5 perguntas para Kimberly Brown, especialista em desenvolvimento de carreiras de pessoas negras 

Com mais de 10 anos de experiência, a palestrante e autora falou sobre os desafios das pessoas negras na hora de se desenvolver e chegar ao topo

Crédito: Manifest Yourself

Rafael Farias Teixeira 6 minutos de leitura

​​A norte-americana Kimberly Brown é especialista em desenvolvimento de carreira e liderança, com foco na capacitação de mulheres e pessoas negras. A escritora e palestrante veio ao Brasil para participar do Fórum Brasil Diverso, realizado na última sexta e sábado (dias 17 e 18 de novembro), em São Paulo.

Com mais de 10 anos de experiência, ela é fundadora da consultoria de desenvolvimento de lideranças Manifest Yourself e já ministrou workshops em empresas e organizações como New Jersey Conference for Women, Ellevate Network, Urban League, Princeton University, Salesforce e National Sales Network, entre outras. 

Nesta entrevista à Fast Company Brasil, ela fala sobre os principais desafios das pessoas negras para alcançar cargos de liderança e desenvolver suas carreiras, assim como os desafios dos departamentos de recursos humanos na hora de construir empresas mais diversas. 

FC Brasil – Qual foi o momento crucial em sua carreira que a fez escolher trabalhar com pessoas negras e suas jornadas rumo à liderança?

Kimberly Brown –  Durante meu tempo trabalhando no ensino superior em um escritório de serviços de carreira,

Se você estiver recrutando de um grupo homogêneo de talentos, contratará novos funcionários que reflitam esse mesmo grupo.

percebi que mulheres e pessoas de cor frequentemente esperavam para obter assistência sobre sua vida profissional. Quer estivessem à procura de um estágio ou do primeiro emprego em tempo integral, quer fossem ex-alunos experientes à procura de uma transição de carreira, esperavam fazer mais por conta própria antes de procurar a ajuda de um profissional.

Havia essa noção de que eles tinham que chegar a um certo ponto por si mesmos antes de procurar a ajuda que muitos dos seus homólogos não precisavam. Sabendo disso, quis criar uma plataforma que oferecesse a preparação e a educação necessárias para ajudar mulheres e pessoas de cor a navegar no ambiente profissional e nas transições de carreira com mais facilidade.

FC Brasil – Pessoas negras têm enfrentado muitos obstáculos para crescer dentro de empresas de qualquer tamanho. Existe algum desafio específico que surgiu ou se tornou mais difícil nos últimos cinco anos?

Kimberly Brown – Eu não diria que algo em particular se tornou mais difícil, mas sim que as pessoas estão cada vez mais frustradas com organizações que não se comprometeram a fazer maiores progressos para criar um local de trabalho verdadeiramente equitativo para diversos profissionais.

É crucial que as equipes de RH passem a criar processos de entrevistas estruturados e planos de contratação inclusivos.

Conhecemos todos os motivos pelos quais a diversidade é importante para qualquer empresa e os profissionais estão prontos para ver ações consistentes; não apenas mais um painel durante um mês específico do ano.

Hoje, a maioria dos profissionais sabe que precisa de ajuda e acesso para crescer dentro das empresas. No entanto, as organizações ainda estão aprendendo como criar uma cultura corporativa que apoie a diversidade e proporcione auxílio e acesso de forma consistente.

FC Brasil – Você diz que gosta de ajudar as pessoas que estão naquele “meio mágico”, onde você é um profissional experiente operando na sua “zona de gênio”. Como definiria esses dois termos e que dicas daria para as pessoas iniciarem sua jornada até esse lugar?

Kimberly Brown – Defino o “meio mágico” como a maior parte da força de trabalho que trabalha diariamente para executar a estratégia maior da empresa. Eles não são nem os funcionários iniciantes focados nas tarefas cotidianas e nem os executivos de nível sênior que ajudam a equipe executiva a criar uma visão mais ampla.

O "meio mágico" são os trabalhadores e gestores de nível médio que transformam a visão em estratégia e são responsáveis pela execução dessa estratégia todos os dias.

Crédito: Manifest Yourself

O conceito de “zona de gênio” vem de um dos meus livros favoritos, "The Big Leap"(O Grande Salto), de Gay Hendricks. Brinco com meus clientes e digo que a zona de genialidade deles é onde não há competição. É onde eles se destacam, onde se movem com facilidade, onde podem gerar mais resultados.

Para entrar na zona da genialidade, você precisa passar algum tempo refletindo sobre aquilo em que é bom e onde você realmente prospera no trabalho. Nas situações mais ideais, isso pode estar alinhado com a sua paixão, o que ajuda a criar uma carreira que você ama, sobre a qual falo em meu livro "Next Move, Best Move".

FC Brasil – Quais são os maiores erros que as equipes de RH cometem em relação à criação de uma empresa diversa, com os melhores talentos, e o que você recomendaria?

Kimberly Brown – Infelizmente, o maior equívoco é que, para criar uma empresa diversificada, talvez seja necessário recrutar talentos que não atendem às qualificações para qualquer função. Isso já foi desmascarado há muito tempo, mas a questão ainda surge até entre os executivos mais seniores.

Para entrar na zona da genialidade, você precisa passar algum tempo refletindo sobre aquilo em que é bom e onde você realmente prospera no trabalho.

As equipes de RH precisam implementar métodos e fontes de recrutamento que sejam mais inclusivos. Se você estiver recrutando de um grupo homogêneo de talentos, contratará novos funcionários que reflitam esse mesmo grupo.

É crucial que as equipes de RH avaliem as fontes de candidatos e passem a criar processos de entrevistas estruturados e planos de contratação inclusivos, para garantir que estejam criando uma força de trabalho verdadeiramente diversificada. Além disso, embora muitas vezes falemos apenas sobre raça e etnia, diversidade é muito mais do que isso.

FC Brasil –  Qual é a melhor maneira de determinar qual será o próximo passo em sua carreira, especialmente para uma pessoa negra? O que essa pessoa precisa considerar e avaliar?

Kimberly Brown – Para meus clientes, uma das primeiras perguntas que faço é: “se eu fosse sua fada madrinha e pudesse criar qualquer trabalho para você, como seria?”

as organizações ainda estão aprendendo como criar uma cultura corporativa que apoie a diversidade e proporcione auxílio e acesso de forma consistente.

Pode parecer bobagem, mas o primeiro passo é sempre determinar o que você realmente quer, não importando onde está, quais as normas sociais ou o que você foi condicionado a acreditar que pode ter. O manifesto da minha empresa é: “Você deve acreditar em si mesmo e na sua visão. Ao fazer isso, você manifestará a vida que deseja.”

Oriento meus clientes nesse sentido para que eles entendam a importância de ter uma visão para suas carreiras e para que acreditem que dar vida a essa visão é absolutamente possível. Com uma visão clara, você pode fazer a engenharia reversa de um plano para dar vida a essa visão.

Para mim, manifestação não é simplesmente pensar no que você quer que aconteça, é agir todos os dias em apoio à visão que você definiu para si mesmo. Depois de saber exatamente onde deseja chegar na carreira, você poderá traçar um plano para alcançar seu objetivo.


SOBRE O AUTOR

Rafael Teixeira Farias tem mais de 14 anos de carreira em jornalismo e marketing digital, além de sete livros de ficção já publicados. saiba mais