 100 bilhões de itens que o setor da moda produz anualmente. A fabricação desses produtos – desde a extração de matérias-primas até a produção em fábricas e o envio para todo o mundo – polui o planeta e gera 8% das emissões globais de carbono.

A questão não se resume apenas à demanda dos consumidores. O problema, muitas vezes, está nos produtos e na forma como o modelo de negócios da moda funciona. A maioria das marcas vende suas roupas em butiques e lojas de departamento, que contam com novas coleções a cada estação para atrair o público.

Crédito: Cuyana

No entanto, nunca se sabe ao certo o que vai agradar os clientes. Por isso, tanto as marcas quanto os varejistas preveem que uma quantidade significativa de peças não será vendida pelo preço cheio. Eles vão oferecer grandes descontos e descartar o que restar no final da estação.

As cofundadoras da Cuyana queriam fazer as coisas de outro jeito. A meta era fabricar muito menos produtos, mas garantindo que a maioria dos itens fosse vendida pelo preço total. A estratégia funcionou: 90% do estoque da Cuyana é vendido sem nenhum desconto. A chave do sucesso foi desenvolver uma pequena coleção de produtos que as clientes realmente desejam.

CRIAR MENOS E MELHOR

Os designers da Cuyana partem do princípio de que, se os clientes procuram a marca, é porque estão tentando viver segundo o princípio do "quanto menos, melhor", o que significa que estão buscando ter menos coisas. Portanto, cada produto que eles fabricam precisa ser altamente funcional e, se possível, cumprir muitos objetivos diferentes.

Quando projetaram a nova jaqueta, por exemplo, queriam garantir que ela poderia ser usada durante o maior período possível do ano, em diferentes tipos de temperatura. A peça tem um capuz removível, por isso funciona bem como um agasalho de chuva.

Ela se transforma em um colete para quando o tempo está fresco, mas quando as temperaturas caem, dá para acrescentar as mangas. E quando você transforma a jaqueta, todos os botões e zíperes que conectam as peças permanecem ocultos, mantendo uma silhueta elegante.

Como o princípio de cada produto é a durabilidade, os designers dedicam muito tempo à aquisição de materiais de alta qualidade. A marca usa pequenas fábricas na Itália, no Equador, na Argentina, no Peru, na China e em outros países, que ficam perto de onde as matérias-primas são produzidas, e descreve o processo de fabricação de cada produto em seu site.

A criação de produtos bem elaborados e altamente funcionais também tende a fidelizar os clientes, conta Shah. Se eles encontram uma peça que adoram, é provável que voltem para completar sua "coleção", de modo que, com o tempo, uma parte cada vez maior de seu guarda-roupa seja composta por produtos Cuyana. E os clientes satisfeitos tendem a contar aos amigos sobre a marca, o que é uma forma muito eficaz de marketing.

No fim das contas, os consumidores acabam se atendo aos itens de seu guarda-roupa que caem bem e que fazem com que se sintam bem. Pensando nisso, os designers passam muito tempo desenvolvendo formas planejadas para bolsas e vestidos com costuras elegantes e ajustadas. 

"Nossa experiência mostra que, quando criamos produtos bonitos e esteticamente agradáveis que também são funcionais, as mulheres vão querer usá-los várias vezes", diz Shah.


SOBRE A AUTORA

Elizabeth Segran, Ph.D., é colunista na Fast Company. Ela mora em Cambridge, Massachusetts. saiba mais